Sob pressão dos acionistas, Unilever anuncia troca de CEO

Alan Jope fica no cargo até o fim de 2023; investidores dizem que a gigante precisa voltar a crescer

Imagem de uma lupa sobre o logotipo da Unilever
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O CEO da Unilever, Alan Jope, vai deixar o cargo no final de 2023. A gigante dos bens de consumo está sob pressão dos investidores para voltar a crescer, e alguns descontentes afirmam que o foco excessivo em sustentabilidade é parte do problema.

A companhia anunciou na manhã de segunda-feira o início da procura do substituto de Jope. Quando sua gestão chegar ao final, ele terá comandado a empresa por cinco anos.

A tentativa fracassada de adquirir o braço de saúde do grupo GSK no final do ano passado, um negócio de quase US$ 70 bilhões, é apontada como um dos estopins da crise de confiança.

No início deste ano, grandes investidores começaram a se mobilizar publicamente contra Jope. Em carta aos clientes, o gestor britânico Terry Smith cunhou a frase que capturou um sentimento difuso em torno da onda ESG:

“Uma empresa que acha que tem de definir o propósito da maionese Hellman’s claramente está perdida. A marca existe desde 1913, então diríamos que a essa altura os consumidores já descobriram qual o propósito dela (alerta de spoiler – sanduíches e saladas).”

Em maio, o investidor ativista americano Nelson Peltz anunciou ter acumulado uma participação de 1,5% na companhia. Sem apontar o dedo especificamente para a sustentabilidade, ele afirmou que a Unilever estava desperdiçando um “potencial significativo” de crescimento.

Um analista do banco de investimentos Bernstein afirmou ao Financial Times que “pode-se ver um dedo da Trian” na notícia, em referência ao Trian Fund Management, fundo de Peltz.

A pressão externa já havia levado Peltz a anunciar uma reorganização da companhia, dona de marcas como o sabonete Dove, os temperos Knorr e os sorvetes Magnum.

O objetivo declarado é ganhar agilidade para responder às tendências globais de consumo, incluindo um foco maior em produtos de higiene, saúde e beleza.

Mas o aumento nos custos das commodities e a queda vertiginosa da libra esterlina nos últimos dias tornaram o ambiente mais desafiador para a companhia, cuja sede fica em Londres.

“O crescimento segue sendo nossa maior prioridade, e nos trimestres futuros vou manter-me inteiramente concentrado na execução disciplinada de nossa estratégia”, afirmou Jope em comunicado.

Paul Polman, que ocupou o cargo de CEO por dez anos antes de Jope e transformou a empresa num símbolo da responsabilidade socioambiental dos negócios, disse em entrevista recente ao Reset que as críticas dos investidores não eram justificadas.

“Não comento muito sobre a empresa, mas, mesmo no meu tempo, havia investidores que falavam: ‘Você investe demais em sustentabilidade’. E entregamos retorno de 300% para eles”, afirmou Polman.