ESG vai aumentar risco do crédito em 2023, diz Moody’s

Planos de descarbonização corporativos serão examinados com microscópio por investidores e reguladores, afirma agência de ratings

ESG vai aumentar risco do crédito em 2023, diz Moody’s
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Riscos ambientais, sociais e de governança devem afetar a qualidade do crédito corporativo e soberano em 2023, aponta um novo relatório da empresa de análise de risco Moody’s divulgado nesta terça-feira.

Um dos motivos é um olhar mais atento sobre os planos de descarbonização das empresas. Além da obrigatoriedade de divulgações, como as que devem entrar em vigor neste ano no mercado de capitais americano, haverá demanda por medidas para colocar o net zero em prática.

“Reguladores, investidores e instituições vão se concentrar na implementação” das estratégias de descarbonização anunciadas, diz Rahul Ghosh, diretor executivo de finanças sustentáveis da Moody’s e um dos autores do relatório.

Sem metas claras para reduzir suas emissões e reorientar seus negócios para um futuro de baixo carbono, as empresas podem enfrentar perda de confiança dos investidores e aumento no seu custo de capital.

A agência não se arrisca a prever quando e com qual intensidade essa percepção aumentada de risco deve começar a ter consequências financeiras concretas para as empresas. Diz apenas que o movimento já foi posto em marcha e deve ganhar tração.

“A tendência deve se acelerar conforme as instituições financeiras começam a agir em relação a seus próprios objetivos net zero, apoiadas por melhores dados e reportes”, afirma a Moody’s.

Cada vez mais a pressão pelo baixo carbono vai envolver toda a cadeia de fornecimento das companhias. A agência cita o “imposto de carbono” que a União Europeia deve instituir sobre algumas de suas importações.

Alguns dos setores mais expostos aos riscos da transição energética, porém, estão atrasados. O relatório aponta que óleo e gás, mineração e agricultura são os menos preparados para o aumento do escrutínio dos planos de descarbonização.

A crise global

Apesar da urgência, o cenário macroeconômico precipitado pela guerra na Ucrânia impõe uma escolha difícil para muitas empresas, segundo a Moody’s.

A desaceleração da economia global e o aumento das taxas de juros e dos preços de certas matérias-primas significam que muitos planos de descarbonização ficarão mais caros e terão retorno incerto, ao menos no curto prazo.

A agência menciona os chamados metais da transição energética, como cobalto, níquel e cobre. Mesmo passados os picos de preços registrados logo depois do início do conflito, eles ainda seguem acima de suas médias históricas.

Isso tem implicações diretas nos custos associados às fontes renováveis e à tecnologia de baterias.

“Ao mesmo tempo que adiam ou reduzem seus investimentos em tecnologias verdes por causa de custos ou preocupações com segurança energética, [essas companhias] devem enfrentar riscos regulatórios e de mercado ainda mais agudos no futuro. E seguir adiante com investimentos que não têm a performance esperada pode resultar em retornos estendidos ou prejuízos.”

Muitos desses setores dependem de ativos fixos particularmente expostos à mudança do clima, o que pode representar de problemas nas cadeias de suprimento à desvalorização dos ativos.

O fator natureza

A importância crescente dos impactos sociais e econômicos da perda da biodiversidade também será cada vez mais sentida nos mercados de crédito, diz o relatório.

As metas ambiciosas de conservação e restauração adotadas na COP15, realizada em dezembro passado em Montreal, demonstram que o combate à mudança climática dependerá da proteção da natureza.

“Nove setores, com US$ 1,7 trilhão em dívidas que receberam rating, têm exposição inerente alta ou muito alta ao capital natural, incluindo materiais de construção, mineração, proteínas e agricultura”, segundo a Moody’s.

O foco em soluções baseadas na natureza também significa atenção especial ao tema do desmatamento. A agência menciona o compromisso de proteção de florestas tropicais da recém-formada aliança entre Brasil, Congo e Indonésia.

(No final do ano passado, circularam rumores de que o novo governo brasileiro estaria interessado em emitir algum tipo de dívida verde lastreada em seus planos ambientais.)

Mas o maior risco vai recair sobre as economias emergentes com problemas de ratings – muitas das quais já sofrem com as consequências do clima em mutação.

Países como o Paquistão, que sofreu prejuízos de dezenas de bilhões de dólares por causa de enchentes no ano passado, serão particularmente atingidos.

Financiamentos com instrumentos como green bonds para projetos de adaptação à mudança do clima dependerão de iniciativas conjuntas dos setores público e privado, segundo a Moody’s.

Mecanismos no âmbito da Convenção do Clima, como o fundo de perdas e danos anunciado na COP27, e iniciativas de blended finance serão a chave para destravar investimentos nos países mais vulneráveis ao aquecimento global.