Chefe de petroleira, líder da COP28 sofre pressão por renúncia

Congressistas dos EUA e da União Europeia pedem saída de Sultan Al Jaber, CEO da Adnoc, e querem medidas para conter lobby dos combustíveis fósseis

Chefe de petroleira, líder da COP28 sofre pressão por renúncia
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Mais de 130 congressistas dos Estados Unidos e da União Europeia divulgaram hoje uma carta aberta aos líderes de seus países e à Organização das Nações Unidas (ONU) pedindo a saída de Sultan Ahmed Al Jaber como presidente da COP28.

No documento, eles manifestam “uma profunda preocupação” com a atuação dos lobbies de petróleo dentro das regras que governam a Convenção sobre Mudança Climática das Nações Unidas. 

A indicação de Al Jaber, que é presidente da estatal de petróleo Adnoc, para presidir a Conferência do Clima foi cercada de controvérsia desde o começo, dado o claro conflito de interesses entre os objetivos de reduzir as emissões de carbono previstos pelo Acordo de Paris e a indústria de combustíveis fósseis. 

A carta foi endereçada ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao secretário-geral da ONU, António Guterres e ao chefe para o clima da ONU, Simon Stiell. 

Ela foi assinada por 99 congressistas da União Europeia e 34 dos Estados Unidos, incluindo nomes como Elizabeth Warren, Bernie Sanders e Alexandria Ocaso-Cortez. 

E vem às vésperas do início da Conferência de Bonn, que começa dia 5 e é uma espécie de preparatória para as discussões da COP. 

Em suas aparições públicas este ano, Al Jaber vem defendendo que a transição energética ainda vai levar algum tempo e que a indústria de petróleo precisa estar incluída nas conversas sobre clima. 

Na cidade indiana de Bengaluru, em fevereiro, ele tentou imprimir um tom conciliador

“Não é conflito de interesse [da indústria do petróleo com os objetivos globais de descarbonização]. A presidência da COP está ouvindo e pronta para dialogar.”

Como é impossível simplesmente abandonar a gasolina, os produtores do Golfo Pérsico, em especial os Emirados Árabes, argumentam que a saída é minimizar as emissões associadas a todas as etapas do processo, da extração ao refino.

“Temos de minimizar a pegada de carbono, só investir nos barris menos intensivos em carbono”, afirmou. 

A Adnoc, contudo, tem planos de expansão de sua produção de petróleo nos próximos anos, o que vai de encontro às previsões tanto do painel de cientistas da ONU quanto da Agência Internacional de Energia (AIE). Ambas afirmam que abrir novos poços de petróleo colocam o mundo fora da trajetória para limitar o aquecimento global a 1,5ºC até o fim do século. 

Em nota à agências internacionais, os organizadores da COP defenderam a nomeação de Al Jaber: 

“Acreditamos que sua experiência como engenheiro, trabalhando ao longo do espectro de energia, e como um líder global sênior para a indústria, são ativos que vão ajudar a impulsionar a abordagem transformadora dos Emirados Árabes Unidos para a COP28.”

Além de comandar a Adnoc, Al Jaber também é presidente do conselho da Masdar, empresa de energia renovável controlada pelo estado.