Brasil pode ser primeira grande economia net zero até 2030, diz Systemiq 

Jeremy Oppenheim cobra ação de bancos para que pauta climática avance

Brasil pode ser primeira grande economia net zero até 2030, diz Systemiq 
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Ao longo dos próximos oito anos, o Brasil tem potencial para se tornar a primeira grande economia a se tornar net zero enquanto impulsiona o crescimento econômico. 

Se abraçar as oportunidades de soluções baseadas na natureza, o Produto Interno Bruto (PIB) do país poderia crescer entre US$ 100 e US$ 150 bilhões por ano, estima a Systemiq.

Cofundador da consultoria que busca resolver problemas sistêmicos e com passagem pelo Banco Mundial, Jeremy Oppenheim defende que é possível combinar uma guinada econômica com oportunidades reais. 

“Isso está ligado à restauração do bom uso da terra em toda a economia e ao Brasil se tornar a primeira economia net zero do mundo até 2030. Não porque esse é um ato moral ou porque é uma coisa boa de se fazer para todos, mas porque está profundamente enraizado no interesse econômico e social do Brasil”, disse durante o evento Cidadão Global, promovido pelo Santander e pelo Valor Econômico. 

O Brasil já está dando alguns passos necessários para uma economia de baixo carbono, mas não na velocidade e escala que a oportunidade merece, afirmou Oppenheim. 

“Infelizmente tem tido uma taxa de crescimento lenta, e de uma forma muito intensiva em recursos e com muito desperdício. Essa nunca foi uma combinação particularmente atrativa, mas certamente não é uma fórmula vencedora para o futuro”. 

O caminho

O economista é um dos autores da “Maratona da Amazônia”, relatório preparado pela Systemiq e AYA Earth sobre como a liderança para uma economia de baixo carbono pode vir da Amazônia. 

O material aponta cinco ativos do Brasil que nos colocam à frente num mundo em transição energética: 

  • Uma matriz energética com mais de 75% de energia vinda de fontes renováveis;
  • Uma grande extensão de floresta em pé, que é um “tesouro” para a bioeconomia; 
  • 80 milhões de hectares de pastos degradados que podem ser restaurados para voltarem a ser produtivos; 
  • Conhecimento em bioenergia e agricultura sustentável; e
  • Minerais e metais necessários para a transição mundial para o net zero a baixo custo. 

A estratégia foca em melhorias de produtividade nos setores de alimentos e uso da terra e descarbonização para as áreas de energia e indústria, com um investimento total de US$ 35 bilhões a US$ 76 bilhões por ano. O potencial de valor agregado é estimado em US$ 100 bilhões a US$ 153 bilhões ao PIB por ano, reduzindo as emissões em  1,3 Gt de CO2 até 2030. 

Para realizar seu potencial, a consultoria defende que o Brasil precisa restabelecer o cumprimento da lei e dos mecanismos de comando e controle, fortalecendo as instituições, e desenvolver a infraestrutura financeira necessária para fazer os investimentos nessa agenda. 

Outro ponto crítico é fomentar a colaboração por meio de coalizões para posicionar o Hemisfério Sul como um impulsionador e ditador de tendências nessa agenda. 

Cobrança aos bancos 

Em painel com a CEO do Pacto Global das Nações Unidas, Sanda Ojiambo, Oppenheim defendeu que a chamada agenda ESG é, na verdade, um debate de visão estratégica sobre a economia. 

“Se tivermos sucesso, minha forte convicção é que só o faremos se mudarmos essa mentalidade sobre como criar valor econômico no coração da construção de uma nova economia, melhor, mais competitiva e produtiva”. 

Ao lado da vice-presidente executiva institucional do Santander, Maitê Leite, e do advogado Ronaldo Lemos, o cofundador da Systemiq defendeu que bancos passem a determinar métricas sustentáveis como critérios para repasse de verbas. “Sei que não é fácil, porque o vizinho não está fazendo o mesmo”.  

É necessário, diz ele, que os cinco grandes bancos do Brasil se reúnam e estabeleçam tais diretrizes para as grandes empresas e pensem não isso ‘como uma história de ESG’, mas de gerenciamento de risco. 

“Sei que não é simples como estou dizendo. Você vai me dar cinco razões pelas quais esse é um desafio, mas vou sentar para trabalhar com vocês dia a dia no tema”, afirmou, referindo-se a Leite, do Santander.