Eureciclo inicia rodada para captar R$ 100 milhões

Startup de créditos de logística reversa quer expansão nacional, internacional e aquisições; receita dobrou na pandemia

Eureciclo inicia rodada para captar R$ 100 milhões
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A startup de créditos de logística reversa Eureciclo iniciou conversas com investidores para uma rodada de captação série B, com a ambição de levantar cerca de R$ 100 milhões. 

A busca por novos recursos acontece na esteira de um forte crescimento da empresa durante a pandemia, em que o volume de lixo pós-consumo não deu tréguas.

“Dobramos a receita em 2020, vamos dobrar novamente este ano, chegando a R$ 30 milhões. E a expectativa é de R$ 60 milhões em 2022”, diz Thiago Pinto, CEO da Eureciclo. 

A empresa opera num sistema de planos de assinaturas que lhe assegura recorrência em boa parte da receita.

A Eureciclo é pioneira no Brasil em certificar a logística reversa de embalagens pós-consumo. Com o emprego de tecnologia de blockchain, a startup faz o registro de notas fiscais de reciclagem emitidas por aterros sanitários, operadores privados de coleta e cooperativas de catadores e as transforma em títulos negociáveis, que podem ser vendidos às empresas. 

Esses certificados servem para que as empresas façam a compensação do lixo pós-consumo gerado pelas embalagens dos seus produtos.

É uma lógica semelhante ao do mercado de créditos de carbono. Ao mesmo tempo em que remunera a cadeia de reciclagem pelo serviço de remoção dos resíduos do ambiente, entrega para as empresas uma solução pronta para o cumprimento das metas da lei nacional de resíduos sólidos, sem que para isso precisem criar suas estruturas proprietárias de logística reversa.

A empresa soma hoje mais de 5 mil empresas clientes no Brasil — entre elas Minalba, Apple, Arezzo, Swift, Klabin e 3 Corações — e tem avançado a taxas chinesas. “Estamos fechando 200 clientes a mais todos os meses. É um mercado imenso e tem muito espaço para ocupar”, diz o CEO.

No ano passado, em plena pandemia, a startup fechou uma rodada série A de cerca de R$ 25 milhões com o fundo de venture capital Redpoint. 

Também fazem faz parte do seu quadro de acionistas as gestoras Lanx Capital, HSi (da família Seibl) e Positive Ventures, a primeira a investir na Eureciclo, em 2017. Redpoint e Positive têm assento no conselho da empresa e desde o ano passado o investidor Eduardo Mufarej, da GK Ventures, é um conselheiro independente.

Novos estados e aquisições

Com o dinheiro que pretende captar, a empresa quer investir principalmente em crescimento orgânico, com destaque para estrutura comercial em novos Estados e para trazer empresas e marcas de novos setores. 

“Vemos também algumas oportunidades inorgânicas, porque alguns sistemas concorrentes foram reprovados por órgãos ambientais”, diz Pinto. Recentemente, a startup comprou uma dessas empresas, a Fechando Ciclo, que tinha 45 clientes.

A expansão internacional também está na conta. Hoje com 250 clientes no Chile, a empresa quer chegar a Uruguai e Colômbia em breve, uma vez que os dois países estão estabelecendo a regulamentação para resíduos sólidos e criando a figura do certificador. 

Como a empresa consegue crescer em cima da mesma plataforma tecnológica de rastreabilidade e certificação, o maior investimento será em gente. Dos 100 colaboradores atuais, a previsão é ultrapassar os 180.

Parte do fôlego financeiro também deve ser destinado a fomentar a criação de infraestrutura de reciclagem no país. Por lei, uma certificadora como a Eureciclo não pode atuar na ponta da reciclagem, mas, interessada em expandir a capacidade do sistema no país, a empresa tem firmado contratos de compra futura com aterros e cooperativas, em alguns casos, com antecipação de pagamento.

Performance pandêmica

O início da pandemia fez com que a empresa entrasse em ‘modo camelo’, apertando o cinto para ter resiliência e atravessar a turbulência.

Mas, com o passar dos meses, foi ficando claro que, embora alguns setores, como de calçados e varejo de lojas físicas, tenham visto seus volumes despencar, do ponto de vista da Eureciclo, isso foi compensado pelo crescimento do e-commerce e do delivery de alimentos, por exemplo. “Embalagem de álcool gel, então, foi um fenômeno. Mudou o mix”, diz Pinto.  

Ele cita que houve um aperto também dos órgãos de fiscalização ambiental, que levaram mais empresas a buscar uma solução de logística reversa — além de um efeito da pandemia também sobre o comportamento do consumidor. “As pessoas ficaram mais próximas das suas embalagens e perceberam o quanto geram de lixo. Isso aumentou o consumo consciente.”

Na ponta da cadeia de reciclagem, houve um baque nas cooperativas de catadores, que por conta do isolamento social tiveram dificuldades de seguir trabalhando. O efeito para a empresa, entretanto, foi limitado, uma vez que as cooperativas respondem por 22% dos créditos gerados pela empresa, enquanto 78% vêm de grandes operadores privados de coleta de lixo. 

Receita

Hoje, metade da receita da Eureciclo vem de leilões de créditos de reciclagem que são realizados periodicamente na Fiesp, a federação das indústrias paulistas. A outra metade vem de contratos chamados ‘de balcão’, ou seja, negociados diretamente entre a startup e as marcas.

Nesses contratos, a cobrança é feita por volumes anuais de embalagens e os pagamentos podem ser mensais. No maior pacote, para até 100 mil produtos vendidos no ano ou 9,2 toneladas de embalagem, a mensalidade começa em R$ 119,90.

Parece pouco para tanto dano ambiental.

O baixo preço se explica, em grande parte, pelas metas ainda tímidas de logística reversa no país. Atualmente, pela lei de resíduos sólidos, o percentual mínimo obrigatório para as empresas é de reciclar 22% das embalagens colocadas no mercado. O percentual subirá gradualmente até atingir 45% em 2031. Ainda é pouco, quando comparado com mercados maduros, onde as taxas são superiores a 70%.

Dona, provavelmente, da maior base de dados primários do setor, a Eureciclo estima que a taxa média atual de reciclagem pós-consumo esteja entre 5 e 7% — com alguns materiais de maior valor, como alumínio, superando e muito os 22%. “Então para atingir a meta, teríamos que triplicar ou quadruplicar a infraestrutura atual. O preço tende a subir”, diz Pinto.