Rizoma quer transformar agricultura em solução ambiental – e com escala

Rizoma quer transformar agricultura em solução ambiental – e com escala
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A agricultura é hoje uma das atividades que mais impacta o meio ambiente: é responsável por 23% das emissões de carbono no mundo, acelera a erosão do solo em cerca de 1000 vezes e é uma das maiores fontes de poluição de água. 


A Rizoma Agro quer transformá-la de problema em solução, por meio de técnicas de agricultura regenerativa que podem ser utilizadas em larga escala. 

“A base da agricultura regenerativa é reconstruir o solo e fazer toda a biodiversidade e fertilidade crescer de novo”, diz o fundador Pedro Paulo Diniz. “A agricultura, que tem hoje impacto ambiental negativo, pode ser uma potência em termos de regeneração do planeta”. 

Com mais matéria orgânica, o solo sequestra carbono: o CO2 passa pela planta e fica estocado. Nas contas da própria empresa, se 20% da agricultura mundial utilizasse técnicas como as da Rizoma, a atividade seria suficiente para sequestrar todo o carbono do planeta.

Ex-piloto de Fórmula 1, Diniz costuma dizer que já emitiu muito carbono na vida, mas há mais de uma década vem se dedicando à agricultura sustentável. 

A Fazenda da Toca, no interior de São Paulo, tornou-se referência internacional em cultivo orgânico e maior produtora de ovos orgânicos do país. A Rizoma surgiu há dois anos como um spin-off para replicar a experiência em larga escala. 

O projeto já tem dados animadores: no milho, o custo de produção é de 25% a 30% maior que na agricultura tradicional – um número que tende a cair conforme a atividade for ganhando escala. A produtividade é superior: 160 sacas por hectare, contra uma média de 120 no cultivo tradicional. A meta é chegar a 350 mil hectares de plantados no Brasil, em parceria com fazendeiros brasileiros. 

O modelo de negócio: a Rizoma dá a tecnologia de produção aos produtores, cuida da logística e do controle da qualidade e cobra um fee sobre a comercialização dos produtos. O fazendeiro se beneficia de uma eficiência maior no uso do solo e do prêmio que o mercado paga hoje sobre produtos que usam técnicas sustentáveis no cultivo.  

A taxa interna de retorno do projeto está na casa dos 20%, diz Diniz. Isso sem considerar uma possível venda dos chamados “serviços ecológicos”, como a venda de créditos de carbono – um mercado que, se ganhar tração, deve impulsionar os ganhos de empresas como a Rizoma. 

A Rizoma aplica uma série de tecnologias para fazer um melhor uso do solo. Um trator com GPS, por exemplo, tem uma precisão de menos de 1,5 centímetro, além de um cultivador trazido do exterior e adaptado para a lavoura brasileira que dá apoio ao cultivo do milho no pé. 

“A gente olha no mercado tudo que pode usar de tecnologia”, diz Diniz. “Pode parecer um absurdo para nossos colega orgânicos a gente jogar biodefensivos de avião ou helicóptero nas lavouras, mas é a melhor tecnologia e mais eficiente e é o que a gente faz”. 

Para ele, mais do que abdicar da tecnologia, o importante é entender de que forma a tecnologia entra no ciclo da natureza. “O ponto é entender como a natureza funciona sistematicamente para fazer a tecnologia ser parceira e não controlar a natureza”, diz. “A agricultura tradicional tem um viés de controlar a natureza e não entender como ela funciona para entrar nesse fluxo”.

E dá para alimentar o mundo com cultivos orgânicos? 

“Não tenho dúvida”, diz, citando uma pesquisa do Rodale Institute, que comparou a produção convencional e orgânica de milho e soja num período de 30 anos. A conclusão foi que a produção orgânica é igual ou melhor que a convencional. “Em períodos de muita seca ou muita chuva, cada vez mais frequentes em meio aos extremos da mudança climática, os orgânicos disparam na frente porque há mais vida no solo, maior capacidade de retenção de água e maior permeabilidade”.