No endowment de Harvard, combustíveis fósseis não têm mais lugar

Após anos de pressão dos estudantes, fundo de US$ 42 bilhões diz que investimentos em fósseis "não são mais prudentes"

No endowment de Harvard, combustíveis fósseis não têm mais lugar
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Após anos de pressão dos estudantes, a universidade de Harvard disse que não vai mais investir em combustíveis fósseis — colocando os US$ 42 bilhões de seu endowment, um dos maiores e mais tradicionais do mundo, em linha com grandes gestoras que estão pulando fora de indústrias poluentes. 

“Dada a necessidade de descarbonizar a economia e nossa responsabilidade fiduciária de fazer investimentos de longo prazo que dêem suporte a nossa missão de financiar o estudo e a pesquisa, não acreditamos que esses investimentos sejam prudentes”, disse em carta publicada ontem à noite o presidente da Universidade, Laurence Becow. 

Nos endowments, ou fundos patrimoniais, o dinheiro recebido de doações para financiar uma causa é mantido intacto e, no caso das universidades, os rendimentos é que são utilizados para bancar bolsas de estudos para ensino e pesquisa.

No documento, Becow não usa diretamente a palavra “desinvestimento” — mas, na prática, é essa a mensagem que está sendo passada. 

Segundo ele, o endowment já não tem investimentos diretos em companhias que exploram combustíveis fósseis e “não pretende fazer novos investimentos no futuro”. 

A universidade tem investimentos indiretos em fundos de private equity com exposição a combustíveis fósseis, mas eles correspondem a menos de 2% dos recursos totais e estão “runoff mode”, ou seja, devem ser encerrados conforme o mandato desses fundos terminar.

Com o movimento, Harvard se une a outras universidades que abandonaram os combustíveis fósseis, como a Universidade da Califórnia e a da Cambridge, no Reino Unido.

No ano passado, Harvard havia se comprometido a trabalhar com gestores de investimento se tornar “net zero” até 2050, mas não tinha deixado claro o caminho que pretendia seguir para alcançar esse objetivo. 

Agora, mais do que deixar de investir nos combustíveis fósseis, a universidade está se comprometendo também a dar suporte a fundos que transicionem para uma “economia verde”.

“Essa é uma vitória massiva para a nossa comunidade, para o movimento climático e para o mundo. Um ataque contra o poder da indústria de combustíveis fósseis”, diz uma nota publicada no Twitter pelo Divest Harvard, um dos grupos ativistas que atuam em prol de uma estratégia de investimento mais ecológica para o fundo.

Em março, um grupo de estudantes fez uma denúncia ao procurador-geral do estado de Massachusetts, numa tentativa de forçar a universidade a vender os US$ 838 milhões que tinham em combustíveis fósseis, de acordo com o Harvard Crimson, o jornal da universidade. 

Enquanto isso, em Yale… 

Yale, outra referência no mundo dos endowments, com US$ 31 bilhões sob gestão, também vem sendo pressionada pelos estudantes a desinvestir de combustíveis fósseis, mas decidiu adotar uma estratégia mais conservadora, de transição. 

Em abril, a universidade divulgou uma lista de “princípios para investimentos em combustíveis fósseis”, buscando manter em carteira apenas empresas do setor que tenham políticas claras para redução de gases de efeito-estufa e transição energética. 

Na primeira lista de exclusão de companhias que não se enquadraram nos critérios, estão 45 empresas, entre elas a brasileira Petro Rio.