Impacto para o varejo: fundo de microcrédito da Vox e da Empírica chega a plataformas de investimento

Fundo que financia projetos como o Banco Pérola tem tíquete mínimo de R$ 25 mil

Impacto para o varejo: fundo de microcrédito da Vox e da Empírica chega a plataformas de investimento
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A Vox, gestora pioneira em investimentos de impacto no país e conhecida pela atuação em venture capital, lançou um fundo de crédito voltado para microempreendedores em parceria com a gestora Empírica. 

O produto acaba de chegar à plataforma de investimentos Órama com tíquete mínimo de R$ 25 mil e em breve deve estar disponível em outras casas, abrindo uma opção na escassa prateleira de produtos financeiros de impacto voltados para o varejo. 

O Empírica-Vox Impacto financia um segmento que move a economia, mas é pouco atendido pelos bancos e carente de crédito a condições atrativas. Os micro e pequenos empresários respondem por 50% dos empregos no país e 27% do PIB, segundo dados do Sebrae. 

Hoje, os recursos do fundo vão para cinco investidas — e novas empresas devem chegar ao portfólio. 

A mais antiga na carteira é o Banco Pérola, que atende micro empresários do interior paulista. Os recursos vão também para a BizCapital, que empresta dinheiro para PMEs; a CredPopular, direcionada para pequenos varejistas da região do Brás em São Paulo; e a EmprestaCapital, de crédito para zeladores condominiais, que têm pequenos negócios de reformas e manutenção. 

Além do impacto social, há também um olhar para iniciativas que contribuem para o meio ambiente. O fundo financia a Ensolar, de empréstimos para projetos de geração distribuída de energia solar para residências.

O Empírica-Vox funciona no formato de cogestão. A Empírica entra com a expertise de estruturar as operações de fundos de crédito, enquanto a Vox entra com os critérios de seleção e métricas de impacto social. 

Impacto no extrato

Além dos dados sobre o retorno financeiro, os relatórios de impacto serão publicados trimestralmente na página do fundo na plataforma de investimentos e também serão enviados por email aos investidores. 

Os investidores saberão no detalhe qual foi o rendimento, a tese de mudança, dimensões do impacto, abrangência da carteira de crédito e depoimentos dos microempresários beneficiados na ponta.

Trata-se de um fundo de risco baixo, com retorno esperado entre 120% e 125% do CDI. 

“O fundo foi montado pensando num cenário de estresse e aumento da inadimplência, já antes da pandemia, e por isso as perdas da carteira não foram relevantes”, diz Leonardo Calixto, CEO da Empírica, que, ao todo, gere R$ 2,7 bilhões em fundos de crédito.

“E agora a tendência é melhorar, não só pela gradual retomada da economia, mas porque as próprias empresas adaptaram os processos para calcular o risco do empréstimo”. 

O Empírica-Vox Impacto detém apenas as cotas sêniores de crédito, que têm o menor risco. Como em outras estruturas de fundos de investimento em direitos creditórios (Fidcs), o risco de inadimplência é amortecido por cotas compradas por investidores de mais apetite a risco e que cobram retornos maiores.  

Democratizando o impacto

A Vox vê na cogestão uma das estratégias para democratizar o acesso a produtos de impacto social, que ainda têm baixa liquidez, diz o co-fundador da gestora, Daniel Izzo. 

Com o novo produto, a Vox fura a barreira de seu público tradicional, os investidores profissionais com R$ 10 milhões aplicados, ainda que não chegue exatamente ao “varejão”.  

O Empírica-Vox Impacto está restrito a investidores qualificados, com pelo menos R$ 1 milhão em investimentos. A liquidez também é limitada, com prazo de resgate de D+120. 

“O investimento de impacto só vai pegar mesmo quando for disponível para todo mundo, com pessoas investindo em pessoas”, diz Izzo. Ele quer produtos de impacto com liquidez entre D+1 e D+30.

Num mercado ainda nascente no Brasil, a carência é de produtos de impacto diversificados até mesmo para os investidores mais sofisticados. 

O fundo da Empírica surgiu em fevereiro de 2019, por uma demanda da Wright Capital, gestora de patrimônio de Fernanda Camargo e Alexandre Lindenbojm, que vem puxando a criação de produtos financeiros de impacto social — eles só aceitam investidores que se comprometam a colocar ao menos 1% do patrimônio em impacto.

Na época, a Empírica já tinha estruturado um Fidc para atender o banco Pérola a adaptou o produto para a Wright. 

A parceria com a Vox veio em novembro. De lá para cá, sofisticaram-se as análises de impacto, uma empresa foi excluída e outras duas adicionadas ao portfólio. Hoje, o fundo tem quase R$ 9 milhões de patrimônio.