No IPO da Agrogalaxy, o agro é tech, o agro é pop — e quer mostrar que é sustentável

Empresa de revenda de insumos agrícolas tem meta para descontinuar venda de produtos perigosos e substituí-los por biológicos

No IPO da Agrogalaxy, o agro é tech, o agro é pop — e quer mostrar que é sustentável
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Integrante de um setor altamente visado em termos ambientais, a Agrogalaxy, que voltou a colocar seu IPO na rua esta semana, quer mostrar aos investidores que é capaz de puxar a agenda de sustentabilidade no campo, especialmente entre os médios e pequenos produtores. 

A plataforma de revenda de insumos agrícolas controlada pelo fundo de private equity Aqua Capital fez mais de 70% da sua receita de cerca de R$ 4,2 bilhões em 2020 com a venda de agroquímicos e fertilizantes. 

Mas criou uma lista de produtos que pretende descontinuar do portfólio, liberados no país, mas considerados perigosos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e vem trabalhando paulatinamente para substituí-los por produtos biológicos, que não agridem o meio ambiente. 

Em seu relatório de sustentabilidade, a companhia se comprometeu, por exemplo, a interromper a venda de produtos baseados no princípio ativo metomil até 2025. Trata-se de um inseticida utilizado contra lagartas e extremamente comum nas lavouras do Brasil. 

O produto foi escolhido por ter alta relevância em termos de volume de vendas e ter um substituto biológico a contento, afirmou a diretora de operações, Sheila Albuquerque, em conversa com o Reset no fim de maio. 

E por que não interromper as vendas imediatamente? 

“Se a gente falar que não vai vender, alguém vende e a mudança não acontece”, diz ela. “Normalmente, os químicos são mais baratos que as alternativas biológicas. Os biológicos entregam mais produtividade, mas é um trabalho de educação, porque só em preço, ele perde.”

A ideia é dar incentivos para a força de vendas dos biológicos (de maior valor agregado) para fomentar a adoção da alternativa. 

O caminho, no entanto, é longo. Em 2020, o segmento chamado de “especialidades” — onde se enquadra a categoria — respondeu por 6,2% do faturamento da empresa.

Com uma  rede de mais de 100 lojas formada a partir de aquisições em série por parte do Aqua Capital, a tese central da Agrogalaxy é de consolidação de um mercado tão pujante quanto pulverizado. 

Nos Estados Unidos, os cinco maiores players de revendas têm cerca de 60% do mercado, mas, por aqui, o market share dos top 5 não passa dos 5% — e a maioria dos 550 distribuidores está espalhada em pequenas redes regionais pelo país.  

Enquanto os grandes produtores são atendidos diretamente pela indústria de insumos, as distribuidoras como a Agrogalaxy atendem principalmente os produtores de médio e pequeno porte, que demandam mais assistência técnica para cuidar das lavouras.

A companhia tem uma agtech de agricultura de precisão, a GeoData, que permite, por meio de análise do solo e mapeamento satelital, ver o grau de fertilidade e qual a melhor recomendação de uso de produto.

“Temos um grupo de mais de 400 agrônomos de campo que vão até a área do agricultor, conhecem o solo, o que ele vai plantar e recomendam os melhores produtos e as melhores práticas”, disse o CEO Welles Pascoal ao Reset. “Com isso, a gente consegue produzir mais ao melhor custo. Não é preciso abrir novas áreas para continuar crescendo em produção.”

A Agrogalaxy quer também entrar numa agenda de impacto positivo, para ir além de mitigar os riscos ambientais associados ao agronegócio, e começa a molhar os pés na agricultura de baixo carbono. 

A companhia acaba de fundar o Instituto Agrogalaxy para conectar uma rede de produtores parceiros para testar protocolos de cultivo a serem desenvolvidos por startups e universidades. 

“Nossa intenção é ter os nossos próprios protocolos, nossas próprias provas para agricultura de baixo carbono e práticas regenerativas”, afirma Albuquerque. É o mesmo caminho seguido por grandes indústrias de insumos, como a Bayer, que está começando a testar práticas de baixo carbono — e avaliando o quanto de CO2 elas são capazes de reter no solo.

Fundada oficialmente como plataforma no fim de 2019 após uma série de aquisições, a Agrogalaxy já nasceu com comitê de sustentabilidade, coordenado pela conselheira Tarcila Ursini, especialista em práticas ESG. E também com relatório para prestar contas nos padrões do Global Reporting Initiative (GRI), algo que muita empresa veterana ainda não entrega. 

Além da pressão crescente por práticas sustentáveis, o movimento tem as digitais do Aqua. O fundo de US$ 650 milhões focado em alimentos e agronegócio tem 20% de capital europeu, com participação relevante também de investidores americanos, e tem a preocupação de prestar contas sobre fatores ambientais e sociais. 

A tendência de sustentabilidade no campo — e na mesa — também se reflete no portfólio. O Aqua controla a Biotrop, de insumos biológicos para agricultura, e tem participação na Puravida, marca de alimentos naturais e orgânicos. 

O IPO

A Agrogalaxy planejava uma oferta com distribuição pública no início do ano, mas acabou cancelando o IPO em março, quando a volatilidade afetou a demanda pelos papéis. 

Agora, para chegar à bolsa, reduziu as expectativas. 

A ideia é levantar cerca de R$ 400 milhões numa oferta totalmente primária, em que os recursos vão para o caixa da companhia. No desenho original, a companhia pretendia levantar pelo menos R$ 1,2 bilhão, dos quais metade iria para o caixa e metade, para os sócios — numa operação que deixaria a empresa sem controlador. 

O Aqua tem cerca de 60% do capital da empresa e o restante está distribuído entre os antigos donos das redes adquiridas. O fundo Spectra também tem uma fatia.

Lançada oficialmente ontem, a oferta será restrita, com apresentação a poucos investidores e cronograma mais acelerado, com expectativa de fechamento de preço na quinta-feira.