Dimon, do JP Morgan: Não dá para abandonar os combustíveis fósseis

Em sua mais longa carta anual aos acionistas, CEO se defendeu das críticas que recebe por ser o maior financiador de fontes de energia suja do planeta

Dimon, do JP Morgan: Não dá para abandonar os combustíveis fósseis
A A
A A

Na mais longa carta que já escreveu aos acionistas do JP Morgan Chase, o CEO Jamie Dimon dedicou duas das 66 páginas a se defender de críticas que o maior banco americano vem sofrendo por ser também o maior financiador de fontes de energia suja do mundo.

“A solução não é tão simples quanto abandonar os combustíveis fósseis”, disse o executivo, que discorreu sobre os desafios da transição para uma economia de baixo carbono.

Dimon escreve que carvão, petróleo e gás natural foram os motores do desenvolvimento econômico por muitas décadas, mas reconhece que, agora, a dependência do mundo desses recursos ameaça até mesmo o próprio crescimento que proporcionaram. 

E, para ele, o mundo já passou do ponto de debater se a mudança climática é ou não uma ameaça real.

No entanto, ele tentou demonstrar que a realidade exige gradualismo — e que a instituição seguirá financiando projetos de energias fósseis por um bom tempo ainda.

“Embora as tecnologias eólica e solar tenham feito grandes avanços, são usadas principalmente para geração da eletricidade. Não temos alternativas limpas para as demandas de energia da indústria e das manufaturas, por exemplo. Nem temos ainda soluções para transporte pesado, como caminhões e viagens aéreas. Além do mais, o crescimento projetado de tecnologias como veículos elétricos vai colocar uma enorme pressão sobre a necessidade de minerais raros da terra — o que também impõe desafios geopolíticos e ambientais”, resumiu. 

E arrematou: “Abandonar as empresas que produzem e consomem esses combustíveis não é uma solução. Além disso, é economicamente contraproducente. Em vez disso, devemos trabalhar com elas.”

O JP figura como o banco que mais financia projetos de combustíveis fósseis no mundo, segundo relatório da Rainforest Action Network divulgado recentemente. Apenas em 2020, foram US$ 51,3 bilhões em financiamento, o que indica uma ligeira queda em relação ao ano anterior. No entanto, desde 2016, o JPMorgan emprestou US$ 317 bilhões para estes projetos, cerca de 33% a mais que o segundo colocado, o Citi. 

Em outubro passado, o banco anunciou um compromisso relacionado ao Acordo de Paris pelo clima que deixou dúvidas no ar.

O banco não se comprometeu explicitamente a neutralizar todo o seu portfólio de crédito até 2050, como fizeram alguns de seus pares. 

Segundo Dimon explica na carta, a ideia é alinhar as operações de crédito de três setores intensivos em carbono ao Acordo de Paris: óleo e gás, energia elétrica e fabricação de carros. 

A ideia é medir a intensidade das emissões dos clientes e comparar a performance com metas setoriais de redução, com o objetivo de ajudá-los a reduzir sua pegada de carbono.

Além de figurar como o maior financiador de energias poluentes do mundo, o banco apareceu em destaque num outro estudo divulgado hoje pelo jornal britânico The Guardian, que mostra como os conselheiros de administração dos maiores bancos americanos têm ligação com a indústria de óleo e gás

Nesse sentido, a pressão de acionistas resultou na renúncia de Lee Raymond, o ex-presidente-executivo da petrolífera ExxonMobil, do conselho do JPMorgan, em dezembro. 

LEIA MAIS

Gestores criticam bancos por levar petroleira à bolsa