Conselho da Vibra confirma chapa com ex-Vale Fabio Schvartsman e desagrada Previ e JGP

Conselho da Vibra confirma chapa com ex-Vale Fabio Schvartsman e desagrada Previ e JGP
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O conselho de administração da Vibra Energia acaba de encaminhar para votação na assembleia de acionistas marcada para 28 de abril a chapa de conselheiros de composição estelar articulada por um grupo de acionistas liderado pela gestora Dynamo e que detém cerca de 20% do capital da companhia. 

A confirmação deixa descontentes dois outros investidores, Previ e JGP, que têm manifestado desagrado nos bastidores da companhia há mais de um mês por causa da presença de Fabio Schvartsman em sua composição. O executivo presidia a Vale quando ocorreu o rompimento da barragem de Brumadinho, que matou 270 pessoas, em janeiro de 2019. 

Em conversas com outros acionistas, representantes de ambos têm repetido que não se trata de fazer um pré-julgamento ou atribuir culpa a Schvartsman. O problema, dizem, é reabilitar o executivo para um cargo em companhia aberta antes que ele seja julgado por uma das maiores tragédias humanas e ambientais do país – e o recado que se passa à sociedade com isso.

A Justiça mineira havia acatado em 2020 denúncia de homicídio qualificado feita pelo Ministério Público de Minas Gerais, mas Schvartsman deixou o banco dos réus em outubro passado quando sua defesa obteve vitória no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou que a ação penal é de competência da Justiça Federal. Com isso, foi extinto o processo em Minas e a expectativa agora é com a abertura de processo na esfera federal, o que deve demorar.

Procurada, a Previ não se posicionou até a publicação do texto. A JGP não quis comentar. 

A chapa nasceu bem amparada e, apesar da tensão e dos movimentos que Previ e JGP ainda podem tentar, tudo indica que será eleita. Trata-se da primeira formação do colegiado da antiga BR Distribuidora desde que o governo deixou seu quadro de acionistas.

Com a ideia de equipar o conselho da ex-estatal para dar curso a uma estratégia de transição energética, as gestoras Dynamo, Bogari e Verde apresentaram em meados de fevereiro a proposta de chapa com nomes de peso. 

Para a presidência, Sergio Rial, ex-CEO do Santander Brasil, atualmente chairman do banco e que ontem foi eleito vice-chairman da Marfrig. Além dele, Walter Schalka, CEO da Suzano, Nildemar Secches, ex-CEO da Perdigão, e duas mulheres com grande conhecimento em assuntos climáticos: Ana Toni, presidente do Instituto Clima e Sociedade (ICS), e Clarissa Lins, consultora em estratégia e sustentabilidade e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis. Três conselheiros da gestão atual e Schvartsman completam as nove cadeiras.

As três assets têm juntas cerca de 10% das ações da empresa, que passou a ter capital pulverizado desde a saída do governo do quadro de acionistas. A Dynamo vota ainda com as ações do investidor Ronaldo Cezar Coelho, o maior acionista da Vibra, com quase 10% dos papéis por meio do fundo Samambaia.

Cada uma à sua maneira, Previ e JGP carregam marcas do acidente de Brumadinho.

O fundo de pensão era integrante do bloco de controle da mineradora na época do desastre e tinha um representante seu, Gueitiro Genso, na cadeira de chairman da companhia. Assim como Schvartsman, ele foi substituído após a tragédia.

Já a JGP detinha uma posição acionária grande na Vale, que machucou o rendimento dos fundos da casa e foi gatilho para que a gestora carioca passasse a integrar o ESG à estratégia de gestão.

O Reset apurou que os dois investidores tentaram nos últimos dias emplacar a proposta de que a eleição não se dê por chapa, mas com votação em lista. Por esse sistema, os acionistas votam em cada nome individualmente e são eleitos os nove mais votados. Previ e JGP indicariam um ou dois nomes alternativos para compor a lista de candidatos.

A visão é que dessa forma seria possível dar voz a quem prefere a composição sem o nome de Schvartsman, mas que está disposto a votar a favor para não inviabilizar toda a chapa.

Mas não conseguiram incluir a proposta no boletim de voto à distância, instrumento amplamente usado e que permite aos acionistas votar em todas as propostas sem comparecer à assembleia. A inclusão era tida como fundamental por Previ e JGP para contemplar investidores estrangeiros que costumam preferir o sistema de voto em lista. 

Um último recurso, caso decidam marcar posição de forma mais contundente, é pedir eleição pelo sistema de voto múltiplo. Nesse método, criado para dar poder a minoritários diante de acionistas controladores, o número de votos de cada ação é multiplicado pelo número de vagas a serem preenchidas (nove, no caso) e o acionista pode distribuí-los ou direcionar todos os votos a um único candidato.

Segundo duas fontes, matematicamente Schvartsman seria eleito da mesma forma.

Na semana passada, a Previ chamou o voto múltiplo para barrar a hegemonia da Marfrig na eleição do conselho da BRF e, por fim, conseguiu obter um acordo antes da assembleia para incluir um representante seu na chapa.