Vida Veg capta R$ 18 milhões com a X8 para escalar oferta de plant-based

Com foco inicialmente na cadeia de lácteos, startup mineira parte para o hambúrguer e já está presente em mais de 5 mil pontos de venda

Vida Veg capta R$ 18 milhões com a X8 para escalar oferta de plant-based
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A gestora de venture capital de impacto X8 Investimentos acaba de aportar R$ 18 milhões na Vida Veg, uma das principais startups brasileiras a ocupar o crescente mercado de alimentos à base de plantas. 

Com foco inicial em leite e derivados — como iogurte e leites vegetais, além de queijos e requeijão —, a foodtech tem hoje 30 itens na prateleira e avançou também para o segmento de substitutos para carnes, começando com hambúrgueres.

Além do cardápio variado, a companhia, que foi fundada em 2015 em Lavras (MG), se diferencia pela capilaridade: sua rede de distribuição engloba 5 mil pontos de venda, nos 26 Estados do país, incluindo grandes varejistas de alimentos, como o Grupo Pão de Açúcar. 

“Ainda temos muitas oportunidades em pesquisa e desenvolvimento. Nossa ideia é substituir tudo o que for possível com produtos à base de plantas, produtos de alto volume de vendas e que estão no dia-a-dia dos brasileiros”, diz Anderson Ricardo Rodrigues, fundador da Vida Veg e um dos seus quatro sócios.

Como exemplos de produtos que estão na esteira de inovação da empresa, ele cita um achocolatado, creme de leite e leite condensado. 

O segmento de plant-based, não é segredo, está quente no mundo todo. 

Há menos de um mês a chilena NotCo, que também tem um portfólio variado de produtos de base vegetal, se tornou a primeira foodtech da América Latina a se tornar um unicórnio, avaliada em US$ 1,5 bilhão, e colocou o Brasil como uma das suas prioridades.

Em maio, a sueca Oatly, de leite de aveia, estreou na Nasdaq avaliada em US$ 10 bi, multiplicando seu valor por cinco em apenas um ano. 

Por trás das cifras bilionárias, estão altas taxas de crescimento. E a expectativa é que aqui não seja diferente. “Nos Estados Unidos, os leites vegetais já respondem por 17% do mercado. Aqui no Brasil é apenas 1,5%”, compara Rodrigues.

Por ora, os concorrentes da Vida Veg no Brasil têm portfólios de produtos mais segmentados. A Fazenda Futuro, por exemplo, atua em carne, enquanto A Tal da Castanha e a Nude estão em leites vegetais. 

O empresário não revela qual o faturamento da empresa, mas diz que a receita neste ano vai dobrar em relação a 2020 e que a projeção é multiplicá-la por dez até 2025.

O dinheiro da X8 vai para P&D, mas também para aumento dos pontos de venda, inclusive com exportação, e ampliação da capacidade e modernização da fábrica própria, inaugurada no ano passado, em Lavras. “Hoje temos capacidade para atender o que prevemos de vendas até 2023”, diz Rodrigues. Na distribuição, a projeção é atingir 20 mil pontos de venda até 2025.

Esse é o segundo investimento da X8, que recentemente fechou a primeira tranche de captação de seu fundo de estreia

Da porta do rodeio para a fábrica

Vegano, dez anos atrás Rodrigues era um ativista da defesa do bem-estar animal e chegou a “gritar em porta de rodeios” na sua cidade natal. A ideia de criar a Vida Veg surgiu da sua experiência pessoal.  

“Dez anos atrás não existia nada vegano nos supermercados”, diz ele. 

A dissertação do mestrado concluído em 2011, na Universidade de Lavras, foi sobre o comportamento do consumidor vegetariano e vegano e ajudou a construir a tese para fundar a Vida Veg, alguns anos depois.

Mas ele e os sócios, alguns com experiência técnica na indústria de lácteos e contatos nas redes de supermercados, logo entenderam que o potencial mercado para os produtos começava a extrapolar o nicho do público vegano e vegetariano.

As gerações mais novas, diz Rodrigues, estão preocupadas com a sustentabilidade ambiental. Existem ainda aqueles que são intolerantes à lactose, e, cada vez mais, pessoas que desejam reduzir o seu consumo de carne, os chamados ‘flexitarianos’.

“Mas para a troca de produto acontecer, precisa de sabor, tem que ser tão ou mais gostoso que o produto de base animal”, diz ele.

Outro fator para ampliar o consumo do plant-based é o preço. Nesse quesito, a empresa tem conseguido fazer seus preços convergirem em alguns casos, como o do iogurte proteico.

Uma das dificuldades ainda é com o leite. Um litro do leite da Vida Veg custa o dobro ou mais do que o leite de vaca. E ele cita dois fatores principais nessa equação. Primeiro o fato de a tributação da cadeia do leite ter subsídios, enquanto o leite vegetal não tem legislação específica.

O outro aspecto é o desenvolvimento de fornecedores domésticos para alguns dos insumos usados, como o creme de coco que vai nos leites e iogurtes e é importado da Ásia.

Alinhamento e impacto

Além de sentar no conselho da empresa, a X8 ajudará a definir o CFO. 

Rodrigues diz que, antes de fechar com a X8, ele e os sócios conversaram com mais de dez fundos. “Não era qualquer um que iríamos aceitar como sócios. Queríamos um alinhamento grande com o que fazemos”, diz.

O empreendedor conheceu Carlos Miranda, sócio da X8, numa mentoria de ‘scale up’ da Endeavor. Miranda diz que foi rapidamente fisgado pela tese da empresa e pela qualidade dos empreendedores e que a ideia é levar a Vida Veg para o ‘estado da arte em impacto’, usando o ferramental do fundo Capria, de Seattle, investidor da gestora. 

Hoje a Vida Veg já tem algumas métricas de impacto ambiental. Mede, por exemplo, quanto foi economizado de água, de uso de terra e de emissão de CO2 e quantas vidas animais foram preservadas na comparação com o mesmo volume de produtos de origem animal. Além, também, da quantidade de plástico e papelão reciclados — que são compensados por meio da compra de créditos de reciclagem da Eureciclo.

Apesar dessa preocupação, a Vida Veg ainda tem trabalho a fazer em relação a suas práticas sociais e ambientais. Hoje, a companhia submete seus fornecedores a um questionário socioambiental, mas o escrutínio para por aí. “Tem muita oportunidade de melhoria ainda”, diz Rodrigues.

Muito se tem discutido também sobre a saudabilidade dos alimentos à base de planta que, no final das contas, são processados. “Lógico que seria muito melhor para as pessoas, se elas tivessem tempo, comprar seu coco, sua amêndoa no supermercado e fazer o seu leite vegetal caseiro. Mas esse leite ainda iria estragar em poucos dias”, pondera Rodrigues. “O que a gente tenta fazer é entregar praticidade e nutrição.”