De cosméticos a cripto, as cinco startups amazônicas selecionadas pela Amaz

Aceleradora de impacto acaba de escolher os negócios que receberão investimentos e serão acelerados em 2023

A Manawara é uma das cinco startups selecionadas na segunda chamada de aceleração de impacto da Amaz
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A Amaz, aceleradora de negócios de impacto na Amazônia, acaba de selecionar as cinco startups que integrarão a segunda turma de seu programa de aceleração, com início em janeiro de 2023.

Como aconteceu na primeira leva, a seleção visou diversificar seu portfólio, integrando negócios que tenham potencial de crescimento com respeito ao meio ambiente e impacto econômico na região. 

As startups Cumbaru, Ekilibre Amazônia, Mazô Maná Forest Food e Manawara, sediadas na Amazônia Legal, e Impacta Finance, desenvolvida em Jundiaí (SP), são negócios bastante distintos e em diferentes fases de tração.

Por isso a Amaz decidiu diminuir para cinco o número de selecionadas – foram seis na primeira turma de acelerados, em 2022.

“Houve um ajuste na operação para conseguirmos uma dedicação mais individualizada a cada negócio”, explica Mariano Cenamo, fundador e CEO da Amaz. “E também redistribuímos os valores de investimento inicial considerando as respectivas demandas.”

Quatro receberão R$ 200 mil, como as deste ano, e duas terão investimentos um pouco mais altos. “O investimento inicial total é de R$ 1,2 milhão”, diz Cenamo, sem revelar quem receberá mais, nem quanto.  

“Acreditamos muito no poder de construção dos negócios em grupo, mas existe uma necessidade grande de investimentos e aprendizados individuais. A Manawara já tem toda a produção rodando, mas tem de formatar maneiras de potencializar seu impacto. A Mazô Maná deve estruturar sua modelagem de carbono. A Impacta Finance precisa mergulhar no portfólio de negócios que pode impactar, além de ajustar seus serviços para disponibilizar ao mercado. Não podemos acelerar todo mundo como se fossem um mesmo produto de prateleira. Não são.” 

Segundo a Amaz, o potencial de impacto aproximado dos cinco negócios selecionados, num período de cinco a dez anos, é de mais de 1 milhão de hectares de floresta preservados e 2.000 hectares de florestas recuperados, além de centenas de fornecedores comunitários beneficiados e um aumento no fluxo de investimentos na região amazônica em R$ 50 milhões.


Negócios diversos

A Manawara, com sede em Manaus, produz doces veganos sem glúten que tenham pelo menos 51% de ingredientes da Amazônia. Seu principal produto são balas de goma feitas não com gelatina, mas com um tipo de pectina desenvolvida especialmente para a marca.

Segundo Mércio Sena, CEO da empresa, o ineditismo do produto rendeu à empresa o prêmio de inovação na Sial Paris, a segunda maior feira de alimentos do mundo. 

Sena explica que a parceria com a Amaz e o Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), que coordena a aceleradora, será fundamental para que eles potencializem seus impactos.

“Já temos um modelo de franquias desenhado, pronto para ser implementado dentro e fora do Brasil. E ser acelerado por eles neste momento é fundamental.” A estratégia de crescimento rápido da Manawara requer estruturação de fornecedores de matéria prima a partir da produção agroflorestal e extrativista.

Com sede em Jundiaí, no interior de São Paulo, a Impacta Finance é uma startup que mapeia e ranqueia ativos cripto disponíveis para investidores segundo seus impactos socioambientais. Ao ingressar na aceleração, a ideia é passar também a desenvolver novos ativos baseados na biodiversidade da região, diz Rafaela Romano, fundadora da Impacta.

A Mazô Maná Forest Food, de Altamira (PA), produz e comercializa alimentos funcionais liofilizados, as chamadas superfood.

A marca trabalha com ingredientes da floresta oriundos do extrativismo sustentável e comunitário – mobiliza hoje 14 associações da Rede de Cantinas da Terra do Meio, que engloba cinco terras indígenas e três reservas extrativistas. Entre seus fundadores há nomes estrelados como Bela Gil e Alex Atala.

“Estamos começando a jornada e o apoio da Amaz vai ajudar no refinamento do modelo e das métricas de impacto, na assessoria jurídica para lidar com as complexidades das relações que esse desafio traz”, diz Marcelo Salazar, cofundador da Mazô Maná. “Além da troca com outras empresas que enfrentam desafios semelhantes.”   

A Cumbaru, de Cuiabá (MT), recupera pastagens degradadas por meio de manejo sustentável e implantação de sistemas agrossilvipastoris, que combinam lavouras, árvores e pastagens.

Suas parcerias rurais focam em investimento e assistência técnica para pequenos e médios produtores rurais para que possam ganhar eficiência e reduzir o desmatamento. 

Cosméticos naturais veganos são os produtos da Ekilibre Amazônia, que já está no mercado há uma década, com loja própria há oito anos. Cerca de 95% dos insumos dos produtos da marca são extraídos por comunidades do oeste do Pará de maneira sustentável. O portfólio já conta com 50 itens.  

Selo

Além do aprendizado e do capital que recebem como investimento durante o processo, as startups entram para um ecossistema valioso.

“Para nós, muito mais do que o dinheiro, que já tínhamos captado, estar com a Amaz trouxe uma legitimidade nas relações amazônicas, uma espécie de selo de qualidade dos negócios de impacto da região”, diz Max Petrucci, fundador da Mahta, empresa de superfood acelerada em 2022, na primeira turma.      

Os cinco selecionados saíram de um total de 96 inscritas – 26 delas originárias do Amazonas, 20 do Pará, 10 de Rondônia, 5 de São Paulo e de outros 11 estados, além do Distrito Federal.

O número foi bem mais baixo que o da primeira chamada, que teve 156 inscrições. Para Cenamo, a queda tem ligação com uma queda também em investimentos. “É fundamental que haja investimentos para a construção de um pipeline mais diverso e de alto impacto.”