O ‘carro voador’ da Embraer decola para a bolsa

Startup Eve anuncia fusão com SPAC para acelerar na corrida pelos eVTOLs

Modelo computadorizado do carro voador da Embraer
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A Eve, subsidiária da Embraer que vai produzir os ‘carros voadores’ conhecidos como eVTOLs, será listada na bolsa de Nova York, valendo mais de US$ 2 bilhões.

A companhia anunciou o fechamento da fusão com a SPAC Zanite. SPACs são empresas que primeiro abrem o capital em bolsa e depois vão em busca de um negócio para adquirir e, por isso, são chamadas de companhias de cheque em branco.

Com isso, a Eve pavimenta o caminho para seguir levantando capital e financiar sua expansão. Na largada, um grupo de investidores fará uma injeção privada de capital, levando o caixa da empresa a pouco mais de US$ 500 milhões.

O negócio também cristaliza uma guinada que a Embraer procura dar em seu negócio depois de ter sido deixada no altar pela americana Boeing um ano e oito meses atrás, justamente quando os efeitos negativos da pandemia sobre o setor aéreo entraram em cena.

As ações da Embraer na B3 subiam quase 15% duas horas depois do anúncio da fusão e listagem da Eve. A fabricante brasileira terá 82% da Eve e a estreia na bolsa deve acontecer no primeiro semestre do ano que vem.

O produto da Eve ainda não decolou – literalmente.

Os eVTOLs, uma espécie de helicóptero elétrico, são apontados como uma potencial revolução no transporte aéreo urbano.

O nome eVTOL é uma sigla: o ‘e’ indica que a aeronave é elétrica, e VTOL significa que ela decola e pousa verticalmente (vertical take-off and landing).

Além de não emitir CO2, essas novas aeronaves são mais silenciosas e mais baratas para operar que um helicóptero. Também são teoricamente mais seguras, pois contam com várias hélices e motores – não há um único ponto de falha.

A expectativa da Embraer, e de várias outras startups, é que haja muito mais eVTOLs cortando os céus das grandes cidades em comparação com os helicópteros.

Isso ainda vai demorar alguns anos. As primeiras aeronaves devem receber a certificação para voar comercialmente só em 2024 ou 2025. Mas isso parece não afetar o interesse dos clientes: a Eve já recebeu encomendas de 1.735 unidades, num valor de US$ 5,2 bilhões.

Um enxame de eVTOLs

Muitas empresas participam da corrida por um naco de um mercado que deve quase dobrar de tamanho até 2030, chegando a US$ 11,3 bilhões.

A França quer inaugurar a era dos ‘táxis voadores’ na Olimpíada de Paris, em 2024 – ‘pré-comercialmente’. A cidade inaugurou no final de novembro um centro de testes para eVTOLs.

Participam da iniciativa startups como as alemãs Volocopter e Lilium, a europeia Airbus Helicopters e a americana Joby Aviation.

A ideia inicial é criar três rotas: duas ligando a capital aos aeroportos Charles de Gaulle e Le Bourget e uma terceira entre heliportos nos subúrbios.

Os testes vão incluir a infra-estrutura de embarque e desembarque dos passageiros, as estações de recarga de baterias, a interação com os sistemas de tráfego aéreo e também o ruído gerado pelas aeronaves.

Nenhuma empresa já chegou à fase de voos experimentais com pessoas a bordo. A americana Archer Aviation divulgou ontem o vídeo do primeiro teste (via controle remoto) de sua aeronave Maker pairando sobre uma pista de pouso, na Califórnia.

A empresa, que também chegou à bolsa via fusão com uma SPAC, vale US$ 1,6 bilhão. O Maker foi apresentado pela primeira vez há somente seis meses.

Capital intelectual

A aposta da Eve, que nasceu dentro da aceleradora EmbraerX, é que a proximidade com uma das maiores fabricantes de aviões do mundo seja uma vantagem fundamental contra os concorrentes.

A startup poderá aproveitar a propriedade intelectual acumulada ao longo de décadas pela Embraer e terá “acesso a milhares de colaboradores qualificados e uso de uma infraestrutura global”, diz o comunicado da companhia.

Outra diferença importante está num pacote mais completo. Além dos eVTOLs, a Eve também vai oferecer serviços de suporte para a operação dos veículos e de gestão de tráfego aéreo.

A Eve será comandada por dois CEOs: Jerry DeMuro, ex-presidente da britânica do setor aeroespacial e defesa BAE Systems, e Andre Stein, que dirige a companhia desde sua criação e tem mais de 20 anos de experiência na Embraer.

Na fusão com a Zanite, também entrarão novos investidores estratégicos, como Azorra Aviation, BAE Systems, Bradesco BBI e Rolls-Royce, entre outros.