CBA aposta em aumento da reciclagem para crescer

Com investimentos para reduzir a pegada de carbono, fabricante de alumínio quer aumentar processamento de sucata de 45 mil para 200 mil toneladas ao ano, diz CEO

CBA aposta em aumento da reciclagem para crescer
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De painéis solares a carros elétricos, passando pelas linhas de transmissão necessárias para abastecer cada vez mais o mundo de eletricidade, a transição energética vai demandar muito alumínio.

Fundada há quase 70 anos, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) fez seu IPO há um ano e meio com uma tese de aumento de produção associada à redução da pegada de carbono de seu produto. 

Além do investimento na produção de alumínio primário, a empresa controlada pelo grupo Votorantim está apostando no aumento da reciclagem – quer passar das 45 mil toneladas de sucata processadas em 2021 para cerca de 200 mil em cinco anos. 

“É uma oportunidade real de expandir a produção e com baixa emissão de carbono”, afirmou o CEO Ricardo Carvalho, em entrevista ao Reset. 

O processo de reciclagem do  alumínio consome apenas 5% da energia necessária para a produção do alumínio virgem, cujo processo é muito intensivo em eletricidade.

Parte do objetivo já foi entregue. 

A CBA já investiu num novo forno na Metalex, sua unidade que produz tarugos voltados à construção civil para a fabricação  de janelas e afins, que deve aumentar a produção para 90 mil toneladas de tarugos. O produto já é feito com 60% de material reciclado. 

Além do novo forno, a companhia está investindo numa nova linha de limpeza de sucata para poder aproveitar o material que chega misturado com outras substâncias, como ferro e concreto, e que deve ser concluída este ano. A expectativa é elevar a 80% a porcentagem de matérias-prima reciclada

“Hoje, a Metalex processa 45 mil toneladas de sucata, queremos passar para 70 mil toneladas”, diz o CEO. 

Para expandir sua atuação na reciclagem, a companhia comprou no fim de 2021 a Alux, uma empresa que produz ligas de alumínio reciclado principalmente para a indústria automotiva. A empresa, de Nova Odessa, no interior de São Paulo, processa 30 mil toneladas de sucata ao ano, podendo chegar a 50 mil. 

Atrás da sucata

Diferentemente da Metalex, em que são os próprios clientes da construção que mandam de volta os produtos para reciclagem, a Alux processa todo tipo de sucata – de carros, motores, eletrodomésticos e produtos afins. 

“Sucata é um desafio, principalmente por conta do compliance. Boa parte do mercado trabalha até sem nota fiscal”, diz Carvalho. “Nós mapeamos o mercado inteiro e achamos uns dois ou três alvos que são muito bem estruturados e compramos a Alux.”

No país campeão em reciclagem de latinhas, na casa dos 95%, conseguir outros tipos de produtos de alumínio  para reaproveitamento o é mais complexo. 

Para ter acesso à sucata, a CBA fez uma parceria com a Gerdau, que tem quase 30 centros de coleta no Brasil, de olho no ferro e no aço. “Muitas vezes a sucata de ferro que eles pegam tem alumínio junto, que eles não aproveitam, é um ganha-ganha”, diz Carvalho, acrescentando que a CBA já estuda ter centros de coleta próprios.

Com capacidade de produção de 350 mil toneladas de alumínio primário por ano e que devem chegar a 430 mil até 2025, a reciclagem ainda representa uma pequena fatia da produção da CBA. 

E a margem é mais apertada do que na atividade principal da companhia, que trabalha com um processo integrado que vai desde a extração da bauxita até a fabricação do produto final. 

“Mas a reciclagem nos dá uma estabilidade e previsibilidade muito maior nos nossos resultados”, afirma o CEO. 

A produção de alumínio primário tem um ciclo mais longo, que vai desde a extração da bauxita, e a rentabilidade varia de acordo com as oscilações do preço do metal no mercado internacional. 

Já no caso da reciclagem, a sucata tem um preço atrelado à cotação do próprio alumínio e o ciclo é mais curto, ou seja, o risco de descasamento de preço de produção de venda é menor – o que acaba servindo como um hedge natural.  

Redução de emissões

A CBA já está entre as 10 produtoras mundiais de alumínio de mais baixo carbono no mundo: são 2,56 toneladas de CO2 equivalente para cada tonelada do metal que sai das fábricas, muito abaixo da média mundial de 12,4 t. 

Boa parte desse perfil se deve à matriz energética, baseada em hidrelétricas – boa parte delas construídas do zero pelo grupo Votorantim para garantir o suprimento de energia desde a fundação da empresa — e, mais recentemente, também eólicas.

Mas o plano é reduzir ainda mais a pegada de carbono para atender à demanda dos clientes. A meta, aprovada pela Science Based Targets Initiative (SBTi), é cortar em 40% a intensidade de emissões até 2030 em relação ao patamar de 2019. 

Até o fim de 2021, o corte já tinha sido de 25%, em grande parte por conta da mudança do combustível usado na refinaria de bauxita: saíram o gás natural e o óleo combustível e entrou a biomassa de madeira de replantio. 

Boa parte dos investimentos também está no upgrade dos fornos para uma tecnologia de alimentação mais eficiente, que deve reduzir o consumo de água e energia e derrubar em 0,5 tonelada a intensidade de carbono do alumínio resultante. 

Mesmo com os planos de redução, a neutralidade de carbono do alumínio ainda depende do desenvolvimento de novas tecnologias — ou de compensação via créditos de carbono. 

A CBA tem trabalhado junto a outras empresas da holding, como a Reservas Votorantim, para gerar seus próprios créditos de carbono. É em sua propriedade em Niquelândia (GO) que foi desenvolvido o primeiro projeto de desmatamento evitado do Cerrado

“Estamos apostando em gerar créditos dentro de casa, inclusive para garantir a integridade e a qualidade dessas reduções de emissões, olhando o longo prazo”, diz Carvalho. A ambição é atingir a neutralidade até 2050. 

Prêmio verde

Ainda não é possível notar um prêmio verde para o alumínio de baixo carbono. 

“Mas a demanda de clientes que estão preocupados com a pegada de carbono de seus produtos e questões como a taxação de importação na Europa tendem a trazer alguma vantagem para o alumínio de mais baixo carbono”, aponta Carvalho. 

Ele está há sete anos no comando da companhia e deve deixar o cargo em maio para assumir uma posição no conselho, numa transição já programada e que deixará o atual diretor financeiro, Luciano Alves, na posição de CEO. 

Praticamente toda a produção da CBA vai para o mercado doméstico, para as mais diversas indústrias, com destaque para embalagens e transportes. 

“Lá fora, já vemos empresas como Nespresso, Land Rover, BMW com políticas para alumínio de baixo carbono”, considerado aquele abaixo de 4 toneladas de CO2. “Por enquanto, o que se produz de alumínio de baixo carbono no mundo tem sido suficiente para abastecer essa demanda, mas essa ela .”