Fundo ativista Third Point quer dividir a Shell em duas e segregar legado fóssil

Gestora de Daniel Loeb aponta 'falta de estratégia' e defende que petróleo e novas energias devem ser empresas separadas

Fundo ativista Third Point quer dividir a Shell em duas e segregar legado fóssil
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O fundo de hedge ativista Third Point acumulou uma participação acionária expressiva na Shell e deu um início a uma campanha para dividir a empresa em negócios separados.

O argumento central é que o legado de combustíveis fósseis seja separado de iniciativas em energias renováveis. Os interesses desses dois negócios são conflitantes, argumenta Daniel Loeb, presidente do Third Point.

Em carta a seus investidores, ele afirma que a petroleira anglo-holandesa está sendo puxada em duas direções diferentes. Isso resultaria em “estratégias conflitantes e incoerentes, que tentam apaziguar interesses variados sem satisfazer nenhum deles”.

A notícia foi publicada em primeira mão pelo The Wall Street Journal e confirmada por outros veículos internacionais. Segundo o Financial Times, a posição do Third Point seria de cerca de US$ 750 milhões, o que tornaria o fundo um dos maiores acionistas da petroleira.

O Third Point tem cerca de US$ 20 bilhões em ativos sob gestão e é um fundo conhecido por comprar brigas com grandes empresas. No passado, Loeb já enfrentou executivos de companhias como Nestlé, Intel e Campbell (das sopas).

A ideia de Loeb é isolar os combustíveis fósseis em uma empresa, com o compromisso de desacelerar os investimentos em atividades danosas ao clima além do que já foi anunciado.

Já uma outra companhia ficaria responsável pelas energias limpas, “combinando retornos modestos com investimentos agressivos em renováveis e tecnologias para a redução de carbono”.

“Uma estratégia ousada como essa provavelmente levaria a uma redução do CO2, bem como retornos significativamente maiores para os acionistas, uma vitória para todas as partes interessadas”, diz a carta da gestora.

Como outras empresas do setor, a Shell está sob pressão de todos os lados para fazer mais na luta contra a emergência climática. Há seis meses, a justiça holandesa determinou que a companhia acelere suas reduções de emissões de gases causadores do efeito estufa. A Shell está recorrendo da decisão.

Os executivos da Shell afirmam que sua produção de petróleo atingiu o pico em 2019 e que haverá uma redução de 1% a 2% ao ano, ao mesmo tempo que são feitos investimentos em alternativas limpas, como hidrogênio.

Em comunicado, a empresa afirma fazer “revisões e avaliações regulares de sua estratégia” e estar aberta ao diálogo com todos os acionistas, incluindo o Third Point.

Presidente do conselho da Shell desde maio, Andrew Mackenzie tem experiência em quedas de braço com ativistas. Quando era CEO da mineradora australiana BHP, enfrentou um fundo que defendia a venda do negócio de petróleo.

Um dos contra-argumentos das petroleiras é que o negócio legado garante o pagamento de dividendos e também financia investimentos incertos em novas tecnologias.

Mas o mundo das petroleiras está mudando rápido. A italiana Eni e a espanhola Repsol já consideram criar empresas à parte para atender à demanda de investidores como a Third Point, diz o Wall Street Journal.