Escola Mais, a aposta da Bahema para levar ensino de qualidade à classe C

Dono de escolas badaladas do ensino construtivista, como Escola da Vila e Escola Parque, grupo aposta em tecnologia para levar ensino bilíngue e integral por R$ 760 ao mês

Escola Mais, a aposta da Bahema para levar ensino de qualidade à classe C
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Desde que estreou em educação básica, em 2016, a Bahema montou seu portfólio de escolas adquirindo nomes badalados do ensino construtivista, como a Escola da Vila e a Escola Parque, com mensalidades que giram numa média de R$ 3 mil. 

Mas o projeto com o maior potencial de expansão da companhia de investimentos da família Affonso Ferreira está na base do ensino privado. 

Criada em 2017 pelo administrador de empresas José Aliperti, a Escola Mais não promete pouco: um computador por aluno, período integral e ensino bilíngue, além de atividades extracurriculares. 

Se a proposta lembra a de escolas conceito voltadas para a classe A, o preço é bem mais em conta: treze mensalidades de R$ 760 por ano para o Ensino Fundamental e R$ 860 para o Ensino Médio. 

Na prática, o colégio se tornou atraente para famílias que antes matriculavam seus filhos em escolas particulares de custo mais baixo, mas que não ofereciam boa qualidade de ensino. 

“Esses pais buscam na escola privada um ambiente com mais segurança e mais estrutura do que o da escola pública, mas se decepcionam com os resultados pedagógicos”, explica Aliperti. 

A pandemia, que acabou por estrangular muitas escolas, se mostrou um vento de popa para a Escola Mais. Muitas famílias migraram para o colégio em busca de preços mais baixos, o que ajudou a instituição, que levantou um cheque de R$ 50 milhões em investimentos no começo do ano, a ter um crescimento robusto.

Hoje, as quatro unidades somam 2200 alunos. Em 2018, quando abriu as portas, eram apenas 60 estudantes. A meta é chegar a 16 escolas e 15 mil alunos até 2025, mas os sócios garantem que o potencial é muito maior. 

“A Escola Mais tem potencial de expansão para todo o Brasil, diferentemente de estabelecimentos como a Escola Parque, que têm forte identificação regional”, diz Cássio Beldi, presidente do conselho de administração da Bahema Educação.

Tecnologia para personalizar (e reduzir custo)

O Brasil tem mais de 179 mil escolas que atendem 47,3 milhões de alunos. Mais de 41 mil delas são privadas — a maioria com apenas uma unidade. 

Enquanto para tíquetes mais altos a consolidação faz mais sentido, a Escola Mais acredita que, na base da pirâmide do ensino privado, o crescimento precisa ser orgânico.

O ‘xis’ da questão é conseguir garantir qualidade a preços baixos. 

A primeira aposta está na tecnologia.

Em condições normais, o tempo dos alunos na escola se divide em três etapas. A primeira delas é a mais tradicional: turmas de 30 a 40 estudantes, com professores ensinando suas disciplinas. 

Depois disso, duas turmas se unem em um salão de estudos e cada um aprende o que quiser ou precisar em seu computador — um pode estar estudando matemática, outro, português. 

A terceira é o Maker Lab, onde os alunos realizam atividades práticas em grupos, que vão da cerâmica à programação, e são encorajados a se comunicar apenas em inglês. 

Segundo Aliperti, a tecnologia utilizada na etapa do salão de estudos e no Maker Lab são essenciais para garantir ao mesmo tempo redução de custos e maior eficiência de aprendizado. 

Ao utilizar a plataforma digital de ensino, o aluno recebe conteúdo personalizado para seu nível de facilidade ou dificuldade na disciplina. O sistema coleta dados que permitem à escola identificar quais são as áreas em que o estudante precisa de mais apoio. Tudo isso com apenas um funcionário por sala de aula. 

O colégio contrata os serviços da Evolucional, empresa que aplica simulados em 2400 escolas de todo o Brasil, para auferir a qualidade de seus métodos pedagógicos. 

Aliperti diz que, em 2020, a evolução acadêmica dos estudantes em matemática foi sete vezes maior do que a da média das escolas que usam o sistema da Evolucional. Em português, foi cinco vezes maior.

Menos é mais 

Outro fator que contribui para baixar o custo da operação é o aproveitamento do espaço físico. “Escolas tradicionais usam de 10 a 12 metros quadrados por alunos, nós trabalhamos com seis”, diz Aliperti. 

Isso graças ao uso do modelo americano, em que os alunos trocam de sala de acordo com a disciplina, e aos salões que reúnem até 80 estudantes em uma mesma sala. 

Com a pandemia, essa vantagem foi eclipsada pela necessidade de os alunos terem que estudar de suas casas, deixando as escolas vazias. 

O sistema teve que ser adaptado e os alunos passaram a participar das atividades à distância — a mensalidade, contudo, continuou a mesma. A experiência da Escola Mais com a trilha de aprendizagem online, segundo os gestores, facilitou o processo. 

As atividades presenciais já foram retomadas, seguindo os protocolos de segurança e o sistema de rodízio, em que as turmas são divididas em grupos menores que frequentam a escola em dias diferentes da semana. 

Ao longo do ano passado, a Escola Mais disponibilizou suas aulas digitais para estudantes de escolas públicas de treze municípios, como São Paulo, Salvador, Petrópolis e Teresópolis, e 40 mil alunos puderam assistir ao conteúdo gratuitamente.

Da escola pública à privada

Administrador de formação, Aliperti trabalhou por alguns anos em banco e nas empresas da família, que tem um grupo de siderurgia, mas nunca tinha gerenciado escolas. 

Seu primeiro contato com o setor de educação foi no Colégio Visconde de Porto Seguro, onde suas filhas estudavam. Ele se tornou membro do conselho da fundação mantenedora da instituição e se envolveu com a oferta de bolsas gratuitas. “Percebi que a educação era muito transformadora e tive vontade de trabalhar mais com esse público”, diz.

Em 2012 ele fundou a empresa Kidu, que fornecia sistemas de ensino focados em atividades extracurriculares, principalmente para escolas públicas. A plataforma oferecia conteúdo com desafios para alunos realizarem na escola, como criação de músicas e construção de objetos. 

Mas com o corte de verbas do Programa Mais Educação, que pretendia ampliar a educação em período integral no Brasil, a companhia acabou fechando no início de 2016. 

Ele e o sócio Günther Mittermayer começaram então a desenhar o projeto de uma escola de baixo custo e a pedagoga Marina Castellani se uniu aos dois. 

“Conversamos com mais de uma centena de investidores”, diz. 

A Bahema deu o capital-anjo para o desenvolvimento do projeto e logo em seguida as gestoras Mint Capital e Agathos Educacional, dona dos colégios Objetivo Anglo, se juntaram a eles com um cheque de R$ 5 milhões para colocar a primeira escola de pé. Em 2019 houve uma nova captação de R$ 16 milhões, seguida do aporte mais gordo, de R$ 50 milhões, no ano passado. 

A Bahema absorveu os outros investidores financeiros e hoje tem 78% da Escola Mais. Os fundadores têm 10% e a opção de recomprar 15% em 2025. O restante das ações é utilizado para plano de remuneração de funcionários.

O desafio agora é mostrar que o modelo, que consumiu bastante capital, pode se tornar lucrativo. A previsão é começar a operar no azul a partir de 2022, com um EBITDA positivo ainda esse ano, diz Aliperti.   

Nos três primeiros trimestres do ano passado, a Bahema Educação acumulou uma receita líquida de R$ 142,5 milhões, mas teve um prejuízo de R$ 28 milhões.

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