Como a Fin4She quer levar protagonismo feminino à Faria Lima

Movimento que nasceu para aumentar a atração e retenção de mulheres no mercado financeiro está se transformando num negócio, conta Carolina Cavenaghi

Como a Fin4She quer levar protagonismo feminino à Faria Lima
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Começou como um movimento para ajudar a aumentar a atração, retenção e ascensão de mulheres no mundo financeiro. Mas agora está indo além.

Com 14 anos de mercado financeiro, Carolina Cavenaghi vinha se movimentando desde 2019 para desenvolver conteúdo para empoderar as mulheres num ambiente que é masculino por excelência. 

De uma parceria com Julia Borges, da área de relações com investidores da gestora Constellation, surgiu o Fin4She no começo do ano passado para sistematizar conhecimento e orientações. Mas a coisa toda ganhou tração e em agosto Cavenaghi se desligou do trabalho na área de vendas e marketing da Franklin Templeton para fazer uma transição. 

Com o interesse crescente de bancos, gestoras de recursos e empresas em acelerar a agenda da diversidade — a maioria sem ter ideia de por onde começar — ficou claro que havia ali um negócio.

Hoje, doze empresas e instituições como Anbima, BR Partners, Wright Capital e Ifood já têm contratos com a Fin4She. Alguns bancos grandes também já assinaram ou estão em vias de, mas ainda não podem ter seus nomes divulgados.

Eles pagam uma anuidade de R$ 10 mil para ter acesso a conteúdo produzido pela empresa e poder realizar uma série de ações junto ao mailing de mulheres cadastradas pela Fin4She: enviar anúncios de vagas abertas, mandar e-mails e convites para eventos. 

“A gente se posiciona como uma plataforma de conexão para as mulheres e para as marcas que querem impulsionar o seu negócio por meio da equidade de gênero”, diz Cavenaghi. “E não queremos ser uma consultoria simplesmente. Queremos ter soluções práticas, como banco de dados, treinamento, educação.” 

A principal aposta de Cavenaghi para abrir fontes de receita para a startup é a estruturação de um banco de currículos que poderá ser acessado pelas empresas interessadas.

Hoje, ela tem mais de 1600 currículos cadastrados que estão numa grande planilha que não pode ser compartilhada. Então, quando algum cliente quer contratar uma mulher, a ação é no sentido de informar o mailing sobre a existência da vaga. 

Mas agora a Fin4She está colocando inteligência nesse banco, que será estruturado para que as empresas possam acessá-lo diretamente, com login e senha e as devidas autorizações de compartilhamento de dados, numa prestação de serviço a ser remunerada. 

A matéria-prima inicial para esse banco de currículos veio de um evento organizado em outubro para levar mais jovens para o mercado financeiro, batizado de Young Women Finance. Foram dez horas de conteúdo online com 30 palestrantes. 

O perfil dos currículos é bastante interessante: 80% delas procuram emprego, 40% são universitárias e 20% se encaixam também no quesito de diversidade racial.

Cavenaghi e Borges defendem como pré-requisito para ampliar a atração de mulheres que os processos seletivos tenham um mínimo de 30% de currículos de mulheres. 

“É preciso ter um esforço grande. As mulheres existem, a comunicação é que é falha”, diz Cavenaghi. “Para onde estão mandando os avisos de vagas? No grupo de whatsapp dos amigos do futebol? É claro que não aparece mulher candidata.”

Eventos como o Young Women in Finance têm patrocínio, uma outra fonte de receita para o negócio. Algumas empresas têm interesse em conteúdos específicos que são pagos. Educação e treinamento também fazem parte do negócio, na área batizada de Fin4She Academy. 

Outras atividades são gratuitas e existem para ajudar a fortalecer a comunidade que orbita em torno da empresa, como a curadoria de conteúdo que chega a mulheres cadastradas na forma de uma newsletter semanal e alguns cursos de hard skills, como valuation, análise de investimentos e programação, a ser ministrados por profissionais voluntários. 

Cavenaghi avalia que, na agenda ESG (ambiental, social e de governança), a diversidade está atrasada em relação ao tema ambiental. Isso porque enfrenta mais barreiras para avançar dentro da cultura corporativa e é mais intangível. 

“A diversidade não é uma causa social para as empresas. É uma vantagem competitiva. É uma questão econômica.” 

Divisor de águas

Assim como para muitas mulheres, a guinada na carreira da empreendedora veio a partir da maternidade.

Depois do nascimento do segundo filho, Cavenaghi diz que a inquietação surgiu e não foi mais embora.

“Eu passei por todos os clichês, desde o questionamento sobre não voltar a trabalhar até enfrentar todas as dificuldades de conciliar maternidade e carreira”, diz a mãe do Tom e do Martin. “Mas eu sentia que o trabalho me alimentava.”

Antes da experiência da maternidade, diz, nunca havia sido sensível às dificuldades enfrentadas por outras mulheres para desempenhar todos os papéis. “Precisei passar por tudo isso para olhar para o lado, porque antes eu também passava por cima do assunto.”

Na visão dela, as mulheres que chegaram ao topo em gerações anteriores o fizeram replicando modelos e valores masculinos, sem espaço para reconhecer e acolher as diferenças.

Enquanto ainda tentava entender o novo lugar que desejava ocupar, seu primeiro passo foi empreender dentro da Franklin Templeton. Com a benção da direção, organizou um evento que batizou de Women in Finance, de proposta inspiracional.

Projetado para receber 80 mulheres, o evento tomou proporções não imaginadas e acabou recebendo, em outubro de 2019, 800 mulheres no auditório do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. 

Os planos agora são de repetir a fórmula num Women in Finance Summit anual, de preferência pessoalmente e com direito a intervalo com muita conversa e troca de experiências. Tão logo as vacinas permitam.

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