Com 'briquete verde', Vale traz solução para reduzir emissão das siderúrgicas

Desenvolvido ao longo de 20 anos, produto entrará em escala comercial com investimento inicial de US$ 185 milhões em três fábricas

Com 'briquete verde', Vale traz solução para reduzir emissão das siderúrgicas
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A Vale anunciou hoje um novo produto de minério de ferro, batizado de “briquete verde”, que pode reduzir em até 10% a emissão de gases de efeito-estufa resultante da produção do aço.

É a iniciativa mais concreta e escalável da mineradora para trazer novas soluções capazes de reduzir a pegada de carbono da indústria siderúrgica, uma das mais poluentes e sujeitas à taxação de carbono no mundo. 

Desenvolvido ao longo de mais de 20 anos, o briquete verde é um novo tipo de aglomerado de minério de ferro que dispensa o uso de altas temperaturas na manipulação, mais precisamente durante o processo de aglomeração do minério.

Ele é, portanto, uma alternativa mais limpa à pelota e ao sínter de minério, que são as duas formas como hoje a Vale entrega seu produto às siderúrgicas.

No método tradicional, é preciso realizar esta etapa em temperatura próxima de 1.300 oC. Para fabricar o briquete verde, o calor é mantido entre 200 oC e 250 oC, dispensando a queima excessiva de combustível fóssil para gerar energia. 

Nas siderúrgicas, o corte das emissões ocorre porque o produto permite reduzir a dependência da chamada “sinterização”, processo anterior à produção do aço e intensivo em carbono.

O briquete inclui em sua composição areia proveniente do tratamento de rejeitos de mineração, e é capaz de resistir às temperaturas elevadas do alto-forno sem se desintegrar. 

“O briquete verde faz parte da linha de evolução dos produtos de minério de ferro oferecidos pela Vale ao longo de sua história”, disse Marcello Spinelli, vice-presidente executivo de Ferrosos da Vale. Segundo o executivo, a tecnologia vai “revolucionar o processo de produção do aço”.

Em evento realizado hoje com investidores e analistas, a  Vale comunicou que está investindo US$ 185 milhões na modernização de duas usinas de pelotagem da Unidade de Tubarão, em Vitória (ES), e na construção de uma nova planta em Vargem Grande (MG), ambas para produzir o briquete.

Elas devem entrar em operação em 2023, com estimativa de produção anual inicial de 7 milhões de toneladas de briquete verde. 

Há outras cinco plantas de análise, inclusive na unidade de Omã, no Oriente Médio. No mês passado, a Vale já havia anunciado um memorando de entendimentos com a Ternium para instalar uma planta de briquetes nas instalações da siderúrgica no Brasil.

A previsão é que a produção de briquetes possa alcançar 50 milhões de toneladas a longo prazo. 

Além de reduzir a pegada de carbono, a Vale sinalizou que o novo produto deve ter margens maiores que a produção de sinter e pelotas tradicional. Segundo a companhia, o processo tem metade do custo do processo de pelotização e 67% menos intensidade de capital que as pelotizadoras. 

Reduzindo o escopo 3

As iniciativas fazem parte do esforço da Vale para cumprir sua meta de reduzir em 15% as emissões de gases de efeito estufa do seu chamado escopo 3 até 2035. Trata-se das emissões da cadeia de valor, que compreende 98% do total de emissões da empresa, e envolve principalmente os gases emitidos na produção do aço pelas siderúrgicas clientes. 

No evento realizado hoje, a Vale reforçou a percepção de que com a transição da siderurgia para baixo carbono haverá cada vez mais um maior prêmio para o minério com alta concentração de ferro — um dos principais diferenciais competitivos da brasileira em relação às concorrentes. 

Nesse sentido, a companhia está investindo em tecnologias que conseguem converter o minério de baixo teor de ferro em aglomerados mais concentrados. Um deles é a técnica de concentração magnética a seco de minérios de baixo teor, que também está em avaliação.

A primeira planta industrial com essa tecnologia está em construção, também em Vargem Grande, com previsão de investimento de US$ 125 milhões a US$ 150 milhões e início de operação prevista para daqui a dois anos, inicialmente com capacidade de produção de 1,5 milhões de toneladas anuais. Há três novas plantas em fase de avaliação, o que adicionaria mais 16,5 milhões de toneladas anuais. 

A mineradora disse que aposta ainda no uso de biomassa em vez de carvão na produção de ferro-gusa e na modernização do transporte marítimo com sistemas de propulsão assistidos pelo vento, entre outras iniciativas.