XP cria área de 'sustainable wealth' e quer catequizar o investidor brasileiro

XP cria área de 'sustainable wealth' e quer catequizar o investidor brasileiro
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A XP investimentos acaba de criar uma área de “sustainable wealth”, se posicionando como a primeira instituição financeira brasileira a abrir uma frente específica para integrar os temas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) à gestão de patrimônio dos clientes.

Para encabeçar a novidade, convidou Marina Cançado, que já atuava como consultora independente de famílias ricas na construção de “portfólios com propósito” e em pouco tempo se tornou uma referência nessa área que ainda engatinha no Brasil, mas começa a ganhar tração.

Cançado chega como sócia da corretora e, segundo o chefe global do private bank da XP, Beny Podlubny, com muito espaço para trabalhar. “A Marina é a primeira da área, que está só começando. A área vai ser do tamanho do sonho dela. Vamos ajudar a construir”, diz Podlubny.

“Criei uma trajetória solo e essa independência foi importante para me tornar uma construtora desse ecossistema. Mas a XP demonstrou que tem espaço e eu poderei levar o trabalho a outra potência”, diz Cançado.

A ideia é que ela continue prestando consultoria de forma personalizada às famílias do topo da pirâmide do private da XP que desejarem um contato mais próximo. Hoje são seis mil famílias com investimentos de R$ 10 milhões para cima, entre aquelas atendidas diretamente pela XP e as que são clientes dos agentes autônomos.

Catequese ESG

Mas onde a coisa ganhará outra dimensão é no empacotamento do conteúdo produzido por Cançado e equipe para usar a capilaridade da corretora e disseminar a cartilha do investidor ESG. “A Marina sozinha tem uma escala. Imagina ela passando essa mensagem para 7 mil agentes autônomos. E isso reverbera.”

Essa catequização se dará por meio de webinars, cartas e, quando a pandemia deixar, também por meio de palestras e road shows presenciais. O evento focado em investimentos com impacto que Marina Cançado organizou no Rio em fevereiro, a Converge Capital Conference, deve ser repetido em 2021 com a marca XP.

A XP pretende ser proativa para ajudar a criar a consciência dos investimentos sustentáveis nos clientes. Podlubny conta que nota dois tipos de clientes no private: aquele que já está consciente de que quer um portfólio ESG e aquele que faz filantropia mas é agnóstico em seus investimentos.

“O grupo maior ainda é do investidor preocupado [com questões sociais e ambientais], mas que não conhece as consequências do que o seu dinheiro faz. É o investidor a ser conscientizado. Mas, dado que a gente vê essa demanda crescer de forma rápida, acho que em muito pouco tempo vai ser predominante”, diz Podlubny.

Marina Cançado vai atuar junto a Renato Folino, o diretor da área de wealth planning da XP. Ou seja, a ideia é incluir o ESG em todo o planejamento financeiro das famílias que desejarem. “Começamos ajudando a família a entender seus valores, seu legado e suas visões de futuro e a partir dessa temática podemos fazer uma análise de portfólio, e começar a buscar investimentos que ajudem a expressar essa visão de futuro”, explica.  

Fábrica de produtos

Cançado enxerga ainda uma outra vertente de seu trabalho, que é fomentar o surgimento de produtos ESG e de impacto social e ambiental positivo no Brasil. O sonho, diz, é no futuro ter fundos por temas: saneamento, saúde, educação. “É importante trazer esse olhar temático e não só por classe de ativos. Porque no fim das contas o impacto conecta as pessoas.”

Na prática, a possibilidade de criar um portfólio completo ESG e de impacto existe para os clientes que possuem recursos no exterior. Mas ela acredita que mesmo no Brasil já é possível dar alguns passos.

Ela cita como exemplos de produtos já disponíveis os fundos de ações ESG, títulos de dívida verdes, fundos de venture capital de impacto e até mesmo um ou outro fundo de private equity que já começou a se mexer. “É uma jornada. Não será da noite para o dia que uma família terá um portfólio com impacto positivo.”

Efeito BlackRock

Se o tema ESG vinha sendo tratado dentro de casa há mais tempo, a XP surpreendeu o mercado e “chegou chegando”. Nas últimas duas semanas, abraçou a agenda bem a seu estilo, fazendo anúncios em várias frentes ao mesmo tempo.

Primeiro, anunciou a construção de uma sede sustentável no interior paulista, próximo à capital. Na sequência, nomeou Marta Pinheiro diretora de ESG da casa, para atuar de forma transversal, tanto da XP como empresa, quanto nas áreas de produtos e serviços a clientes.

Depois, na semana passada, foi a vez de anunciar o lançamento de dois produtos ASG, um fundo de ETFs ESG negociados em Nova York, e um fundo de fundos, que vai estrear em julho, que comprará cotas inicialmente das carteiras ASG das gestoras JGP, Fama e Constellation.

Agora veio a criação da área de sustainable wealth.

O movimento está chamando a atenção do mercado, uma vez que a maioria dos bancos, assets e corretoras vinha trabalhando mais lentamente e com menos alarde. “Acho até que vamos influenciar os outros players do mercado financeiro”, diz Podlubny.

Fabio Alperowitch, sócio da Fama, uma das gestoras que integrará o fundo de fundos do supermercado financeiro, faz um paralelo entre o movimento da XP no Brasil e o posicionamento da gestora BlackRock nos Estados Unidos. Obviamente, guardadas as devidas proporções.

“Claro que ninguém se torna sustentável de uma hora para a outra, mas a BlackRock criou uma onda gigante que está fazendo todo mundo se mexer. Acho que o papel da XP no Brasil se assemelha ao deles.”