De mulher para mulher: A Wishe capta dinheiro delas para startups fundadas por elas

De mulher para mulher: A Wishe capta dinheiro delas para startups fundadas por elas
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Apenas 7% do capital semente é destinado a startups fundadas exclusivamente por mulheres em termos globais. Na série ‘C’ de captação, esse percentual cai dramaticamente para 2%, segundo o Crunchbase.

Na outra ponta, há pouquíssimas mulheres fazendo investimentos de risco. Um levantamento da Anjos do Brasil indicou que apenas 7% dos investidores anjo no país são mulheres.

A Wishe nasceu no começo deste ano para tentar unir as duas pontas e fechar ambos os gaps. Como no slogan cantarolado das Lojas Marisa, trata-se de um hub de investimentos focado em levantar capital “de mulher para mulher”.

Não que os bolsos masculinos não sejam bem-vindos.

Muito pelo contrário — até porque pesquisas indicam que o patrimônio acumulado por homens é bem superior ao das mulheres. Mas a missão é trazer o percentual de mulheres nas rodadas de captação para patamares mais equânimes.

“A jornada empreendedora da mulher é mais desafiadora por ‘n’ razões. Hoje há cada vez mais pessoas, uma rede de apoio, olhando para conhecimento, mentoria, aceleradoras, mas o componente do capital estava descoberto e, no fim das contas, o cheque faz toda a diferença para você ter sucesso no negócio”, diz Rafaela Bassetti, fundadora e CEO da Wishe.

Mineira e advogada de formação, Bassetti enveredou para a área financeira ao fazer um estágio na fabricante de fornos refratários Magnesita logo que a empresa foi comprada pela GP Investimentos.

Na volta de um mestrado em Harvard, teve a certeza de que queria seguir no mundo financeiro, mas começou a namorar com os negócios de impacto social e, depois da maternidade (ela tem três filhos), passou a se conectar com redes de apoio a mulheres empreendedoras.

Com a Wishe, a princípio a ideia era apenas criar um fundo de venture capital voltado para startups com liderança feminina.

Mas, com o desejo de trazer mais mulheres para a rodada inicial de captação, ensinando-as a investir e democratizando esse acesso, o projeto acabou se voltando também para a criação de uma plataforma de equity crowdfunding, que aceita cheques a partir de R$ 500. 

Em pouco tempo, formou-se uma fila de empreendedoras interessadas em receber capital.

“Temos empreendedoras em diversas fases e por isso construímos uma régua de relacionamento que cobre toda a jornada delas, desde a fase da ideação, até a fase de tração”, diz Bassetti.

Na prática, isso quer dizer que a Wishe oferece soluções de acesso a recursos diferentes para negócios em estágios distintos. No caso de mulheres que tiveram uma ideia, mas ainda precisam testar o mercado e fazer o protótipo do produto ou serviço, a Wishe consegue criar uma campanha de financiamento coletivo tradicional.

“Só que em vez de doações com recompensas, funciona como a pré-venda do produto. Disponibilizamos o acesso ao produto e montamos uma base de ‘early adopters’ que vão ajudar nos testes com suas impressões.”

Mas, diferentemente dos financiamentos coletivos convencionais, em que qualquer interessado em captar pode cadastrar o projeto na plataforma, na Wishe só entram aqueles que passaram por uma curadoria. “A gente pinça e seleciona as mulheres que têm boas ideias, que podem se tornar startups sólidas.”

Para negócios que já testaram o produto, sabem que existe um mercado e têm os seus primeiros clientes, a solução é dar acesso ao capital semente, que pode vir de duas formas: um ‘matchmaking’ entre fundadoras e investidores anjo da rede de relacionamento da Wishe e uma rodada de equity crowdfunding.

As duas opções podem ser usadas separadamente ou combinadas. “Essa é a solução para quem precisa daquela primeira injeção de gasolina para acelerar, com cheques entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão”, diz Bassetti.

Perfumes e o dinheiro delas

A primeira startup do portfólio é a Amyi, uma startup de perfumaria que levantou R$ 1 milhão em setembro. Pouco mais da metade veio da GVAngels, que reúne ex-alunos da Fundação Getúlio Vargas, e a outra fatia da rede mobilizada pela Wishe.

“Dos 11 investidores que colocaram R$ 415 mil, seis são mulheres, numa participação de 55%, bem superior à média de mercado”, diz Itali Collini, sócia líder do comitê de investimento da Wishe e diretora da 500 Startups no Brasil. Em termos de valores, o cheque das mulheres foi um pouco menor, correspondendo a 45% do total levantado.

Agora, a Wishe está promovendo sua segunda captação, para a startup HerMoney, uma assistente financeira virtual que se propõe a organizar as contas de negócios fundados por mulheres. A meta é levantar R$ 600 mil, sendo 80% de anjos e anjas e 20% com um equity crowdfunding.

A dor a ser resolvida, neste caso, é enorme.

Segundo dados do Sebrae, há 24 milhões de mulheres empreendedoras no país e 66% delas não fazem a gestão financeira dos seus negócios.

“Elas não têm tempo de fazer a gestão financeira, por causa da sobrecarga do dia-a-dia. Quando a nossa assistente financeira virtual faz essa gestão para ela, torna possível a sobrevivência do negócio”, disse a fundadora Andrezza Rodrigues em um encontro virtual com investidores anjo organizado pela Wishe nesta semana. 

Em 2021, o plano da Wishe é tirar do chão a ideia original de um fundo de venture capital e ganhar autonomia para vôos um pouco maiores.

As conversas com potenciais investidoras e investidores estão no início. “A ideia é conseguir dar cheques maiores, numa estratégia mais tradicional de venture capital. Queremos poder acompanhar as startups nas rodadas seguintes de captação”, diz Collini.