Gates aposta em algas para reduzir metano dos bois (com testes no Brasil)

Rumin8 quer replicar substância presente em algas para reduzir fermentação entérica do gado, responsável por um terço das emissões de metano do mundo

Gates aposta em algas para reduzir metano dos bois (com testes no Brasil)
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Bill Gates acaba de anunciar o investimento numa startup australiana que está desenvolvendo um insumo para reduzir o metano presente no arroto dos bois e que está realizando seus primeiros testes no Brasil em parceria com a Unesp. 

A Rumin8 está replicando em laboratório um suplemento alimentar à base de bromofórmio, uma substância originalmente presente em algas vermelhas e que pode reduzir o metano emitido pelo gado durante o processo de fermentação entérica. 

A Breakthrough Energy Ventures, fundo de VC com foco climático do fundador da Microsoft, está participando de uma rodada seed de US$ 12 milhões na startup. Trata-se da segunda etapa de captação semente, que, ao todo, levantou US$ 17 milhões. 

O dinheiro será usado para realizar testes comerciais com o produto. No ano passado, a companhia fechou um acordo com a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) para testar o produto no Brasil, em gado criado em pastagens de forma extensiva, a forma de pecuária mais comum no país. 

“Trata-se de um estudo extremamente detalhado que vai dar as bases para o registro do produto no Brasil”, afirmou o fundador da Rumin8, David Messina em nota. “O Brasil tem o maior rebanho de gado do mundo, portanto é um mercado potencial importante para a Rumin8.”

Além do país, a startup tem testes na Austrália e deve começar a fazê-los também nos Estados Unidos.

Algas antimetano

A fermentação entérica é de longe o maior responsável pelas emissões diretas do setor agropecuário. O metano é produzido naturalmente na digestão dos bovinos e tem um efeito até 20 vezes mais danoso que o CO2 se considerado um período de 100 anos. 

Em meio aos compromissos de redução de emissão das empresas do setor, nos últimos anos, diversas alternativas de suplementos alimentares para reduzir a produção de metano têm sido testadas. Uma vertente está explorando os poderes de redução do gás de efeito estufa de um grupo de algas vermelhas chamado Asparagopsis. 

Em 2020, pesquisadores da Nova Zelândia e Austrália demonstraram que a introdução de Asparagopsis na dieta de bois de corte foi capaz de reduzir de 40% a 98% do metano emitido durante a digestão desses animais, sem prejuízos no desenvolvimento e, ainda, ganho de peso. 

No ano passado, a Fonterra, cooperativa de produção de leite neozelandesa, começou a implementar a Asparagopsis taxiformis na nutrição de animais com finalidade comercial.

O que faz a Rumin8

A questão é que algas marinhas levam alguns meses para ficarem prontas e serem colhidas e requerem enormes extensões de mar aberto para crescer. A agricultura intensiva de algas, por sua vez, pode ter efeitos negativos sobre outras formas de vida aquática – e está longe de ser barata. 

O que a Rumin8 está fazendo é trazer a mercado produtos que contêm bromofórmio, o ingrediente ativo que inibe a produção de metano, produzidos em laboratório, da mesma forma em que eles se encontram nas algas marinhas. 

Com produção ainda em estágio inicial, testes conduzidos pela Rumin8 mostram que seu aditivo pode reduzir as emissões do gado em mais de 95%. A ideia é que o produto final não custe mais do que 10% do valor de um animal ao longo da sua vida. 

A companhia tem focado seu produto inicialmente para o gado criado de forma extensiva ao longo de grandes pastagens. 

Isso porque, afirma a empresa, outros suplementos que já estão disponíveis no mercado, como o Bovaer, da gigante holandesa DSM, exigem uma alimentação mais frequente dos animais, o que acontece no modo de criação intensivo, em que os bois e vacas são confinados. 

Uma das controvérsias em relação ao bromofórmio é que, na forma de gás, ele agride a camada de ozônio, tendo sido proibido inclusive pelo Protocolo de Montreal. 

A Rumin8 e outras empresas que atuam a substância a partir de algas, no entanto, afirmam que o bromofórmio se decompõe quase que completamente no estômago dos animais depois de três horas e que, por isso, não causam nenhum impacto no meio ambiente.