Reino Unido quer multar grandes empresas que vendem produtos ligados a desmatamento

Legislação em estudo mira commodities como carne e soja, e adiciona pressão regulatória à demanda de consumidores por rastreabilidade

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Grandes empresas do Reino Unido poderão ser multadas se não provarem que os produtos vendidos não têm em sua cadeia de produção itens que vêm de áreas desmatadas ilegalmente.

A exigência deverá ser maior sobre commodities como carne, soja — do qual o Brasil é grande produtor –, além de cacau e borracha. 

O governo britânico está elaborando uma legislação específica para garantir a procedência dos produtos que estão nas prateleiras. Trata-se da primeira regulação desse tipo do mundo, o que acrescenta ainda mais pressão sobre os produtores de commodities para que adotem a rastreabilidade total da cadeia.

A proposta foi anunciada hoje, poucas semanas após a rede de supermercados britânica Tesco pressionar para que o governo obrigue empresas a rastrearem a origem de todo o alimento vendido. 

 

A rede vem sendo questionada pelo Greenpeace por ter entre fornecedores empresas que estariam ligadas ao desmatamento em países tropicais — entre elas, a JBS, acusada pela rede ativista de abater gado criado em área de desmate na Amazônia. 

O tamanho da multa e a lista de exigências a serem feitas no Reino Unido ainda não estão definidos. 

Mas o governo já adiantou que nem todos supermercados e empresas serão obrigados a monitorar os fornecedores. A ideia é mirar “poucos e grandes negócios”, e deixar de fora, ao menos num primeiro momento, os negócios de menor porte, que têm menos sofisticação para implementar essas medidas e menos impacto sistêmico que as grandes redes.

Apesar de a medida incentivar a rastreabilidade, o Greenpeace diz que ela é falha, pois se baseia no conceito de ilegalidade de acordo com as legislações locais dos países de origem — que muitas vezes podem ser ‘permissivas’. E usa como exemplo o Brasil. 

“Todos nós vemos a forma como o presidente [Jair] Bolsonaro tem estimulado a expansão da agricultura no Brasil às custas da floresta amazônica”, disse Elena Polisano, da Greenpeace UK ao Financial Times. 

A rede de ativistas reforça ainda que o efeito pode ser restrito, já que alguns produtores até têm uma linha “sustentável” voltada para certos clientes, mas continuam desmatando para atender outros menos exigentes.

Uma consulta pública junto a agentes do setor de supermercados e alimentos será feita ao longo das próximas seis semanas para definir os aspectos cruciais da legislação.

O desmatamento é responsável por 11% das emissões globais de CO2.

Segundo um relatório recente do WWF, para suprir a demanda do Reino Unido por carne, cacau, papel e celulose entre 2016 e 2018, foram necessários, por ano, 21,3 milhões de hectares de terra, o equivalente a 88% da área terrestre do Reino Unido. 

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