Em manifesto, empresas brasileiras propõem ação coordenada para deter desmatamento na Amazônia

37 companhias, entre elas Itaú, Santander, Natura, Marfrig e até Eletrobras, endossam adoção de mecanismos de crédito de carbono e pacotes de recuperação econômica atrelados a incentivos verdes

Incêndio florestal Queimada
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Depois dos investidores internacionais, um grupo de ao menos 37 grandes grandes empresas brasileiras vem a público para demonstrar preocupação com a condução da política ambiental do país e seus impactos sobre os negócios e propor uma ação coordenada pelo desenvolvimento sustentável. 

Num manifesto, que deve ser lançado oficialmente amanhã e ao qual o Reset teve acesso, as empresas locais demonstram preocupação com o desmatamento na Amazônia. E endossam a adoção de mecanismos de crédito de carbono e pacotes de recuperação econômica pós-covid condicionadas a uma economia circular e de baixa emissão de CO2. 

O documento foi protocolado hoje no Palácio do Planalto e já havia sido apresentado ao vice-presidente Hamilton Mourão no fim da semana passada.

Entre os signatários estão os bancos Itaú e Santander, empresas como Natura, Suzano, Klabin, Vale, Marfrig, JSL e Movida e até a Eletrobras, controlada pelo próprio governo federal. 

“Esse grupo acompanha com maior atenção e preocupação o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia”, dizem as empresas no manifesto, assinado pelos respectivos CEOs ou presidentes de conselho.

“Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”. 

O documento conta ainda com o endosso da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Associação  Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). 

A articulação foi feita pelo Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que também é signatário, e vem há anos trabalhando na agenda de economia de baixo carbono.

O CEO de uma das signatárias do manifesto diz que está começando a se formar dentro do mundo empresarial brasileiro o sentimento de que a imagem negativa do Brasil na área ambiental vai começar a doer no bolso.

“Há quem assine o documento por acreditar na relevância do tema, mas também há um grupo que percebeu que vai ter perdas se não fizer nada. Os presidentes de multinacionais têm sido pressionados por suas matrizes a aderir à causa”, observa.

De qualquer forma, nota esse CEO, o importante é que há uma conjunção de interesses empresariais em favor da Amazônia hoje.

Na carta, o grupo se coloca à disposição do Conselho da Amazônia para contribuir com soluções para o combate ao desmatamento ilegal na floresta e nos demais biomas, e a inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas. 

Outras áreas de contribuição, afirmam, são a “minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais”, a “adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono” e o “direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular de baixo carbono”.

Assinam o documento: Agropalma, Alcoa, Amaggi, Bayer, BrasilAgro, Cargill, Cosan, DSM, Ecolab, Eletrobras, ERM, Grupo Vamos, Iguá Saneamento, Itaú, Jacto, JSL, Klabin, LVMH, Marfrig, Mauá Capital, Michelin, Microsoft, Movida, Natura, Rabobank, Santander, Schneider Electric, Shell, Siemens, Sitawi, Stefanini, Suzano, Ticket Log, TozziniFreire, Vale, Vedacit e WeWork. 

O CEBDS ofereceu a todos os seus 59 associados a oportunidade de assinar o manifesto, mas nem todos decidiram fazê-lo.

Até o início da noite, Ambev e Bradesco não haviam tomada uma decisão.

Braskem e Lojas Renner também são associadas que até agora não aparecem entre as signatárias. Por motivos óbvios, ficaram de fora Banco Central e Casa da Moeda.

Mas houve não associadas que subscreveram o documento, como Movida e JSL. O Magazine Luiza também foi convidado a assinar, mas até hoje ainda não havia aderido. Segundo um signatário, o prazo dado para adesão foi relativamente curto, o que pode ter dificultado a participação de algumas empresas com mais níveis hierárquicos.

Chamam atenção entre as signatárias empresas que vêm sendo cobradas por uma postura mais assertiva sobre desmatamento na cadeia de suprimento e produção, como Marfrig, Cargill e BrasilAgro. Além é claro da Vale, protagonista de dois dos maiores desastres ambientais do país.

Mas, num país em que as empresas raramente se contrapõem ou cobram publicamente o governo, o manifesto é um marco.

A carta vem num momento de pressão dos investidores internacionais diante da disparada dos níveis de desmatamento na Amazônia.

Há 10 dias, investidores globais que representam quase R$ 20 trilhões em ativos enviaram carta aberta a embaixadas brasileiras em oito países manifestando preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil, citando “desmantelamento de políticas ambientais e de direitos humanos”. 

Nesta semana, representantes do governo têm reuniões marcadas com investidores para tentar fazer uma contraofensiva. Mas os bastidores são de que o governo está mais preocupado em melhorar a imagem e mostrar que “há Brasil além do desmatamento” do que efetivamente mostrar ações concretas para coibir a derrubada da vegetação. 

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