Em primeiro fundo com rótulo ESG, Itaú exclui 'pecadoras' e aceita aplicação de R$ 1

Em primeiro fundo com rótulo ESG, Itaú exclui 'pecadoras' e aceita aplicação de R$ 1
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O Itaú acaba de colocar na prateleira de produtos seu primeiro fundo com rotulagem ESG. Trata-se de um fundo de ações com gestão ativa e aplicação mínima inicial de apenas R$ 1, o menor tíquete de entrada entre os fundos ESG disponíveis até agora.

Embora a gestora do maior banco privado do país, com R$ 700 bilhões em ativos, integre a análise de critérios ambientais, sociais e de governança à sua política de investimentos há anos, esse é o primeiro produto pensado desde a concepção para incorporar esses filtros.

“Ter um produto ESG era uma condição necessária para a Itaú Asset, mas não suficiente”, diz Renato Eid, executivo responsável por ESG na gestora, ressaltando que mais importante do que o produto em si, é aplicar os critérios a todos os ativos geridos pela casa. 

Para a estreia, o banco escolheu a família de fundos de renda variável Momento, gerida por Pedro Quaresma e equipe e que tem, ao todo, R$ 3,5 bilhões em patrimônio.

Screening negativo

O ESG Momento agrega duas estratégias de gestão ESG. Além da integração ESG ao valuation das empresas, que já é aplicada a todos os produtos da gestora com maior ou menor rigor, a novidade fica por conta da exclusão de empresas controversas, ou seja, a aplicação do chamado ‘screening negativo’.

Os gestores trabalham com uma lista de empresas envolvidas em controvérsias sociais, ambientais ou de governança que ficam proibidas de integrar sua carteira. 

“É um caminho natural para esse fundo. Mas não queremos dar luz aos nomes dessa lista, porque estamos engajando com essas empresas para que no futuro estejam aptas a integrar o portfólio”, diz Eid.

Pedro Quaresma explica que a lista é “viva”, ou seja, não está escrita em pedra e os nomes variam conforme a evolução das empresas. Atualmente, são oito companhias excluídas.

Para selecionar os papéis da carteira, os gestores partem do mesmo ponto que os demais produtos da família: um universo de aproximadamente 100 empresas líquidas. A partir daí, são selecionadas aquelas que a equipe considera ter a melhor qualidade de negócio e gestão e bom potencial de valorização.

Entra em campo, então, a análise ESG, quando as equipes de Quaresma e Eid discutem os casos para fazer a seleção dos papéis que podem entrar e também fazer exclusões. “É a hora em que descubro coisas que não estavam no nosso radar”, diz Quaresma.

Assim como nos demais fundos da casa, é empregado o modelo desenvolvido pelo Itaú para atribuir um valor a cada um dos riscos e oportunidades ESG mapeados pela equipe de Eid. O cálculo envolve análise de potencial impacto sobre fluxo de caixa e custo de capital das companhias e probabilidade de ocorrência. 

Esses valores são trazidos a valor presente e incorporados ao valuation da empresa, ajudando a calibrar o peso do papel na carteira.

A ideia é que sejam selecionadas de 15 a 25 ações para o fundo. Hoje são 19 papéis e os gestores não abrem quais, mas dizem que há presença dos setores elétrico, de serviços financeiros, de tecnologia e varejo.

“Se tivermos uma empresa excelente em ESG, mas ela estiver cara, não vai entrar na carteira. Por outro lado, se a companhia é um caso de investimento fantástico, sem um caso ESG tão sólido, mas que passou no nosso crivo, vamos calibrar o valuation e definir o espaço dela no fundo”, resume Quaresma.

Como são duas dezenas de papéis, o fundo tem capacidade de manter a estratégia de investimento até atingir um patrimônio de R$ 1 bilhão, algo ainda bem distante. A partir dessa cifra, a política tem que ser revista. 

O “G” no DNA

Eid explica que a decisão de escolher a família Momento para começar a trazer os produtos rotulados para a prateleira do Itaú tem a ver com o histórico de Pedro Quaresma.

O gestor chegou à Itaú Asset no ano passado, convidado pelo novo CEO, Rubens Henriques, dentro de uma política de criar várias mini assets com abordagens distintas de gestão dentro da casa.

Depois de passar pelas gestoras independentes JGP e Pólux, Quaresma havia fundado a STK Capital nove anos atrás. 

“Na STK, a preocupação com a governança sempre foi muito forte, com uma abordagem mais investigativa, mais profunda, porque estar no Novo Mercado não basta.” 

Ao chegar ao Itaú, diz Quaresma, foi natural aproveitar o trabalho de integração ESG que o Itaú já fazia e conectá-lo ao seu método de gestão.

Fundo de ‘nova geração’

Pode-se dizer que o Momento é um fundo sustentável de ‘nova geração’, mais sofisticado, na gestora. Até agora, havia algumas opções de gestão passiva e pouco badalados. Desde 2004, o banco oferece o Itaú Excelência Social, que tem atualmente um patrimônio de R$ 105 milhões. Referenciado no ISE, o índice de sustentabilidade da B3, faz a doação de metade da taxa de administração a projetos ligados à Fundação Itaú Social. Dois ETFs completam a gama de produtos sustentáveis até agora — um também atrelado ao ISE e outro ao IGCT, índice de governança corporativa.

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