Com DNA sustentável, GEF Capital terá fundo de crédito e novo private equity no Brasil

Com DNA sustentável, GEF Capital terá fundo de crédito e novo private equity no Brasil
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Carregando o legado de uma das gestoras pioneiras globais em private equity com temática de sustentabilidade, a GEF Capital Partners agora quer estender seu portfólio também para a área de crédito no Brasil. 

Para isso, trouxe como sócio Daniel Eskinazi, que liderou a área de private debt da Darby Overseas no país por mais de 10 anos. 

A GEF está preparando para o próximo ano um novo fundo voltado para a estratégia, que deve unir duas das principais tendências de mercado brasileiro em meio à queda estrutural dos juros: ESG e demanda por produtos financeiros alternativos. 

O plano é que o fundo assine cheques entre R$ 40 milhões e R$ 100 milhões com prazo médio de cinco anos para empresas de médio porte, que não costumam ter acesso a crédito bancário de longo prazo. 

Bastante ativa em relação à gestão socioambiental das empresas do portfólio de capital (equity), a GEF quer manter a postura na carteira de crédito privado — neste caso, atrelando juros ao cumprimento de metas ambientais, sociais e de governança. 

“O que queremos fazer é criar incentivos, com covenants e estruturas de prêmios e recompensas ligados a ESG. Se uma empresa melhorar seus indicadores, podemos reduzir o custo da dívida, porque na prática estamos reduzindo o risco do produto”, diz Eskinazi. 

Na Darby, subsidiária da Franklin Templeton, Eskinazi já era responsável pela integração ESG ao portfólio. Mas na GEF o viés de sustentabilidade é mais contundente, servindo como filtro de seleção para os investimentos. 

Em ambas as estratégias, a gestora mira quatro áreas prioritárias: eficiência energética, alimentação e agronegócio, soluções urbanas — como gestão de resíduos e smart cities —, além de saúde.  

A área de crédito tem grande sinergia com a de equity, diz Anibal Wadih, sócio-fundador da GEF Capital Partners e um dos responsáveis pela operação na América Latina. “No nosso funil de investimento tem muita empresa na qual não cabe equity, mas cabe dívida, e vice-versa”, aponta. 

As áreas serão completamente separadas: nas empresas em que entra no capital, a GEF não vai conceder crédito, o que também vale na mão contrária.

Do ponto de vista da demanda dos investidores, as estratégias também são complementares: os fundos de private debt costumam ter prazos mais curtos e um retorno um pouco menor que os de private equity, mas com menos risco e volatilidade. 

“Esse mercado ainda é pequeno no Brasil, mas começou a crescer muito nos países desenvolvidos a partir de 2008 com um cenário bem parecido com o que temos agora no Brasil: juros baixos, mas com muita incerteza”, diz Eskinazi. 

Olho no público brasileiro

A GEF também avalia o lançamento de um novo programa de private equity voltado para Brasil e América Latina, que deve mirar o investidor brasileiro.

O fundo atual, de cerca de R$ 750 milhões, é formado principalmente por recursos de family offices europeus, além de alguns poucos investidores americanos. 

“Temos sentido que o interesse no Brasil por esse tipo de temática vem aumentando”, diz Wadih. “E como somos focados em sustentabilidade, isso nos dá uma vantagem na seleção desse tipo de oportunidade.” 

A GEF Capital Partners é resultado da cisão do Global Environment Fund, um dos primeiros fundos temáticos de sustentabilidade e energia limpa, lançado nos Estados Unidos ainda na década de 1990 — e que já investiu em mais de 50 empresas em todo o mundo. 

Em 2018, houve um ‘management buyout’ e seis sócios formaram a nova empresa. Dois deles estão na Índia, dois nos Estados Unidos e dois no Brasil:  Wadih e Alexandre Alvim, que trabalham juntos desde 2015. Apesar de estarem sob o mesmo guarda-chuva, cada geografia é segregada e tem fundos específicos. 

Na América Latina, o fundo tem quatro investidas, a maior parte delas na área de energia. 

A mais antiga delas é a Luminae, de soluções para iluminação e eficiência energética para o varejo, e é forte em supermercados e farmácias. Quando entraram na companhia, há quatro anos, a receita era de R$ 43 milhões e neste ano deve ultrapassar a barreira dos R$ 250 milhões. 

A GEF é sócia também da ENC Energy, que produz energia a partir do biogás em aterros sanitários e a distribui para empresas de pequeno e médio porte conectadas à rede elétrica.

No ano passado, a gestora entrou também no capital da Unicoba, uma fabricante de baterias com mais de 40 anos, que está trabalhando uma tecnologia para armazenamento de energia para ser usada nos picos de demanda, o que dá estabilidade e segurança a um sistema cada vez mais dependente de fontes intermitentes, como solar e eólica. 

O investimento mais recente inaugurou a entrada no agronegócio, um segmento com grande potencial, afirma Wadih. No mês passado, a GEF comprou 60% da Café Brasil, cujo principal produto é um fertilizante de liberação lenta, que aumenta a produtividade do produtor por exigir um menor número de aplicações, além de reduzir o impacto ambiental, com menos volatilização de nitrogênio. 

“Temos um pipeline bastante robusto de empresas à frente em todos nossos setores-alvo”, diz Wadih. 

Ele não comenta os resultados do fundo, mas as duas saídas feitas até agora trouxeram bons resultados. A Tecverde, de sistemas de construção pré-moldados, foi vendida para o grupo chileno E2E no começo do ano. Já a AGV Logística foi vendida para a Femsa em 2019 por mais que o dobro do valor investido. 

Métricas de impacto

A GEF trabalha com o conceito de ‘shared value’, em que os investimentos têm que ter potencial para retorno financeiro e expectativa de impacto positivo já na largada. 

“Como investidores temáticos, cremos no retorno como base da sustentabilidade. Porque precisamos ter sucesso financeiro para continuar fazendo isso por 30, 40 anos”, diz Wadih.

O funil parte de uma avaliação de impacto já na originação das potenciais investidas. Na etapa seguinte, ocorre uma due diligence que identifica os pontos fortes e lacunas em termos de ESG. Em alguns casos, lacunas encontradas nesse processo se traduzem em cláusulas que vão para o acordo de acionistas.

Mais que o investimento em teses de sustentabilidade, a ideia é trabalhar junto com a empresa para melhorar as práticas. Logo que entra numa empresa, a GEF monta um comitê ESG, que se reúne mensalmente para reportar o plano de ação e discutir métricas ambientais e sociais quantitativas.

“O ESG reduz o risco e, ao fortalecer essas práticas, deixamos uma empresa melhor e ajudamos a aumentar seu valor”, diz Wadih.

Na Unicoba, por exemplo, foi implantado um programa de logística reversa para os clientes que estão substituindo baterias de chumbo pelas de lítio, mais modernas. Da mesma forma, a Luminae está caminhando para um programa adequado de descarte das estruturas de iluminação antigas para os clientes que optam por sua tecnologia. 

As metodologias de avaliação e mensuração de impacto são feitas com base em frameworks como o Impact Management Project, além de diretrizes da IFC e da OCDE. 

“Somos pragmáticos para escolher essas métricas, de acordo com a materialidade para cada negócio, e geralmente escolhemos algumas poucas: eficiência energética, pegada de carbono e métricas sociais mais gerais”, aponta Wadih.