Transição verde será prioridade número 1 do BNDES, diz CFO

Banco estuda a criação de um fundo para comprar títulos de dívida ESG e fomentar esse mercado

Imagem mostra letreiro na fachada do BNDES com o nome do banco em dourado
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A transição para uma economia mais verde será a prioridade número 1 do BNDES, afirmou o CFO Alexandre Abreu em evento ontem no Credit Suisse. Recém empossado, ele listou ainda outros três focos de atuação: privilegiar micro, pequenas e médias empresas, incentivar a reindustrialização do país e atuar em projetos de infraestrutura. 

“Temos grandes desafios na transição energética para uma economia verde. Acho que esse é o principal ponto. É onde o mundo olha para o Brasil”, disse o executivo, acrescentando que vê uma possibilidade “enorme” de o país atrair recursos para a indústria focada nesse modelo de desenvolvimento. 

Também presente no evento, a diretora de mercado de capitais do banco, Natalia Dias, disse já ser possível identificar uma janela no mercado para captações externas específicas para o financiamento de projetos alinhados a questões ambientais e sociais. 

E afirmou que o BNDES pode ter um fundo específico para fomentar o mercado de títulos de dívida com metas de sustentabilidade. 

“Tenho conversado não só com organizações multilaterais, mas também avaliado com alguns institutos laterais a possibilidade de um fundo para comprar sustainability-linked bonds para gente fomentar esse mercado”, afirmou Dias. 

Os SLBs, como são conhecidos, são títulos de dívida que permitem que empresas usem livremente os recursos, sem um destino específico, com taxas mais baixas, desde que cumpram metas ambientais e sociais em determinado período. 

A executiva disse ainda que está estruturando um programa de financiamento voltado para iniciativas do empreendedorismo negro e que, nos encontros com representantes dos governos da Alemanha e da França na última segunda-feira, foi debatido um fundo específico para empreendedorismo feminino.

Net zero 

Segundo ela, as pautas ambientais e sociais devem ser transversais no banco, com os critérios perpassando todos os departamentos.

Um dos objetivos é pensar como descarbonizar o balanço do banco. A gestão anterior deixou um compromisso de zerar as emissões da carteira de crédito, com algumas diretrizes.

“Queremos trazer o que tem de mais avançado lá fora, [entender] qual é a trajetória de carbono do balanço do banco para direcionarmos todas as ações no caminho correto”, afirmou Dias ao Reset

Já atuando na compra de crédito de carbono para fomentar o mercado, o BNDES também vislumbra a possibilidade de atuar como vendedor desses ativos. “O próximo desafio é entender quanto nossos investimentos em projetos específicos vão gerar de créditos [de carbono] para poder atuar também na ponta vendedora.”

Preenchendo lacunas

A uma plateia formada principalmente por gestores de recursos e empresários, o CFO do BNDES afirmou ainda que o banco não vai recorrer a recursos do Tesouro Nacional para subsidiar operações de crédito, como aconteceu na última passagem do PT pelo governo. 

A ideia é preencher lacunas onde o mercado ainda não atua ou “não se resolve sozinho”. “Não vamos competir com o mercado, mas sim cooperar”, ressaltou. 

Segundo ela, a área de mercado de capitais deve ser mais atuante no mercado de dívida, que carece de liquidez, e não apenas no de ações.

O papel do banco de forma geral, segundo os diretores, será o de indutor de investimentos, para alavancar recursos do setor privado e provocar um efeito multiplicador.