Dívida ESG deve bater US$ 1,35 tri em 2022, calcula a Moody’s

Agência alerta para maior escrutínio dos investidores em relação à qualidade das metas ambientais e sociais adotadas pelas empresas emissoras

Moody's estima que o mercado de dívida ESG baterá novo recorde em 2022, a US$ 1,35 trilhão
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Em 2021, o volume de títulos de dívida com atributos ESG foi recorde no mundo e chegou a quase US$ 1 trilhão. Nem bem o ano começou e uma estimativa aponta que este ano um novo recorde deve ser atingido, com US$ 1,35 trilhão em bonds sustentáveis. O cálculo é da Moody’s, em relatório que acaba de ser divulgado

Se confirmada, a nova cifra representará o dobro do que foi emitido em 2020 e um crescimento de 36% sobre o total de 2021, considerando todos os tipos de dívida ESG, de green bonds a sustainability-linked bonds. Com isso, os títulos de dívida sustentáveis passarão a representar uma fatia de 15% do volume total de bonds emitidos no mundo todo – esse percentual foi de 11,3% em 2021 e apenas 6,7% em 2020.

Mas a taxa também representará um crescimento menos acelerado do que os 64% registrados no ano passado. (Aqui no Brasil, a emissão desse tipo de papel também foi recorde em 2021.)

“Nossas projeções refletem expectativas de taxas de crescimento em queda gradual à medida que o mercado amadurece, e potenciais ventos de cauda do aperto da política monetária”, diz a Moody’s.

“Mas ainda esperamos uma expansão saudável de dois dígitos em volumes este ano, já que o número de empresas emissoras incorporando estratégias de sustentabilidade em sua estratégia de mercado de capitais continua em trajetória ascendente.”

Os chamados green bonds, o tipo de dívida ESG mais antigo, em que os recursos captados são carimbados para uso específico em um projeto com benefícios ambientais, devem responder por mais da metade do volume, ou US$ 775 bi.

Já os social bonds, que ganharam tração em 2020 e 2021 por conta do financiamento de medidas para combater os impactos sociais da pandemia de covid-19, já começaram a perder força no segundo semestre do ano passado e, para a Moody’s, devem encolher 25% este ano, para US$ 150 bilhões.

Na outra mão, um tipo de dívida ESG que deve continuar ganhando cada vez mais espaço são os sustainability-linked bonds, em que o dinheiro não é carimbado para projetos específicos e, em vez disso, a empresa se compromete com metas de desempenho ESG gerais, enquanto tem mais liberdade para o uso do seu caixa.

Esse tipo de papel saiu de meros US$ 9 bi em 2020 para US$ 90 bilhões no ano passado e agora pode mais que dobrar para US$ 200 bilhões neste ano. Os SLBs têm permitido que uma variedade maior de empresas acesse a piscina de recursos para investimentos sustentáveis, uma vez que nem todas têm projetos elegíveis para os green e social bonds.

Mas a agência faz um alerta que tem preocupado especialistas também aqui no Brasil: está aumentando o escrutínio dos investidores sobre a credibilidade e a robustez dos principais indicadores de desempenho (KPIs) e metas de desempenho de sustentabilidade (SPTs) incorporados nos SLBs, o que representa um risco para a projeção de crescimento desse mercado. 

A agência chama especial atenção para os compromissos de net zero, conforme cresce a demanda das empresas para financiar a transição para uma economia de baixo carbono via o mercado de capitais.

“Para empresas que usam KPIs focados em emissões de carbono, por exemplo, excluir as emissões de escopo 3 de suas metas – quando as emissões do escopo 3 são uma parcela significativa da pegada de carbono geral de uma empresa – podem resultar em metas sem a cobertura necessária para descarbonizar com credibilidade as operações da empresa”, diz o relatório.

Algumas medidas recomendadas para fazer bonito perante os investidores: adotar metas para prazos intermediários e não apenas no vencimento do papel, mostrar o desempenho histórico dos indicadores escolhidos, se apoiar em critérios baseados na ciência para medir os indicadores, ter transparência e abrangência dos escopos de emissões de gases e, por fim, ter uma dependência limitada de compensações (offsets) via compra de créditos de carbono.