9 passos na jornada das empresas para uma agenda sustentável

Diante da dúvida sobre por onde começar, um roteiro que contempla da definição de estratégia à comunicação

9 passos na jornada das empresas para uma agenda sustentável
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Nos últimos dois anos, com o já não tão recente boom do ESG, muitas empresas se viram diante de um dilema na decisão de escolher atuar de maneira consciente com as pautas socioambientais ou simplesmente continuar seguindo de acordo com o antigo modus operandi. 

Desde que comecei a atuar com grandes empresas na pauta de impacto positivo, ESG e sustentabilidade, tenho (felizmente) me deparado com uma grande quantidade de possibilidades de atuação e projetos sendo oferecidos para  as empresas. Mas, ao mesmo tempo, surge uma grande dúvida entre as lideranças: por onde começar?

Recebo empresas em diferentes níveis de maturidade no assunto, e a resposta sobre os caminhos possíveis varia bastante. Depois de 10 anos atuando no campo, entendo que o mais importante é compor uma estratégia de base para um portfólio de ações complementares que sejam disseminadas por todo o negócio e por sua forma de operar, resultando assim, em uma mudança de olhar e cultura dentro da organização. 

Conversando com outros atores do ecossistema, como representantes do ICE, Sistema B, Climate Ventures e Pares, surgiu a ideia de ‘organizar’ para as empresas uma forma de navegar nessas múltiplas possibilidades de atuação –  e de potenciais parceiros nessa jornada. A assim foi ao ar o ‘Caminhos para o Impacto Positivo‘, material que apresenta nove caminhos e 44 organizações que oferecem serviços de impacto para grandes empresas.

Quais foram os caminhos encontrados?

1. Estratégia de iniciativas e práticas

Diz respeito a planejar e ter clareza do por que a empresa está realizando este tipo de iniciativa, para que ela seja relevante e perene. Aqui falamos de criar uma estratégia de sustentabilidade conectada à estratégia da empresa, definir matriz de materialidade, metas, rituais de governança para a agenda de impacto positivo e até a própria estruturação da área de sustentabilidade/ESG.

2. Implementação de iniciativas e práticas

Depois da estratégia, é preciso colocar em prática, e diversos caminhos contemplam a execução. Neste, falamos de ações que vão desde políticas de diversidade e eficiência energética até programas de desenvolvimento territorial e programas de voluntariado, bem como valorização de pequenos produtores na cadeia de valor e programas de intraempreendedorismo para desenvolvimento de novas ações. 

3. Inclusão de impacto positivo na atividade principal

É essencial que a empresa se atente à sua atividade principal, seu core business, e garanta que ela não está indo na direção contrária de suas práticas. Por exemplo, vender produtos alimentícios não saudáveis em sua atividade principal ao mesmo tempo em que realiza campanhas promocionais relacionadas ao bem-estar. O risco de não olhar com profundidade para as possibilidades desse caminho e praticar o greenwashing ou socialwashing é enorme. 

A revisão do core business é um caminho essencial e cada vez mais buscado pelas empresas, também pelo fato de que esse olhar pode ser fonte de novos negócios e entrada em novos mercados. Por exemplo, uma empresa de saúde pode passar a oferecer seus serviços para a população de baixa renda, gerando o benefício de saúde de qualidade acessível ao mesmo tempo que entra em um mercado de milhões de pessoas.

4. Inovação aberta com negócios de impacto

A inovação aberta é uma forma de inovação das empresas a partir da interação com ideias, processos, tecnologias e pesquisas externas, indo além de seus muros e complementando a atuação da equipe interna, por exemplo, com P&D. A empresa pode oferecer suas inovações para outras organizações e utilizar recursos externos para inovar, em um processo de colaboração com universidades, laboratórios, outras empresas e startups, por exemplo. 

A inovação aberta a partir da conexão com negócios de impacto tem se mostrado uma forma rápida e eficaz para as empresas solucionarem seus desafios, trazerem inovação e novos negócios e cumprirem seus compromissos de sustentabilidade e impacto social. Este caminho contempla programas de aceleração, implementação de pilotos, estruturas de Corporate Venture Capital e outras práticas.

