Esse fundo canadense está atrás de ativos de baixo carbono no Brasil

Parque eólico no Brasil é exemplo de ativo de energia renovável na mira do fundo canadense CDPQ
A A
A A

Um dos maiores fundos de pensão do Canadá, com US$ 300 bi sob gestão, está procurando negócios de baixo carbono no Brasil.

O Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ) administra o dinheiro da aposentadoria de funcionários públicos, como professores, policiais e bombeiros, da província de Quebec desde a década de 60, tem investimentos em mais de 65 países, mas só foi abrir seu escritório brasileiro em 2018.

De lá para cá, alcançou uma carteira de US$ 5 bi em ativos locais, incluindo dois cheques bilionários: a empresa de gasodutos TAG, vendida pela Petrobrás em 2019 e comprada em associação com a francesa Engie, e a formação, no começo deste ano, da joint-venture de internet por fibra ótica FiBrasil, com a Telefônica. 

Mas o fundo considera que o tamanho do portfólio está aquém do potencial, em grande medida por ter chegado tarde ao mercado brasileiro, e está ativo na análise de uma série de oportunidades.

“Nossa ideia é, pelo menos, manter 1,5% do portfólio global ou mais. De qualquer forma, como a torta vai crescendo, queremos crescer também aqui”, diz Denis Jungerman, chefe do escritório brasileiro.

Para tal, diz ele, a ideia é incorporar as novas metas ambientais recém-fixadas pela matriz.

De US$ 14 bilhões em ativos considerados de baixo carbono em 2017, o fundo chegou a US$ 28 bi no ano passado e em setembro deste ano lançou um compromisso de atingir US$ 42 bilhões até 2025. “O objetivo é global, mas o Brasil faz parte dele”, diz Jungerman. A meta final é atingir um portfólio neutro em carbono até 2050.

Na lista do que considera baixo carbono, o CDPQ inclui energia renovável, transporte sustentável e ativos imobiliários sustentáveis. “Isso a gente já faz e vai fazer mais. Além disso, quatro novos segmentos foram incluídos nos planos: hidrogênio verde, baterias, eletrificação de transportes e captura de carbono. Tudo isso entra na conta dos US$ 42 bi”, diz o executivo.

No Brasil, não é de hoje que o fundo está em busca de ativos de geração de energia renovável e já participou de processos competitivos, sem sucesso.

Assim como na fibra ótica, o plano, diz Jungerman, é comprar um primeiro negócio que já tenha alguns ativos e equipe e que sirva de plataforma para um movimento de crescimento orgânico e inorgânico. Embora reconheça que é um setor bastante disputado, ele acredita em oportunidades que surgem com movimentações naturais do mercado.

A atratividade de investimento em projetos de hidrogênio verde no país está sendo mapeada por uma equipe global.

Além de infraestrutura, o fundo também quer retomar um portfólio de private equity local. Nesse campo, tem particular interesse em ativos relacionados à cadeia do agronegócio no Brasil, como logística e insumos.

Embora não seja o foco específico, o executivo não descarta investir em negócios da agricultura de baixo carbono. “Já olhamos fertilizantes de nova geração e biodefensivos”, diz ele. 

Menos CO2

Além do compromisso de investir em novos ativos, o CDPQ também mira a carteira existente rumo ao net zero.

Há metas de redução progressiva da intensidade de CO2 por dólar investido (desde 2017 a redução já foi de 38%) e, em setembro, o fundo prometeu sair completamente dos ativos de petróleo até o fim de 2022, o que hoje representa 1% do bolo total.

Mas o mais inovador, diz Jungerman, foi a decisão de criar um envelope novo, de cerca de US$ 8 bilhões, para investir na descarbonização de setores intensivos em combustíveis fósseis.

“Não adianta só sair dos ativos que poluem e investir em limpos, porque tem um conjunto enorme de atividades intensivas em carbono e que são necessárias. Mesmo para construir uma torre eólica vai cimento, aço, fios metálicos. Não podemos lavar a mão e dizer que não temos nada com isso.” 

Na nova caixa estão setores como aço, cobre, plásticos, transporte, fertilizantes e agronegócio (por causa do metano, por exemplo).

O gás da discórdia

Dentro da estratégia de descarbonização, os gasodutos de petróleo serão vendidos, mas os de gás natural não. Com isso, a TAG não é um alvo.

“A TAG gasta pouca energia para transportar o gás. E, embora seja um combustível fóssil, ele é o mais limpo deles e geralmente entra na matriz energética para substituir algo muito mais poluente”, diz. 

Particularmente no Brasil, a visão do fundo é que há uma abundância de gás associada à extração do petróleo e que hoje é queimado no poço de qualquer forma. “Achamos que o gás tem um lugar [na transição energética. A TAG não está incluída na lista de ‘low carbon assets’, mas também não é um ‘high carbon asset’.”

(Crédito da foto: Pedro Henrique Santos/Unsplash)