Em novo fundo, Fram Capital quer encontrar empresas sustentáveis além das 'estrelas' do ESG

Em novo fundo, Fram Capital quer encontrar empresas sustentáveis além das 'estrelas' do ESG
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A prateleira de produtos de investimento com o rótulo ESG (ambiental, social e de governança) vai aos poucos ganhando variedade — e com estratégias de gestão distintas.

Depois de um ano de testes em uma carteira teórica, a gestora Fram Capital acaba de colocar na rua o fundo de ações Hanssen ESG. 

“É um fundo ESG que aplica um filtro negativo e que faz gestão ativa da carteira”, diz Fernando Sanchez, um dos gestores do portfólio, ao lado de Roberto Nemr.

Explicando: sobre o universo de papéis do Ibovespa, a gestora aplica um filtro de critérios ESG. As ações são avaliadas de acordo com determinados parâmetros elaborados pela provedora de análise Resultante e recebem uma nota ESG. 

Os papéis mal ranqueados segundo esse score não passam na peneira. É o filtro negativo em ação.

Cerca de 40 ações mais bem classificadas se tornam elegíveis para serem escolhidas para a carteira. Vem, então, a etapa de análise e discussão com Felix Boudreault, o analista ESG responsável por acompanhar o fundo. 

Aqui a abordagem é ‘top down’, ou seja, entram na análise as tendências ESG para cada setor.

Por fim, levando em conta a avaliação das ações e seu potencial de valorização, os gestores fazem sua seleção. “É um fundo de 15 ações no máximo, com visão de mais longo prazo”, diz Nemr. 

O que não impede que os gestores executem, em paralelo, alguns movimentos táticos. “Nos interessam empresas que já têm um bom posicionamento ESG ou aquelas com potencial de melhorar”, completa.

Sem estrelas 

Os gestores explicam que o fundo tende a deixar de lado estrelas ESG, uma vez que tendem a estar valorizadas e com menor potencial de ganho.

Por outro lado, ações que não são exatamente uma unanimidade quando se fala em critérios socioambientais e de governança podem aparecer na carteira — o que pode ser polêmico.

É o caso, por exemplo, do frigorífico BRF, que atualmente integra o fundo.

Boudreault tem uma visão negativa sobre o setor de frigoríficos, mas a equipe considera que BRF é ‘menos pior’, por assim dizer.

“O setor de frango é menos prejudicial para o meio-ambiente que o de carne bovina. Quando se olha a governança, a BRF vai muito melhor do que a JBS. Pode-se dizer que é a melhor em uma classe polêmica”, diz Nemr. 

“Achamos que a BRF está melhor posicionada em ESG do que a Beyond Meat, por exemplo, por causa do consumo de água e do desmatamento associado à produção de soja. Além da grande quantidade de sódio nos alimentos a base de planta”, diz Sanchez.

Três papéis estão banidos da carteira, segundo o regulamento do fundo: Petrobras, Vale e Forjas Taurus. Embora não proibido, o setor siderúrgico, altamente poluente, não agrada os gestores.  

Na fase de testes, a carteira performou bem. Em 12 meses até 31 de julho, a valorização foi de 16,34%, ante 1,08% do Ibovespa. No ano, o fundo cai 2,79% contra queda de 11% do benchmark. 

Mas Fernando Sanchez prefere não alardear esse desempenho como promessa de ganhos. “Eu posso errar. Nós podemos errar.”

A aplicação mínima é de R$ 25 mil e a movimentação mínima, de R$ 1 mil. A gestora está em conversas para que o fundo seja distribuído via plataformas de investimento.

Teste de estratégias

Com R$ 1,2 bilhão sob gestão, a Fram foi fundada por Henry Gonzalez, egresso do Santander, em 2007. Seu foco principal está em private equity e desde o ano passado Fernando Sanchez se juntou ao time para fazer um trabalho de integração ESG na casa.

Sanchez conta que vem testando teses ESG há quatro anos. O trabalho começou num single-family office de uma família empresária do Sul do país com forte inclinação para investimentos sustentáveis.

“O ESG não é uma estratégia. É uma métrica que te cospe um número, um dado. E a partir dele você define a sua estratégia”, opina. 

Ele diz preferir a estratégia de filtro negativo, em que empresas de baixo score são excluídas do universo passível de receber investimento, porque seus testes indicaram que no mercado brasileiro a estratégia de filtro positivo não deu bons resultados. 

O filtro positivo ou “positive screening” é a seleção de empresas consideradas ‘best-in-class’ pelos critérios ESG.

“O Brasil tem poucos emissores e alta volatilidade e a performance do fundo tende a ser inferior ao do índice amplo, porque a estratégia privilegia papéis com ótima nota ESG e que já são mais caros. Essa estratégia só vai bem quando o mercado derrete, porque os papéis perdem menos. Acho que o filtro positivo funciona bem para fundos setoriais, quando o Ibovespa não interessa como referência”, completa. 

(Crédito da imagem: Markus Spiske/Unsplash)