Startup traz minério de ferro para a corrida das baterias — e atrai a ArcelorMittal

Form Energy quer solucionar a questão do armazenamento de energia renováveis com o uso de um minério bem mais barato e abundante que o lítio

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Diversos minerais têm aparecido na corrida por baterias capazes de abastecer um mundo cada vez mais eletrificado. 

Agora, uma solução desenvolvida por uma startup americana fundada há quatro anos e que conta com investimentos do fundo climático de Bill Gates e de Jeff Bezos pode estar trazendo uma commodity abundante e improvável para o jogo: o minério de ferro. 

Após anos de pesquisa a portas fechadas, a Form Energy anunciou ontem que chegou a um modelo comercial de bateria baseado em minério de ferro, capaz de descarregar energia por dias e a um preço que, segundo os fundadores, chega a um décimo do preço das baterias mais comuns, as de lítio.  

A ideia é escalar a tecnologia, tirando-a dos protótipos do laboratório e provar que ela funciona na vida real.

 

Num mercado em que soluções aparentemente promissoras não raro acabam morrendo na praia — ou se convertendo em falência –, um tanto de ceticismo é sempre bem vindo. 

Mas a Form trouxe um novo sócio de peso para sua empreitada: a ArcelorMittal, uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo está encabeçando uma nova rodada de investimento de US$ 200 milhões. 

Até aqui, a Form já havia captado cerca de US$ 125 milhões com outros investidores, incluindo também a holding de investimentos Temasek, de Cingapura. 

Muito pesada para abastecer carros elétricos, a bateria da Form pode representar um ponto de inflexão para um dos principais problemas envolvendo a energia renovável: armazenar grandes quantidades de energia para abastecer o grid quando o sol não brilha ou o vento não sopra. 

Hoje, os sistemas elétricos dependem de combustíveis fósseis como o gás natural e o carvão para resolver o problema da intermitência — garantindo energia de forma confiável e com preços acessíveis especialmente em picos de demanda.

As baterias de íon-lítio vêm sendo usadas por empresas do setor elétrico, conseguem armazenar energia para períodos mais curtos, de quatro a seis horas, e até são capazes de acomodar algumas flutuações de oferta de energia, mas sem garantir a necessária confiabilidade do sistema. 

Diversas soluções vêm emergindo na busca por soluções para a intermitência: do hidrogênio verde a baterias de bombas de água pressurizada (que lembram pequenas barragens de hidrelétricas), até tecnologias de captura de carbono que, em tese, poderiam tornar as térmicas fósseis menos poluentes. 

A questão é qual delas vai conseguir ser competitiva em preço. 

Nos Estados Unidos, reduzir o preço das baterias virou missão de Estado, já que a administração de Joe Biden tem a meta ousada de descarbonizar o setor elétrico até 2035. O Departamento de Energia do país já anunciou que tem como meta fomentar iniciativas para reduzir em até 90% o custo de armazenamento representado hoje pelas baterias de lítio.

Um estudo recente estima que os custos precisam cair abaixo de US$ 50 por kilowatt-hora antes que as utilities comecem a usar as baterias de longa duração de forma mais ampla. E esse custo de armazenagem tem que cair para algo em torno de US$ 1 a US$ 10 por kilowatt-hora antes de se tornar a solução dominante. 

Em entrevista ao The Wall Street Journal, um dos fundadores da Form, Mateo Jaramillo, afirma que o custo de armazenamento por célula é de cerca de US$ 6 por Kwh.  Um sistema completo de diversas baterias para garantir o abastecimento por mais de 100 horas sairia por algo em torno de US$ 20 por KwH, diz ele. 

Um ex-executivo da Tesla, onde trabalhou por cerca de sete anos desenvolvendo baterias, Jaramillo se juntou a Yet-Ming Chiang, um professor do MIT que cofundou a A123 Systems, uma pioneira das baterias de lítio, e vem pesquisando soluções para armazenamento de energia de longo duração há quase 10 anos. 

Em linhas gerais, o funcionamento da bateria é simples. Ela é composta por células recheadas com milhares de pequenos pellets de ferro que enferrujam quando expostas ao ar. Quando o oxigênio é removido, a ferrugem se converte em ferro. Ao controlar o processo, a bateria é carregada ou descarregada.

Com o objetivo de buscar formas baratas de armazenar energia, os cientistas da Form começaram trabalhando de forma agnóstica, com várias combinações: enxofre-ferro, enxofre-ar, enxofre-manganês e ferro-ar — e a última alternativa foi a que se mostrou mais promissora. 

O próximo passo da companhia agora é colocar um piloto em larga escala de pé até 2023, num projeto já fechado com uma geradora de energia que atua em Minnesota. Jaramillo diz que o plano é ter “baterias de ferro capazes de armazenagem de energia de longa duração a custo acessível a partir de 2025”.

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