Vegana e sustentável, Insecta Shoes aposta que o fast fashion saiu de moda

Marca de calçados quer captar R$ 2 milhões e conquistar consumidores do varejo tradicional

Vegana e sustentável, Insecta Shoes aposta que o fast fashion saiu de moda
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Depois de cair nas graças de famosos como a chef e apresentadora Bela Gil e o ator Antônio Fagundes, a marca de sapatos veganos e de apelo sustentável Insecta Shoes quer furar a bolha do público mais alternativo ou preocupado com a pegada ambiental dos produtos e ser uma opção para clientes de lojas do varejo tradicional.

A marca registrada dos seus pisantes são as estampas variadas e únicas. Criada em 2014 pela administradora Barbara Mattivy, a empresa tem em seu portfólio calçados produzidos a partir de tecidos de roupas de brechó, Piñatex (um couro feito com folhas de abacaxi), além de garrafas PET e algodão reciclados. 

Neste ano, a Insecta deve crescer seu faturamento em quase 50%, para R$ 6 milhões, e está na rua com uma captação no valor de R$ 2 milhões numa plataforma de equity crowdfunding. O plano é investir majoritariamente em marketing digital e desenvolvimento de novos produtos.

“Queremos ser não só uma empresa de calçados sustentáveis, mas também de inovação”, diz Mattivy, que é co-CEO da marca.

Por inovação, ela entende garimpar novos materiais, como alternativas ao couro animal, e oferecer ao mercado produtos não só sustentáveis, mas também bonitos e confortáveis.

Nativa digital, até agora suas vendas se apoiam no e-commerce próprio. Para ampliar a exposição e o poder de distribuição, a ideia é testar a venda em grandes marketplaces de moda. Além de reforçar uma estratégia de criar produtos em colaboração com varejistas como Farm e Renner, transformando seus estoques de tecido e de roupas em calçados.

Investimento coletivo

Esta é a segunda captação da Insecta, que em 2018 recebeu R$ 250 mil de investidores anjo da Badger, um fundo da Heartman House Consultoria, com forte experiência no varejo.

Desta vez, a marca de calçados optou pelo crowdfunding porque entende que o modelo é mais colaborativo. A captação está sendo feita por meio da Platta, plataforma de captação coletiva voltada exclusivamente a empresas com impacto socioambiental.

“Nos chamou a atenção a velocidade de crescimento da Insecta, o fato de estar em um mercado em rápida expansão e estar preocupada com a redução do impacto socioambiental, desde o desenvolvimento do produto até a fabricação”, diz Rachel Sampaio de Andrade, uma das sócias da Platta.

O cheque mínimo na rodada é de R$ 15 mil. Os investidores podem ser pessoas físicas ou jurídicas e todo o processo, do investimento ao acompanhamento dos resultados no futuro, é mediado pela plataforma.

Dos R$ 2 milhões pretendidos, mais da metade serão aplicados em marketing e reconhecimento de marca, o que será feito por meio de ações com influencers e mídia paga. Outra parte vai para o desenvolvimento de produtos e melhoria da experiência dos consumidores nos canais de vendas. A expectativa é criar, além de novos modelos de calçados, roupas e outros acessórios que tenham o mesmo DNA de sustentabilidade da marca.

Embora o foco seja o comércio eletrônico, a marca tem duas lojas físicas em São Paulo que funcionam como espaços de experiência para o consumidor conhecer e provar os produtos. Com a rodada, a ideia é chegar a Minas Gerais, Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba.

Enxuta e sem desperdícios

A Insecta se coloca como uma alternativa sustentável em uma indústria altamente poluente.

A cada segundo, um caminhão de roupas é enviado a aterros sanitários ou à incineração em todo o mundo, de acordo com o estudo da “New Textiles Economy”, publicado pela Fundação Ellen MacArthur, especializada em economia circular.

Só na região do Brás, em São Paulo, o relatório “Fios da Moda”, do Instituto Modefica em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e a consultoria da Regenerate Fashion, mostra que são descartadas 45 toneladas de lixo têxtil diariamente.

Diferentemente das grandes marcas, o modelo de negócio da Insecta é de estoque reduzido, para evitar desperdício e a necessidade de grandes liquidações.

O processo de desenvolvimento do produto também é diferente. “As grandes marcas criam os produtos a partir das tendências da passarela. A gente pesquisa com os nossos clientes e fãs da marca para entender quais são as suas reais necessidades de consumo”, disse Pedro Barros, co-CEO da empresa, que chegou da gigante de varejo online B2W em agosto, em apresentação para investidores.

Os produtos mais procurados têm estoque para 15 dias — e não de 90 como costuma fazer o grande varejo. Os lançamentos só são encomendados na fábrica, localizada no Rio Grande do Sul, quando o cliente confirma a compra no site. “Assim, a gente tem um estoque mais assertivo”, afirmou o co-CEO.

A empresa garante que o prazo entre a produção e a postagem é de até 10 dias úteis.

Cerca de 80% dos componentes dos sapatos são feitos de material reciclado ou reaproveitado. As solas são de borracha reciclada, as palmilhas vêm de sobras de tecidos da produção da própria Insecta ou da reciclagem de calçados usados e o cabedal (a parte superior e mais visível do sapato) é feito de roupas usadas, garrafas PET e algodão reciclado.

A empresa ainda adota um sistema para estimular a logística reversa, em que os clientes podem devolver o calçado usado na loja física ou enviar pelos correios e, em troca, ganham R$ 50 de desconto na compra de um novo. 

Do brechó para os pés

A Insecta surgiu em 2014, quando Bárbara, que tinha um brechó on-line, resolveu se juntar a MAG-P Shoes, que produzia calçados com excessos de couro da indústria, para criar produtos a partir do estoque de roupas que estava parado.

“Decidimos transformar roupas em sapatos. Isso nunca tinha sido feito antes e o resultado foi tão inovador que criamos uma nova marca”, conta Mattivy .

Para tirar a ideia do papel e produzir os cem primeiros pares, o investimento inicial foi de R$ 20 mil. Hoje, a empresa está avaliada em R$ 19 milhões.

Em 2020, a empresa faturou R$ 4,4 milhões em vendas nacionais. A previsão é que esse número chegue a R$ 6 milhões em 2021 e escale para R$ 14 milhões em 2022 e R$ 35 milhões em 2023.