Diário da COP: Ver e ser visto

Notícias e bastidores direto da cúpula do clima da ONU, em Sharm el-Sheikh

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Ver e ser visto

Sharm el-Sheikh — Entre hoje e amanhã acontece a reunião dos líderes mundiais que decidiram comparecer à COP27. O encontro foi batizado de “Cúpula da Implementação”, indicando a necessidade de acelerar as medidas práticas na luta contra a mudança do clima.

São esperados cerca de 110 chefes de Estado e de governo. Mas, como sempre acontece nessas ocasiões, certas ausências costumam chamar mais atenção que as presenças.

O russo Vladimir Putin está em guerra; o chinês Xi Jinping ainda não sai do país desde o começo da epidemia; Narendra Modi, da Índia, também é outro no-show. Joe Biden, em meio a uma tensa campanha eleitoral, deve aparecer só na segunda semana.

Uma presença de Jair Bolsonaro nunca foi considerada, mas até agora não se sabe quem será o representante de mais alto escalão a representar o Brasil. Lula deve comparecer no dia 14, para uma programação extraoficial.

‘Cooperar ou perecer’

Como vem fazendo em seus últimos discursos, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, escolheu palavras dramáticas para abrir o encontro de líderes mundiais que acontece na COP27.

O português pediu a criação de um Pacto de Solidariedade do Clima, para que todos os países façam um “esforço extra” para manter vivas as esperanças de manter o aumento da temperatura limitado a 1,5°c. Eis algumas frases da fala de Guterres:

“Estamos na estrada do inferno climático, com o pé no acelerador.”

[A mudança climática] “É a questão que vai definir nossa era. É desafio central de nosso século. É inaceitável, ultrajante e contraproducente deixá-la em segundo plano.”

“As duas maiores economias – China e Estados Unidos – têm responsabilidade particular para unir esforços e tornar realidade esse pacto. É nossa única esperança de alcançar nossos objetivos climáticos. A humanidade tem uma escolha: cooperar ou perecer.”

“Obter resultados sobre perdas e danos será o teste definitivo do compromisso dos governos com o sucesso da COP27.”

Cheia de Sharm

A cidade-sede da COP27 é o resort egípcio de Sharm el-Sheikh, no sul da Península do Sinai. Conhecida pelas águas cristalinas do Mar Vermelho, pelos resorts all-inclusive e pelos turistas europeus fugindo do frio, a cidade enxerga na COP27 uma esperança de se reerguer.

Depois do baque da pandemia, Sharm agora sofre com o virtual sumiço dos visitantes russos e ucranianos. Os dois países são tão importantes para a economia local que muitas placas são trilíngues: árabe, inglês e russo.

No ano passado, 31% dos estrangeiros que visitaram o Egito vieram da Rússia ou da Ucrânia. O turismo responde por 15% do PIB egípcio.

Offline

Mais de 50.000 pessoas, entre delegados, representantes da sociedade civil e jornalistas, estão credenciados para participar da COP27. A julgar pela primeira impressão, serão duas longas semanas.

Em quase todo o enorme espaço do Centro de Convenções Tonino Lamborghini o wifi não funcionava (nome da rede: plugnplay). Filas enormes se formavam nos quiosques da operadora Vodafone.

A sinalização do evento também é insuficiente. No final do primeiro dia, folhas de papel impressas na última hora tentavam direcionar os participantes para a saída.

Os estandes de venda de comida estavam sempre abastecidos e com muitos e prestativos atendentes. Mas o serviço é demorado. Um único funcionário faz a função de caixa. Com um bolo de dinheiro na mão, ele é o responsável pela contagem do dinheiro e pelo troco.

O jornalista viajou a convite da International Chamber of Commerce