Magalu fará segunda edição de programa de trainees exclusivo para negros

Magalu fará segunda edição de programa de trainees exclusivo para negros
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O Magalu causou polêmica entre as fileiras mais conservadoras no ano passado com seu programa de trainee exclusivo para candidatos negros, mas não arredou o pé. Acabou inspirando outras empresas e enxergou resultados.

Neste ano, vai repetir a dose: assim como em 2020, apenas profissionais que se autodeclararem negros poderão participar do processo.

A decisão é parte do plano de fechar o gap de representatividade de pretos e pardos nos cargos de liderança. 

Apesar de mais da metade dos funcionários se declararem pretos ou pardos, o percentual cai para 21% quando se trata de cargos de liderança no escritório, de onde emanam as decisões mais estratégicas para a empresa. 

“A gente tem uma anomalia, que é a baixa participação de negros em cargos de liderança”, disse o CEO Frederico Trajano em evento realizado hoje pela empresa. 

O objetivo do Magalu é levar esse percentual para um patamar que reflita a composição racial do Brasil: segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, 56,1% é negra. 

Historicamente, na empresa, foram formados 250 trainees, sendo que os negros, com o programa de 2021, somam 30 desse total.

“Um único programa exclusivo para negros não seria suficiente para atingirmos o objetivo”, afirma Patrícia Pugas, diretora-executiva da área de gestão de pessoas do Magalu. 

 Além do trainee

O programa de trainees é apenas uma das iniciativas tomadas pelo Magalu para incluir negros em posições-chave dentro da operação. 

Antes de mais nada, a companhia foi atrás de quantificar com qualidade o tamanho do problema.

Até então, os números usados pelo Magalu e divulgados ao mercado referiam-se a pesquisas quantitativas realizadas em 2019 que estimavam em 53% de negros no quadro de funcionários, com apenas 16% em postos de liderança.

Neste ano, a empresa completou um censo segundo critérios do IBGE para mapear a representatividade negra no seu quadro de mais de 40 mil funcionários. 

Ele mostrou que 51,8% se declaram negros e que dentro da área operacional — o que inclui lojas e centros de distribuição — a representatividade na liderança é de 47,1%. O problema é na esfera administrativa, onde essa fatia despenca para um quinto. 

Entre as iniciativas tomadas pela companhia para começar a fechar a lacuna está a criação de uma área para validar posicionamentos e políticas de inclusão dentro da empresa e a aplicar metas para a contratação e promoção de colaboradores negros. 

Um exemplo prático é o Luiza Code, programa de capacitação para mulheres na área de tecnologia que tem metade de suas vagas destinadas para profissionais com pele preta e parda. Já foram mais de 100 programadoras certificadas em seis meses. 

Os resultados ainda estão distantes da meta de que metade dos cargos mais importantes sejam ocupados por negros, mas mostram o caminho que pode ser trilhado por grandes empresas. Companhias como P&G e Bayer também anunciaram programas semelhantes para o recrutamento de trainees negros.

“Se algumas empresas se inspiraram no nosso exemplo, eu acho bom. Mas não estou fazendo isso para servir de inspiração”, afirmou Trajano.

Repeteco 

A segunda edição do programa de trainees não vai passar por grandes mudanças estruturais. Serão aceitos profissionais formados entre dezembro de 2018 e dezembro de 2021 de cursos de bacharelado e licenciatura de qualquer universidade e não vai exigir fluência em inglês e nem experiência profissional prévia.

A ideia é permitir que qualquer candidato, seja ele de uma universidade federal de renome ou que tenha estudado em uma instituição de ensino menos conhecida, possa participar do processo que dura cerca de três meses. 

O número de vagas não é fixo, mas o Magalu espera uma média de 20 novos contratados para a nova turma. 

No pacote estão previstos o salário de R$ 6.600, PLR, vale-refeição, vale-transporte, bolsa inglês e outros benefícios. A empresa também vai fornecer uma ajuda de custo para a mudança para São Paulo de profissionais de outras regiões do Brasil que forem aprovados no processo. No ano passado, foram mais de 22 mil inscrições.

“Nada é perfeito, mas erramos muito pouco, desde o processo seletivo até a integração dos trainees num momento de pandemia. Estou muito satisfeito a ponto de querer repetir a dose”, disse Trajano.