Tesouraria da Hering comprou ações da empresa antes da venda do controle

Compras começaram antes da divulgação da oferta da Arezzo e foram até quatro dias antes do fechamento da venda ao grupo Soma; empresa cita programa de recompra

Tesouraria da Hering comprou ações da empresa antes da venda do controle
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(Publicada em 10/05 às 21h e atualizada em 11/05 às 09h23)

No período que antecedeu a venda do controle da empresa, a tesouraria da Cia. Hering executou sucessivas compras de ações da própria empresa, num total de pouco mais de R$ 60 milhões.

As seis ordens de compra, todas executadas pela corretora do Credit Suisse, começaram a ser dadas no dia 12 de abril e se estenderam até o dia 22.

As informações constam em documento regulatório arquivado no último dia 5 na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Consultada, a companhia diz que a movimentação faz parte de um programa de recompra de ações aprovado em agosto.

No dia 14 de abril a companhia divulgou comunicado de fato relevante informando ao mercado que o conselho havia rejeitado proposta de compra colocada pela Arezzo. 

No dia 26, a empresa finalmente informou que o conselho havia chegado em acordo para venda do controle ao grupo Soma, dono de marcas como Farm e Animale, avaliando a Hering em mais de R$ 5 bilhões.

A notícia de que a oferta da Arezzo havia sido rejeitada porque os controladores consideraram o preço de R$ 3,2 bilhões, ou R$ 20 por ação, muito baixo fizeram as ações da Hering saltar logo de cara, no dia 14, iniciando uma escalada que prosseguiu. 

No dia 26, com a notícia de que o negócio estava selado, o papel saltou 26,19% e fechou a R$ 28,62, quase a mesma cotação do fechamento desta segunda (R$ 28,70).

O preço pago nas compras das ON pela tesouraria variaram de R$ 16,77 a R$ 23,05, entre os dias 12 e 22 de abril.

Tomando como base o preço de fechamento de hoje, as ações compradas no período valem R$ 84 milhões e o ganho da empresa com a compra chega a R$ 22 milhões.

Seria um caso de insider trading ou uma estratégia de defesa diante de uma oferta hostil?

Empresas de posse de informação privilegiada devem se abster de negociar com suas ações.

Segundo uma pessoa próxima à empresa, as compras teriam sido parte da estratégia de defesa da companhia contra a oferta hostil recebida da Arezzo.

Consultada, a Hering atribuiu as compras ao programa de recompra de ações aberto em agosto de 2020.

“A informação consta do próprio Comunicado ao Mercado de 14 de abril, quando da rejeição da oferta não solicitada de Arezzo”, informou um porta-voz em nota. “Naquele momento, 14 de abril, não existia uma oferta de Soma. A partir do momento em que passou a negociar com o Grupo Soma a companhia não executou nenhuma compra de ação dentro do programa”, completou.

Nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2021 a companhia não havia comprado ações no mercado e em dez dias a companhia executou a maior parte do programa de recompra aprovado.