BTG compra fatia na Systemica e entra em créditos de carbono

Banco quer partir da sua base de clientes para escalar tanto a geração quanto a comercialização dos offsets

BTG compra fatia na Systemica e entra em créditos de carbono
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O BTG anunciou ontem a compra de uma fatia na Systemica, empresa brasileira que atua com o desenvolvimento de projetos de créditos de carbono, engrossando a fila das instituições financeiras que vêm avançando sobre este mercado. 

O banco não revela os valores envolvidos e diz apenas que se trata de uma “participação minoritária”.

A Systemica foi fundada em 2012 pelo engenheiro Munir Soares, com larga experiência em  compensações de emissões de gases de efeito estufa. A companhia atuava num modelo de consultoria, desenvolvendo projetos para outras empresas, mas desde 2020 vem atuando na originação própria de créditos. 

“O mercado de créditos de carbono tem um potencial bem relevante à frente, e o Brasil tem um papel importante para exercer, especialmente nas soluções baseadas na natureza. É um movimento quase natural para nós alavancar esse mercado com potenciais clientes locais e internacionais”, afirma a head da área de impacto do BTG, Patrícia Genelhu. 

O banco deve partir da sua base de clientes tanto para a geração quanto para a comercialização de créditos, diz ela. 

O BTG já atua na gestão de terras, especialmente na sua área voltada para produção de madeira, o Timberland Investment Group (TIG), que lançou uma estratégia voltada para reflorestamento de olho no mercado de carbono. 

Hoje, a Systemica tem como foco principalmente projetos de conservação florestal (o chamado REDD+). São 500 mil hectares em implementação e outros 2 milhões de hectares em avaliação no pipeline. 

“A parceria para nós é uma forma de potencializar nossa plataforma de ativos ambientais, com toda a estrutura de compliance e gestão de riscos que uma instituição financeira como o BTG tem a oferecer”, afirma Soares. “Além, é claro, do provimento de recursos financeiros.”

A Systemica está começando a atuar em reflorestamento e também no mercado de agricultura sustentável. “São os segmentos que têm bastante potencial, especialmente olhando o longo prazo.”

A aquisição da fatia vem num momento em que os projetos de REDD+ passam por uma crise de confiança, com preocupações relativas ao real benefício de conservação – e, portanto, acerca das toneladas de emissões de carbono evitadas – que eles proporcionam ganhando corpo entre compradores internacionais. 

“Acreditamos que mais do que nunca integridade vai ser o nome do jogo, com os projetos cada vez mais precisando mostrar o que realmente entregam”, diz Soares, acrescentando que todos os projetos da Systemica têm dupla certificação na Verra – de desmatamento evitado e de repartição de benefícios com as comunidades e/ou preservação da biodiversidade.

A desenvolvedora é a única a ter aderido à Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono, encabeçada pela McKinsey, que visa trazer padrões de integridade para geração e compra de créditos de carbono. Votorantim, B3, Bayer e Rabobank estão entre os apoiadores.

Além da geração de créditos, a Systemica também faz consultoria e atua no apoio à elaboração de políticas públicas  e parcerias público-privadas, tendo trabalhado em projetos como o plano de concessão florestal do Estado do Pará. 

Um negócio para os bancos

O movimento do BTG marca uma sequência de investidas de bancos brasileiros em direção ao mercado de carbono, num momento em que os clientes começam a demandar cada vez mais serviços voltados à descarbonização de seus negócios. 

Há cerca de um ano, o Santander comprou a consultoria e desenvolvedora de créditos de carbono WayCarbon, numa tentativa de ampliar a oferta de offsets e soluções de descarbonização para os seus clientes. 

O Itaú também está prestes a colocar na rua o Carbonplance, que demandou investimento de cerca de US$ 45 milhões. Trata-se de uma plataforma desenvolvida em conjunto com outros oito bancos internacionais para unir compradores e vendedores de créditos, buscando dar mais escala e agilidade às negociações num mercado em formação. 

Durante a última COP, em Sharm el-Sheik, foi anunciada também a criação da Biomas, empresa de geração e comercialização de créditos de carbono de conservação e restauração de florestas encabeçada por seis empresas: os bancos Itaú, Santander e Rabobank, além de Marfrig, Suzano e Vale.