CEBDS lança plataforma para mensurar e promover a biodiversidade

A iniciativa pretende também mapear oportunidades de descarbonização na região amazônica

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Imagem mostra mandacarus e vegetação típica da caatinga
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Nos últimos anos, tem se falado muito de mudança climática e das estratégias para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. Agora é a vez de esse tema dividir os holofotes com outro igualmente importante, a perda de biodiversidade – ambos profundamente interdependentes.

O enfrentamento dessas duas grandes crises exige o entendimento e a gestão da degradação ambiental nos negócios, na política e na sociedade.

Transparência e ações coletivas são um imperativo, assim como o desenvolvimento de ferramentas para medir o impacto da ação humana na natureza e reduzi-lo.

Com isso em mente, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) lançou a Plataforma de Ação pela Natureza.

O anúncio foi feito em 15 de dezembro, na COP15, em Montreal, Canadá. Trata-se da Conferência Global das Nações Unidas para a Biodiversidade, que acontece a cada dois anos. As empresas participantes da plataforma irão colaborar para entender e reportar o impacto de suas operações.

O CEBDS ainda mobilizou uma rede de especialistas e organizações não-governamentais que apoiarão as empresas no mapeamento de riscos e oportunidades comuns nos territórios em que atuam.

A plataforma atua em duas frentes. Uma delas foca na mensuração e na divulgação de dados sobre dependências, impactos, riscos e oportunidades das operações de cada empresa. Pretende ainda trazer um olhar territorial, entendendo como os diferentes setores interagem e impactam os ecossistemas críticos para a biodiversidade.

Essa frente abrange empresas com atividades espalhadas pelo Brasil e reunirá 20 companhias nas áreas de energia, infraestrutura, alimentos, consumo e atividades que façam uso direto de recursos do solo.

A iniciativa se propõe a implementar a estrutura da TNFD. A sigla, que ainda vai aparecer muito por aí, é traduzida como Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras relacionadas à Natureza.

A TNFD é uma iniciativa global de instituições financeiras, corporações e outros agentes de mercado que busca encontrar maneiras de medir os impactos das companhias na biodiversidade e promover a divulgação desses dados.

A ação está alinhada com o Marco Global de Biodiversidade, que também tem esse objetivo. Os desafios são muitos, desde os métodos de mensuração até a padronização dos relatórios de transparência.

“Vamos atuar como um grande articulador de empresas, ONGs e outros atores para promover esse diálogo com a TNFD”, diz Ricardo Mastroti, diretor-executivo do CEBDS.

Entre as companhias que já confirmaram participação nessa empreitada estão Natura, Suzano, Eletrobras, Renner, Bracell, CBA, Petrobras e Vale.

As participantes irão testar fórmulas de medição de impacto e maneiras de divulgá-las durante os 18 meses de duração do projeto, e o CEBDS vai fazer a ponte entre as orientações e novidades que vêm da TNFD e a realidade vivenciada pelas empresas.

A outra frente de atuação se chama Soluções Climáticas Naturais e irá focar no mapeamento de oportunidades de descarbonização na região amazônica.

A ideia é promover medidas práticas para reduzir os efeitos negativos na biodiversidade local. A frente irá fomentar a compra de créditos de carbono no mercado voluntário provenientes de ações como redução do desmatamento, manejo de resíduos, reintrodução de espécies nativas e reflorestamento na região.

O CEBDS está em negociações com companhias para integrar esse plano e já conta com a participação de Natura e Vale.

Os dois pilotos devem começar a funcionar no primeiro semestre deste ano e terão duração de 18 meses. “Eles têm começo, meio e fim, que é para podermos testar, avaliar e evoluir”, diz Mastroti.

Ele destaca que mais da metade da produção mundial é dependente da biodiversidade, totalizando cerca de US$ 44 trilhões anuais, o que torna essas transformações urgentes.

Paris da Biodiversidade

O CEBDS foi um dos responsáveis por organizar uma delegação de quase 40 pessoas, de 15 empresas, a maior delegação do setor privado que o Brasil já enviou para uma COP de biodiversidade.

A conferência reuniu agentes políticos e setores da sociedade civil. Dela, resultou o Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal, comparável ao Acordo de Paris, obtido na COP21, em 2015.

O objetivo de todos os envolvidos foi estabelecer metas e ações para os próximos anos. Foi uma decisão conjunta histórica para proteger 30% do planeta até 2030 e redirecionar ou eliminar subsídios prejudiciais à natureza.

O Marco reúne 23 metas para proteção da biodiversidade, entre elas reduzir o desperdício de comida e o consumo excessivo de bens, diminuir a geração de resíduos, cortar pela metade o risco criado por pesticidas e outros produtos químicos agressivos e prevenir a introdução de espécies não-nativas. 

Doze das 23 metas têm relação com negócios e finanças. Mastroti, diretor-executivo do CEBDS, destaca duas delas: a meta 15, que pretende criar instrumentos de mensuração de impacto e impor a divulgação disso por parte das empresas. E a meta 18, que prevê diminuir os subsídios dados por governos do mundo todo a atividades danosas à biodiversidade em pelo menos US$ 500 bilhões anuais até 2030.

Atualmente, eles somam US$ 1,3 trilhão por ano. Paralelamente, a ideia é que países, empresas e o mercado financeiro incentivem negócios que promovam o uso sustentável dos recursos, a manutenção e recuperação da natureza.

É junto a essas duas metas que a Plataforma Ação pela Natureza atua mais diretamente. “O nosso papel na COP foi entender como as empresas brasileiras estão trabalhando e contar isso para o mundo”, fala o diretor-executivo do CEBDS.

De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a perda da biodiversidade é o quarto maior risco global nos próximos dez anos. Esse risco fica atrás apenas da “falha em mitigar as mudanças climáticas”, da “falha na adaptação às mudanças climáticas” e dos “eventos causados por desastres naturais e clima extremo”.

O Brasil tem um papel importante nesse aspecto, tendo em vista que detém entre 15% e 20% da biodiversidade global, e ocupa o topo da lista de países megadiversos.

Para Mastroti, como maior potência global em biodiversidade, o país tem a grande oportunidade de desenvolver sua economia com impacto positivo para a natureza, e também de gerar recursos que possam ser aplicados para diminuir as desigualdades e a injustiça social.

Ele salienta ainda que povos originários, ONGs e outras populações afetadas pelo tema estiveram presentes nas discussões promovidas pelo CEBDS, propondo soluções benéficas para a natureza e as pessoas. “As empresas entendem que é fundamental ter essas perspectivas e querem contribuir para ampliar o alcance do pleito dessas comunidades”, diz.

Sobre a marca:

O CEBDS surgiu para capacitar o setor empresarial para um novo modelo de negócios e contribuir com a solução dos principais desafios enfrentados na atualidade.