Fundada por brasileiro, Provivi aposta em feromônio sexual para agro sem veneno

Ao lado da Nobel de química Frances Arnold, Pedro Coelho fundou a startup que conseguiu escalar a produção dos hormônios sexuais para uso em grandes culturas como soja, milho e trigo

Avião pulveriza lavoura para combater a infestação de pragas
A view of a crop duster spraying green farmland.
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O recifense Pedro Coelho tinha acabado de terminar seu PhD em Química na prestigiada Caltech, em Pasadena, na Califórnia, em 2013, quando resolveu criar seu próprio negócio. No mesmo ano, cofundou a Provivi ao lado da sua orientadora no doutorado, Frances Arnold – que viria a receber o Nobel de Química poucos anos depois, em 2018.

Passados nove anos da fundação, hoje a startup com sede em Santa Monica é um dos principais nomes no mundo no desenvolvimento de feromônios sexuais em escala industrial para fazer o controle de pragas na lavoura como alternativa ao uso massivo de pesticidas – algo cada vez mais desejável num mundo que busca caminhos para uma agricultura sustentável.

Os feromônios são hormônios naturalmente liberados pelos insetos fêmeas para atrair os machos. Quando produzidos sinteticamente e pulverizados sobre a plantação, impedem que os machos localizem as fêmeas, interrompendo o ciclo reprodutivo e reduzindo a infestação.

Inseticidas matam a praga, enquanto os feromônios inibem sua proliferação, de maneira não tóxica. Além disso, eles são altamente específicos e protegem a biodiversidade, preservando joaninhas e abelhas, responsáveis pela polinização das plantas.

Os feromônios já eram usados em culturas de alto valor agregado, como em vinhedos europeus. Mas seu elevado custo até recentemente era um impeditivo para que fossem adotados em grandes culturas, como soja ou milho.

O que a Provivi fez foi desenvolver não apenas um, mas dois métodos para sintetizar os feromônios a um custo acessível e, portanto, num modelo escalável.

“Superar essas barreiras tecnológicas foi o coração da empresa”, diz Pedro Coelho, que é CEO da companhia. 

O primeiro método é baseado em biologia sintética. Uma levedura recebe a mesma enzima que os insetos usam e passa a produzir o feromônio por fermentação. “A levedura vira uma biofábrica”, resume ele.

No segundo método, o catalisador não é biológico, mas químico e foi desenvolvido simultaneamente no MIT e na Caltech. A startup obteve a licença para uso exclusivo [da tecnologia] na área de feromônios.

“Para o produtor, a proposta de valor é reduzir a dependência de inseticidas, já que grandes grupos têm adotado metas nesse sentido, ao mesmo tempo em que aumentamos o rendimento e a qualidade da lavoura”, diz Coelho. O preço dos produtos, segundo ele, é calculado para dar um retorno de três dólares, em redução de inseticidas e maior rendimento, para cada um dólar gasto.

Desde que foi fundada, a startup já levantou quase US$ 200 milhões em rodadas de captação. 

Um dos primeiros investidores a acreditar na tese foi Marcelo Medeiros, sócio da Lanx Capital, que fez um aporte semente ainda em 2014. No ano seguinte a própria Lanx entrou na série A e desde então tem acompanhado as demais rodadas.

A série C atraiu nomes como a holding do governo de Cingapura Temasek e a Fundação Bill e Melinda Gates – que entrou no ano passado com um cheque de US$ 10 milhões para levar a solução a pequenos agricultores familiares de Índia, Bangladesh e Quênia.

O mercado parece promissor. Estimativas recentes apontam que o segmento de feromônios na agricultura deve crescer a uma taxa de 15% nos próximos anos, chegando a US$ 6 bilhões em vendas globais em 2026.

Com isso, o segmento vem atraindo também químicas tradicionais. A própria Provivi tem Basf e Corteva entre seus investidores. Em julho, a dinamarquesa Biophero, uma concorrente da Provivi em estágio mais inicial, foi comprada por US$ 200 milhões pela americana FMC, voltada para tecnologias sustentáveis de controle de pragas.

As pragas-chave

A Provivi tem atualmente doze produtos diferentes no portfólio para combater insetos que atacam as lavouras de milho, soja, algodão, arroz e sorgo, além de frutas como maçã, uva e pêssego.

“Existem muitos insetos na agricultura e focamos nas pragas-chave para termos retorno”, diz Coelho.

Uma delas é a lagarta do cartucho (ou spodoptera frugiperda), a praga número um a atacar os milharais, que tem se tornado um problema também nas lavouras de soja e já chegou aos campos de trigo. 

O primeiro produto para combater a lagarta do cartucho foi comercializado no México. Atualmente, a empresa também já vende seus produtos na Europa, na Indonésia (por meio de parceria com Syngenta) e no Brasil.

Por aqui, a companhia resolveu começar pelo algodão, que também é afetado lagarta do cartucho, por uma questão de estratégia comercial.

 “As fazendas de algodão têm grande escala, os 40 maiores produtores controlam 60% da área plantada, o que nos permite chegar a uma grande área mais rapidamente. Além disso, os maiores fazendeiros do Brasil são também produtores de algodão”, diz Coelho. 

Para entrar no mercado brasileiro, a empresa teve que mudar a forma de aplicação do produto.

Enquanto no México o feromônio vai em microcápsulas que são acondicionadas em dispensadores que liberam a substância continuamente na lavoura, no Brasil a formulação é líquida para ser pulverizada por aviões em tratores, por causa da grande extensão das fazendas.

Com 120 funcionários, a empresa ainda não conta com fábrica própria. A produção fica a cargo de terceiros na Alemanha e na Hungria.

Em 2021, foram produzidas quase 100 toneladas e este ano devem ser 130 toneladas, o suficiente para cobrir uma área de 400 mil hectares. O faturamento não é divulgado e a empresa ainda não atingiu o breakeven.

Por conta disso, embora já tenha outros 12 produtos no pipeline de pesquisa e desenvolvimento, a estratégia agora é escalar comercialmente aqueles que já foram lançados. “Nossas primeiras apostas agora precisam gerar caixa. Quanto mais projetos em paralelo, mais queimamos caixa.”

Mesmo assim, uma rodada série D deve acontecer em 2023.

Coelho não se arrisca a fazer projeções, mas diz que os planos são de penetrar mais mercados relevantes para as culturas de soja, milho, arroz e algodão. “E queremos fazer isso cada vez mais via parceiros, porque a excelência da Provivi está em desenvolver o produto e manufaturar.”