Tesla anuncia lucro recorde de US$ 5,5 bi e promete mais crescimento

Enquanto a indústria automotiva sofre com falta de chips, modelo vertical de Elon Musk garante à empresa a melhor performance de sua história

Showroom da Tesla nos Estados Unidos
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A Tesla anunciou um lucro recorde de US$ 5,5 bilhões, com faturamento de US$ 53,8 bilhões, no ano passado. Foi um aumento expressivo em relação aos números de 2020, quando a empresa teve faturamento de US$ 31,5 bilhões e lucro de US$ 721 milhões.

É apenas a segunda vez que a empresa dá lucro anual desde sua fundação, em 2008.

Com um modelo de negócios mais verticalizado e DNA digital, a companhia entregou resultados enquanto o resto da indústria sofria com a falta de chips e problemas de cadeia de suprimentos.

O apelo dos carros elétricos também ajudou a empresa. Com a demanda em alta pela nova tecnologia, a Tesla consegue continuar cobrando um prêmio considerável de quem quer o privilégio de dirigir um carro sem emissões de CO2.

Além de ter largado na frente na eletrificação, a Tesla tem outra vantagem importante sobre as montadoras tradicionais. No relatório apresentado na tarde desta quarta-feira, a empresa afirma que manufatura é sua “competência central e crítica”.

A empresa fundada por Elon Musk tem a fábrica de carros mais eficiente dos Estados Unidos. Uma análise da Bloomberg que envolveu mais de 70 plantas indicou que a unidade da empresa em Fremont, na Califórnia, produziu 8.550 carros por semana.

Foi mais que as unidades da Toyota (8.427 carros/semana), da BMW (8.343) e da Ford (8.343). Em meio à falta global de chips, que afetou toda a indústria, a Tesla aumentou sua produção em 83% em comparação com 2020.

Ainda no primeiro semestre, a empresa deve inaugurar mais duas unidades: uma na região de Berlim, na Alemanha, e outra em Austin, no Texas.

A fábrica californiana foi construída pela GM nos anos 1960 e mais tarde foi operada em conjunto com a Toyota. A planta de Austin, erguida do zero, foi projetada pensando em carros elétricos.

A prioridade da companhia em 2022, diz o analista Dan Levy, do Credit Suisse, será tirar ainda mais produtividade de suas plantas. Esses ganhos serão essenciais para cumprir a meta anunciada de Musk de crescer as vendas em 50% no horizonte próximo – e provavelmente novas plantas terão de ser construídas.

Apesar de navegar com sucesso a crise de abastecimento, a empresa anunciou que nenhum novo modelo será lançado este ano. A prioridade será aumentar a produção dos carros em oferta hoje.

Havia a expectativa de que Musk anunciasse novidades a respeito da picape elétrica Cybertruck, que parece saída de um filme de ficção científica. Um modelo “popular” prometido pelo CEO, que custaria em torno de US$ 25 mil, também terá de esperar.

“Se o preço dos nossos carros não mudasse nada, ainda assim venderíamos tudo o que conseguíssemos fabricar’, afirmou Musk na conferência de anúncio dos resultados.

A reação de Detroit

Com a previsão de vender 1,5 milhão de carros este ano, a vantagem da Tesla não parece ameaçada no futuro próximo. Mas lançamentos da Ford e da GM que vêm por aí são considerados o primeiro passo sério das montadoras centenárias de Detroit no mundo da eletricidade.

A Ford começa a entregar este ano as primeiras F-150 Lightning, versão elétrica da picape F-150 – há mais de 40 anos o carro mais vendido no mercado americano.

Segundo a companhia, mais de 200 mil clientes entraram na fila para comprar o novo modelo. Embora a reserva não signifique compromisso de compra, o número foi considerado alto pelos analistas: em 2020, a Ford vendeu 787 mil unidades da F-150 a gasolina.

A produção começa em junho, e a expectativa é que as primeiras entregas aconteçam por volta de setembro. A companhia espera produzir até 150 mil picapes por ano.

Essa velocidade só será possível porque a Ford decidiu adaptar o modelo a combustão. Isso vai permitir usar muitas das mesmas peças e linhas de montagem.

Já a GM optou por desenvolver do zero a versão elétrica da Silverado, atualizando o design e desenvolvendo um sistema de baterias internamente – o plano é aproveitar a tecnologia em outros modelos.

A Silverado elétrica só começa a ser vendida no primeiro trimestre de 2023. A aposta da companhia é que os clientes estejam dispostos a esperar um pouco mais por uma picape com 30% mais de autonomia.

Embora não sejam o maior mercado de carros, as picapes têm importância especial nos Estados Unidos, em vendas e também em imagem.

Carro autônomo

Musk também prometeu “resolver” o problema dos carros autônomos: “Ficaria chocado se não tivermos carros autônomos mais seguros [que os dirigidos por] humanos este ano”.

Não é a primeira vez que ele dá declarações neste sentido, mas na indústria poucos acreditam que a tecnologia esteja tão perto de estrear nas ruas – sem contar as implicações regulatórias e legais ainda no ar.

Mas a Tesla aposta que a venda desse tipo de software será parte importante das receitas no futuro. Hoje, a empresa já vende um pacote que permite que o motorista entregue o controle do carro ao computador (mas sempre no banco do motorista e pronto para assumir o controle caso haja algum problema).

O software é capaz de mudar de faixa na estrada, ajuda a estacionar e freia quando o semáforo fica vermelho. A assinatura mensal custa US$ 199 dólares, e também há a opção de comprar uma licença, por US$ 10 mil.