Future Carbon vende US$ 3 milhões de 'fluxo futuro' de créditos de carbono

Em operação inovadora, Carbon Streaming vai receber 5% da receita gerada por quatro projetos de desmatamento evitado

vista aérea de trecho de floresta amazônica cortada por rio e céu azul com nuvens
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A Future Carbon, startup de desenvolvimento de projetos de créditos de carbono, fechou um contrato de financiamento de US$ 3 milhões com a canadense Carbon Streaming.

Trata-se de uma modalidade inovadora que pode acelerar o desenvolvimento de um setor cuja demanda vem explodindo no mundo todo e que pode ter no Brasil um dos grandes vendedores.

A ideia da Carbon Streaming é apoiar os desenvolvedores pagando hoje por créditos que serão gerados no futuro.

Algumas companhias já fazem isso hoje, diretamente ou por intermédio de terceiros, para garantir acesso a créditos que usarão para compensar suas emissões de gases de efeito estufa.

A operação com a companhia canadense, porém, é um pouco diferente, pois não se trata de uma venda de participação nos projetos nem de dívida, diz Marina Cançado, co-CEO e uma das fundadoras da Future Carbon.

Em troca dos US$ 3 milhões, a Future Carbon vai devolver 5% da receita gerada pela venda dos ativos ambientais obtidos em quatro projetos de desmatamento evitado.

O pagamento será realizado ao longo de 30 anos, começando em 2023. A Carbon Streaming, diz Cançado, vai ajudar na negociação dos créditos.

Os projetos ficam em Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia e devem gerar 17 milhões de créditos de carbono. Cada unidade corresponde a uma tonelada de CO2 que deixou de ser lançada na atmosfera.

Cançado afirma que ainda não pode revelar os nomes dos projetos, pois eles estão em fase de registro na Verra, entidade internacional que estabelece padrões técnicos e cuida do “livro contábil” dos créditos, dando baixa naqueles já utilizados.

Para a Future Carbon, o modelo é interessante por dois motivos, diz a co-fundadora. O primeiro é abrir  mais uma possibilidade de arquitetura financeira para acelerar o crescimento do setor.

O segundo é o modelo, que não envolve equity ou endividamento. “Não estamos diluindo o capital da empresa ou negociando compra de terras”, diz Cançado. “Isso representa uma pequena porcentagem da nossa receita de créditos de carbono, o que significa que ainda temos muito capital para alavancar e escalar projetos.”

Fluxo de créditos

O nome da companhia canadense está relacionado ao seu modelo de negócios: antecipar os recursos e receber de volta um fluxo constante, ou stream, de receitas.

Além dos quatro incluídos no acordo com a Future Carbon, a Carbon Streaming tem contratados créditos de pelo menos dez outros projetos, localizados em países como Estados Unidos, Indonésia e República Democrática do Congo, entre outros.

A empresa, que tem ações nas bolsas de valores de Toronto e Frankfurt, também fez um investimento de US$ 500 mil em um projeto de menor porte no Cerrado, que vai gerar 100 mil créditos, e é desenvolvido pela Ecosystem Regeneration Associates.

A Carbon Streaming se define como uma empresa que “oferece a seus investidores exposição a créditos de carbono”.

Hoje, as negociações do chamado mercado voluntário ainda são em sua maioria feitas pelas companhias interessadas em reivindicar os benefícios ambientais dos créditos, mas a expectativa é que se desenvolva também um importante mercado secundário para esses ativos ambientais.