Com a compra da Resultante, KPMG avança no ESG

Os fundadores da Resultante, uma das pioneiras em ESG no Brasil, Bruno Youssif e Maria Eugênia Buosi, serão sócios da firma de consultoria

Maria Eugênia Buosi e Bruno Youssif, sócios da Resultante
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 A KPMG adquiriu a consultoria especializada em ESG Resultante, num movimento que indica o avanço das grandes firmas de auditoria nos temas ambientais, sociais e de governança.

Fundada em 2013, a Resultante foi uma das empresas pioneiras no país a se especializar em assessoria e auditorias baseadas nos pilares da sigla ESG.

A companhia faz análises que sustentam operações financeiras baseadas em sustentabilidade, produzindo pareceres técnicos que apoiam emissões de green bonds, por exemplo, e vem crescendo na oferta de serviços de consultoria estratégica para empresas.  

A aquisição faz parte de um plano de expansão da KPMG. A companhia americana vai investir US$ 1,5 bilhão nos próximos três anos para ampliar sua oferta em temas relacionados à agenda verde.

Os 35 profissionais da Resultante serão integrados à área de gestão de riscos financeiros da KPMG. Os fundadores da companhia, Bruno Youssif e Maria Eugênia Buosi, serão sócios da consultoria.

Embora ainda não exista o equivalente a um padrão contábil para informações do mundo ESG, a demanda por dados confiáveis e “auditados” vem crescendo, tanto por parte dos investidores quanto dos reguladores.  

A Securities and Exchange Commission (SEC), que regula os mercados de capitais americanos, apresentou uma proposta que cria novas obrigações de reportes por parte das empresas com capital aberto nos Estados Unidos.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) caminha na mesma direção.

“Quais são os relatórios produzidos? Como o mercado vai perceber esses indicadores? É um tema relacionado a uma agenda de riscos e compliance”, diz André Coutinho, sócio líder da área de advisory no Brasil. “Um dado incorreto [divulgado ao] mercado tem altíssimo impacto.”

Em abril, a SEC anunciou uma ação judicial contra a Vale, alegando que a mineradora mentiu para os investidores a respeito das práticas de segurança de suas barragens, como a que resultou na tragédia de Brumadinho, em janeiro de 2019.

ESG estratégico

Coutinho afirma que o interesse da KPMG vai além do conhecimento e dos relacionamentos que a Resultante construiu no mundo das finanças sustentáveis — de onde vêm seus fundadores e que está no DNA da companhia, segundo Maria Eugênia Buosi.

“O importante nas organizações é acelerar a inclusão do ESG em suas estratégias de negócios e em seus modelos de governança. Onde a empresa opera? Quais são suas aspirações?”, diz Coutinho.

A KPMG quer competir também com as grandes consultorias estratégicas. A “transformação ESG” é a nova transformação digital no mundo corporativo.

O BCG, uma das maiores firmas de consultoria de gestão do mundo, será o “parceiro oficial” da COP27, a reunião do clima da ONU que acontece em novembro, no Egito.

Uma das chaves para o sucesso da aquisição será potencializar a bagagem da Resultante com o uso de tecnologia.

“Já temos um banco de dados impressionante sobre temas ESG. Podemos fazer recortes por país, por setor, por tipo e tamanho de empresa”, afirma Coutinho.

Essas ferramentas, além da estrutura de uma consultoria global como a KPMG, vão ampliar o alcance da Resultante. “A gente cresceu 750% nos últimos quatro anos. Dois anos atrás eram dez pessoas”, diz Buosi. “Precisávamos de escala no modelo de atendimento, de estrutura.”

Buosi enxerga as oportunidades trazidas pelo negócio através de dois prismas. O primeiro “e mais óbvio” é ter mais produtos e serviços ESG.

A Resultante tem uma base de dados que analisa a atuação de mais de 200 companhias abertas nos pilares ESG e também faz avaliações de risco para operações de crédito.

O outro motor do crescimento será trazer o tema da sustentabilidade para todos os projetos de consultoria de negócios.  “O reconhecimento de uma Big Four, entrando de sola nessa agenda — como já vinha acontecendo nos últimos dois anos — mostra como esse tema é fundamental.”

Os cérebros ficam

Coutinho e Buosi afirmam haver completa harmonia entre as culturas das duas empresas. “No setor de serviço, a gente sabe o quanto é importante ter cérebros”, afirma Buosi.

Ser comprada por uma gigante internacional é, nas palavras dela, “colocar um megafone na nossa voz”. Quanto à permanência dela e de seu sócio, Buosi afirma que não se trata de um negócio “para colocar dinheiro no bolso e sair andando”.

“A gente não larga o osso, muito pelo contrário. A gente está casando com o osso.”