5. Desenvolvimento humano e de cultura organizacional

Para avançar na pauta de impacto e ESG, é necessário que a  visão esteja incorporada na estratégia e na cultura da empresa. Este caminho é fundamental para integrar o impacto na forma de pensar e agir dos colaboradores e para engajar as lideranças nas temáticas e ações de sustentabilidade, bem como atuar na formação de agentes de mudança internos. 

A atuação neste caminho está ligada à formação de lideranças e colaboradores para temas de impacto, programas de intraempreendedorismo e desenvolvimento de cultura.

6. Acesso a capital

O caminho de acesso a capital pode fazer sentido para aquelas empresas que têm metas definidas ou uma iniciativa para ser executada e precisam acessar capital para tirar do papel e colocar em prática. 

Cada vez mais temos no mercado recursos direcionados especificamente para a finalidade de geração de impacto positivo, com fundos de investimento especializados, por exemplo. Há também dívidas com taxas diferenciados (cobrando menos juros à medida que se gera mais impacto), bem como as atreladas a projetos sociais e/ou ambientais (green bonds, social bonds, sustainable bonds) ou vinculadas a metas ESG específicas. 

7. Mensuração, reporte e certificação

A mensuração de impacto é fator-chave para a tomada de decisões estratégicas de forma ágil, embasada, assertiva e eficiente, pois a empresa passa a ter dados e métricas concretas sobre a relevância de suas ações, que podem apoiar o planejamento de longo prazo. 

Além disso, os assessments para certificações e selos são um ótimo norte para a empresa avaliar seu estágio na jornada de impacto positivo, tanto ao notar seus avanços, quanto ao identificar as lacunas, melhorias e ações que precisam ser realizadas.  

8. Atuação em rede

Outro possível caminho para as empresas é a atuação em movimentos, redes e coalizões em torno de temáticas de impacto positivo e o engajamento em pactos e/ou compromissos públicos. Os desafios sociais e ambientais que enfrentamos são complexos e demandam uma atuação conjunta. 

Nesse contexto, a atuação em rede se apresenta como um caminho essencial para as empresas se articularem, acessarem conhecimento e trocarem aprendizados. Este caminho pode ser útil para quem está no início da jornada, como uma forma de introdução às temáticas de impacto positivo, e para empresas que já estão mais avançadas e buscam aprendizado contínuo, compartilhamento de práticas e mobilização de pares.

9. Comunicação e engajamento

Por último, mas não menos importante, está o caminho da comunicação e engajamento. Este caminho é relevante tanto para o posicionamento externo quanto para o engajamento interno dos colaboradores da empresa. 

Aqui, é importante que a empresa tenha lucidez sobre seu estágio na jornada rumo ao impacto positivo e realize ações de comunicação externa apenas quando de fato tiver implementado ações relevantes de geração de impacto socioambiental positivo, evitando a prática do greenwashing.

Esta não é uma lista exaustiva, bem como os caminhos não são estanques, nem presumem uma hierarquia ou linearidade entre si. Entendemos que os caminhos são complementares e podem ser trilhados simultaneamente pelas empresas, de acordo com seu momento e seus objetivos.

Os caminhos aqui identificados e detalhados não são apenas meios de gerar impacto positivo, mas também para lidar com uma série de desafios que fazem parte da realidade das empresas. Otimização da eficiência operacional, criação de diferencial competitivo, retenção de talentos e redução de riscos são exemplos de desafios que podem ser abordados a partir de uma agenda de impacto positivo e dos serviços apresentados neste mapeamento.

São muitas as organizações que se propõem a apoiar as empresas na jornada, oferecendo diferentes formas de suporte, e nenhuma sozinha fará todo o trabalho necessário.

Por isso o mapeamento também é um convite para nós, enquanto organizações intermediárias do setor, fazermos conexões e conhecermos os serviços que cada uma oferece, para que possamos de fato ajudar as empresas a avançarem e indicarmos parceiros para darem o próximo passo. 

Os desafios são urgentes, os caminhos estão explícitos, e não agir não é mais uma opção.