OPINIÃO: CO2, energia, florestas... quando vamos falar de equilíbrio social?

Precisamos integrar aspectos sociais à questão climática – e os investimentos de impacto têm muito a contribuir, escreve Gilberto Ribeiro, da Vox Capital

OPINIÃO: CO2, energia, florestas... quando vamos falar de equilíbrio social?
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Carbono, metano e redução de emissões com certeza estiveram entre os termos mais falados nas últimas semanas, em meio à COP 26. Mas os termos como ‘equilíbrio’ e ‘justiça social’ continuam faltando.

A pauta climática é sobretudo uma questão de justiça social — e essa discussão precisa ganhar escala. Temos que adotar uma visão holística para entender o efeito das soluções no longo prazo, tal como propõem as políticas econômicas mais modernas e o investimento de impacto.

Embora seja fácil apontar o dedo e dizer que deveria ter sido diferente, o fato é que o desenvolvimento dos países do norte se deu pela indústria movida a carvão e lenha retirados do solo e das florestas desmatadas há anos.

A China, nação emergente de maior destaque, tem replicado esse modelo de crescimento e em poucas décadas tornou-se uma das principais economias do mundo, além de uma das maiores nações vilãs do clima, como mostrou reportagem recente da Bloomberg.

Ou seja, para o planeta e para nós mesmos, esse modelo tradicional é insustentável e está fadado ao fracasso, como evidencia a própria existência da COP.

Hoje, além de desigualdade econômica e no acesso à tecnologia, há uma pressão por novos meios de produção e novas fórmulas de crescimento. E os países e empresas mais pobres que lutem para reinventar a roda do desenvolvimento, sem emissão de CO2 e com o uso de tecnologia que ainda lhes sai cara.

É justo? Claramente não.

Então, o que seria justo?

Novos vetores de crescimento 

Enquanto os países desenvolvidos têm capital, os emergentes têm mais áreas preservadas, e é neles que está o potencial de desenvolvimento de negócios e tecnologias que regeneram a natureza e estimulam  o equilíbrio socioambiental.

Sim, é justo que os esforços relacionados a preservação e regeneração sejam financiados pelos países ricos e industriais. A redução de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera beneficiará a todos, ricos e pobres, do Ocidente e do Oriente, e por isso os esforços nessa direção precisam ser combinados e em certa medida regulados, como prevê o Artigo 6 do Acordo de Paris.

E aqui vale celebrar o avanço nos acordos para mitigação e compensação das emissões de GEE entre os países realizado na reta final da COP 26.

A regulação global do mercado de carbono e do pagamento por serviços ambientais – como o da preservação, adaptação e regeneração, que naturalmente é feito por países com grandes áreas conservadas, como o Brasil – muda o balanço entre o mundo desenvolvido e o mundo emergente.

Mas preservação e regeneração só serão possíveis em grande escala e no longo prazo se forem acompanhadas de desenvolvimento econômico regional. Sim, isso é possível. O avanço gradual em tecnologias e as inovações nos modelos de negócios já permitem tal conciliação, como o ecossistema de impacto socioambiental tem acompanhado de perto.

Precisamos, porém, de um tripé: direcionamento de programas para uma economia verde, pesquisa e capital.

Novos vetores de desenvolvimento para uma economia verde não serão possíveis sem pesquisa e capital. E o capital sem uma diretriz embasada em pesquisas pode ser desperdiçado. Enquanto sociedade e em prol da justiça social, não é o que deveríamos querer.

Economia verde na prática

Mas, afinal, o que seria um programa de economia verde?

●  Matriz energética limpa ou neutra em carbono;

●  Infraestrutura verde — novos materiais e tecnologias para tornar elementos como aço e cimento neutros em carbono;

●  Agricultura de baixo carbono e proteínas alternativas, com novas tecnologias para fertilizantes e defensivos agrícolas, biotecnologia para cultivos adaptados a novos climas, e redução do impacto da proteína animal no clima;

●  Cidades sustentáveis, com novas formas de transporte de pessoas e bens, além de maneiras de aquecer ou resfriar ambientes.

Se na teoria o programa parece claro, na prática a execução ainda é complexa no Brasil e no mundo.

Governo, empresas, bancos

É dos governos a tarefa de formular políticas públicas que estimulem os novos vetores de crescimento, agora de uma economia verde e de baixo carbono. E cabe às empresas e ao setor financeiro o desenvolvimento e financiamento das tecnologias e inovações que tornarão essas políticas possíveis.

O caminho é cheio de desafios. No caso da energia, por exemplo, o setor de combustíveis fósseis tem subsídios, o que joga para baixo os preços cobrados do consumidor. Enquanto isso, a energia neutra em carbono depende de tecnologias ainda caras e dificilmente um subsídio na mesma proporção dos combustíveis fósseis poderá ser aplicado imediatamente.

Ou seja, se for feita agora, a transição integral para a energia neutra vai encarecer os produtos em grande escala. Há um risco inflacionário brutal e, de novo, uma questão de (in)justiça social.

Precisamos de uma ativa cooperação entre setores público e privado para combinar esforços e entender o momento certo de ajustar subsídios ou dar tração a um ou a outro tipo de desenvolvimento. É combinando planos, operações e expertises públicas e privadas que vamos alcançar a sustentabilidade econômica, social e ambiental necessária.

O investimento de impacto tem tudo para ser o parceiro-chave nesse processo, pois tem uma visão holística e de longo prazo, além de saber gerenciar o impacto das soluções.

Lembra dos termos ‘equilíbrio’ e ‘justiça social’ que trouxe no início do texto? Eles são chave para os novos vetores de crescimento econômico. Afinal, um planeta saudável não significa que as pessoas e a economia não sejam importantes.

*Gilberto Ribeiro é sócio e COO da Vox Capital.