Tesla cresce menos que o esperado e ação despenca: acabou a festa?

Com aumento da concorrência e um CEO distraído, pioneira dos carros elétricos começa ano desafiador e com os investidores desconfiados

Robôs montam carro em fábrica da Tesla
A A
A A

O primeiro pregão de 2023 da Tesla manteve a trajetória dos últimos do ano passado: queda vertiginosa. Na metade do dia, as ações da montadora caíam quase 10%.

Desta vez, o motivo foi uma promessa não-cumprida de seu fundador. Elon Musk havia previsto crescimento de 50% ao ano no futuro próximo, mas já na primeira oportunidade frustrou os investidores.

A Tesla informou ontem que entregou 1,31 milhão de novos veículos em 2022 – um crescimento de 40% em relação ao ano anterior, abaixo do 1,4 milhão de unidades (ou mais) que eram esperadas.

A produção chegou perto da conta de Musk: aumentou 47% na mesma base de comparação. Mas muitos carros estão parados no estoque. No quarto trimestre, a empresa produziu 439 mil veículos e vendeu 405 mil. A conta decepcionou os operadores, que esperavam vendas de mais de 420 mil veículos, segundo média dos analistas consultados pela Bloomberg.

As perdas do primeiro dia de negociações do ano se somam a uma queda acumulada nas ações de 65% no ano passado, que já tinham resultado numa queda de mais de US$ 200 bilhões na fortuna de Musk, reportou a Bloomberg

Desafios globais 

A Tesla entra em 2023 carregando vários dos desafios do ano anterior. 

No lado da oferta, a empresa continua sofrendo interrupções na produção de sua maior fábrica, em Xangai, apesar do relaxamento recente da rígida política zero Covid do governo chinês. A planta parou na semana do Natal, antes da pausa prevista para janeiro. 

Mas o temor dos investidores agora parece estar do lado da demanda. O cenário macroeconômico é desafiador, com taxas básicas de juros elevadas nas maiores economias – os principais mercados da montadora. Um terço da economia mundial deve entrar em recessão, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Além disso, a competição está cada vez mais acirrada. A Tesla inaugurou a massificação dos carros movidos a eletricidade, mas as montadoras tradicionais estão fazendo investimentos de dezenas de bilhões de dólares para recuperar terreno.

Uma nota da Bernstein Research sugere que a empresa pode ser obrigada a cortar os preços em até US$ 4.500 para fazer frente a modelos mais em conta dos concorrentes. Os modelos da Tesla ainda se posicionam como carros de luxo.

Risco Musk

Um dos riscos mais difíceis de quantificar diz respeito ao fundador e CEO da montadora. Desde outubro, quando foi concluída a negociação de compra do Twitter, Musk parece dedicar-se exclusivamente à rede social.

O CEO “precisa navegar a empresa por essa macro tempestade categoria 5 em vez de focar em seu novo menino dos olhos, Twitter”, escreveu um analista da gestora americana Wedbush.

Ao que tudo indica, Musk vai continuar dedicando boa parte de seu tempo ao seu experimento no equilíbrio entre controle e  liberdade de expressão.

Na manhã desta terça-feira, a Reuters noticiou que Tom Zhu, responsável pelas operações da Tesla na China, também será responsável pelas fábricas e pelas operações de venda da empresa nos Estados Unidos e na Europa (a exceção é a planta recém-inaugurada na Alemanha).

Nascido na China, detentor de cidadania neozelandesa e dono de um MBA da universidade americana Duke, Zhu será na prática o número 2 da Tesla, embora seu cargo continue sendo VP para a China e Ásia, de acordo com a Reuters. 

A empresa não se pronunciou sobre a promoção. Para sua audiência de mais de 124 milhões de seguidores, Musk vem passando os últimos dias protestando contra as regras do subsídio para carros elétricos incluído no megapacote ambiental de Joe Biden e discutindo novas funcionalidades para o Twitter.

Em uma de suas raras postagens sobre o estado da companhia, ele afirmou na sexta-feira passada que “os fundamentos de longo prazo são extremamente fortes. A loucura de curto prazo do mercado é imprevisível”.