Marketplace de energia renovável Lemon recebe aporte de R$ 60 mi

Startup conecta pequenos geradores de eletricidade, como minifazendas solares, com PMEs em seis Estados

Fazenda da energia solar parceira da Lemon no Distrito Federal
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A startup Lemon Energia, uma espécie de marketplace que conecta pequenos geradores de energia renovável com consumidores também de menor porte, recebeu um aporte de R$ 60 milhões.

A rodada série A, a terceira da startup desde sua fundação, no final de 2019, foi liderada pelo fundo Kaszek. A gestora americana Lowercarbon Capital também entrou como sócia da companhia, acompanhando investidores individuais como Kevin Efrusy, da Accel Partners, e Sergio Furio, fundador e CEO da fintech Creditas.

Do lado dos consumidores finais, hoje cerca de 3 mil negócios de pequeno e médio porte, o argumento de vendas da empresa é bastante simples: baixar o valor da conta de luz em cerca de 20%, afirma Luciano Pereira, cofundador e diretor de tecnologia.

Mas em vez de instalar os próprios paineis solares, o que demandaria investimento e conhecimento técnico, negócios como bares e lojas recorrem à Lemon, que une os pontos entre esses clientes finais, as distribuidoras e os geradores de energia limpa.  

Na prática, a startup faz a gestão desse relacionamento, conciliando os créditos gerados pelas fazendas solares que se conectam à rede de distribuição, de um lado, e os abatimentos na conta de luz dos estabelecimentos clientes, do outro. 

O segmento da chamada geração distribuída é o que mais cresce no setor elétrico brasileiro. Diferentemente de enormes geradores centrais, como as hidrelétricas, pequenas unidades espalhadas geograficamente vêm se multiplicando pelo país.

No final de maio, o país já contava com 11 gigawatts de geração distribuída. Quase a totalidade é composta por pequenas instalações de paineis solares, mas unidades que usam biogás ou pequenas centrais hidrelétricas também entram nessa categoria.

Em muitos casos, os projetos são tocados por empresas locais de engenharia. “Eles sabem escolher o lugar, instalar os paineis [fotovoltaicos] e fazer a conexão com a rede”, diz Pereira. “Mas eles têm dificuldade para encontrar os clientes e, mais que isso, fazer a gestão do relacionamento.”

Se essas minifazendas solares fossem edifícios, a Lemon seria a imobiliária. O modelo de negócios da startup é cobrar dos geradores uma porcentagem do valor do “aluguel”.

Mas um ponto falho dessa analogia é parte central do negócio da Lemon: uma das vantagens do sistema de geração distribuída é que o imóvel e o inquilino não precisam estar na mesma cidade.

A única condição é que ambos estejam plugados na rede da mesma distribuidora. Isso significa que um bar de Belo Horizonte pode usar a eletricidade gerada em Juiz de Fora.

A escolha de um bar como exemplo não é aleatória. Estabelecimentos como bares, restaurantes e padarias são importantes clientes da Lemon.

Em 2020, quando a empresa estava desenhando o negócio, uma das dúvidas era justamente como chegar às dezenas de milhares de PMEs espalhadas pelo país.

Além do problema da presença física, seria necessário apresentar algum argumento melhor que simplesmente uma vantagem financeira significativa, diz Pereira. “Se alguém oferece um desconto de 20%, vou achar que é algum esquema de pirâmide.”

A solução veio com os vendedores da fabricante de bebidas Ambev, que visitam bares, restaurantes e mercados clientes às vezes semanalmente. O aval de uma companhia de reputação, e que chega aos mais distantes cantos do Brasil, foi fundamental.

Para a fabricante de bebidas, a contrapartida é tripla. Primeiro, ajuda a estreitar o relacionamento com seus clientes.  Em segundo lugar, ajuda a cumprir a sua meta net zero – o resfriamento de bebidas no ponto de venda é a segunda maior fonte de emissões da Ambev.  Além disso, ajuda a valorizar seu próprio portfólio – a companhia é uma das investidoras da Lemon.

O dinheiro levantado será usado para o desenvolvimento da plataforma tecnológica da empresa. Uma parte do serviço feito pela Lemon é a interface das duas pontas (gerador e consumidor) com as distribuidoras.

Pereira afirma que ainda há muitas operações realizadas manualmente. A expectativa é contratar 40 novas pessoas para a área técnica ainda este ano.

Outro objetivo é levar o serviço a mais regiões do país. Hoje a Lemon está disponível em seis Estados: Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.