BlaO investe US$ 10 milhões na Solinftec, a inteligência artificial do campo

Startup baseada em Araçatuba (SP) lança robô autônomo capaz de fazer monitoramento planta a planta nas lavouras e mira série C de US$ 100 milhões

O robô de monitoramento de plantações Solix, desenvolvido pela Solinftec
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A gestora Blue Like an Orange (BlaO) está investindo US$ 10 milhões na startup Solinftec, que faz uso de inteligência artificial para aumentar a eficiência no campo e que acaba de lançar um robô autônomo capaz de fazer o monitoramento planta a planta nas lavouras. 

É a segunda gestora com viés de impacto socioambiental a entrar no capital da companhia. O aporte faz parte de uma rodada de US$ 60 milhões anunciada no começo de maio, liderada pela gestora americana Lightsmith, que tem foco exclusivo em soluções de mitigação e adaptação climática. 

O capital, injetado na forma de debêntures conversíveis em ações, é a ponte para uma rodada série C, que está sendo lançada neste segundo semestre e que deve levantar mais US$ 100 milhões. A Unbox Capital, da família Trajano, e o TPG Group também são investidores da companhia, que tem sede em Araçatuba (SP). 

“Uma agricultura mais sustentável é crucial tanto para a questão das mudanças climáticas quanto para garantir a segurança alimentar de uma população em crescimento”, diz Cristina Penteado, diretora da BlaO para o Brasil. 

Num momento de forte aversão ao risco em todo o mundo, a gestora segue ativa no seu portfólio na América Latina e engatilhou uma série de aportes no primeiro semestre deste ano, da rede de ensino acessível Decisão, à Tembici, de bicicletas elétricas (conhecida pelas bikes laranjinhas do Itaú).

A inteligência nas fazendas

Fundada em 2007 pelo cubano radicado no Brasil Britaldo Hernandez, a Solinftec já cobre 85% da área plantada com cana-de-açúcar no Brasil e tem forte presença nas culturas de grãos, além de estar presente nos Estados Unidos, Canadá e 14 países da América Latina. 

Com uma solução completa, que engloba hardware e software, a empresa instala sensores ao longo de todo o processo produtivo nas fazendas, desde as máquinas utilizadas para plantio, aplicação de pesticidas e colheitadeiras até estações meteorológicas, além de fazer uso de imagens de satélite. 

Além de atuar como uma espécie de SAP das fazendas, dando uma visão completa do que está acontecendo na produção em tempo real, uma inteligência artificial, batizada de Alice, analisa os dados gerados no processo, dá recomendações e automatiza processos. 

A ideia é utilizar menos recursos – gerando economia e menos impacto ambiental. 

Um exemplo das soluções é a gestão da dança das máquinas necessárias para fazer a colheita. “Quando começamos a trabalhar com a indústria da cana, percebemos em 50%, 60% do tempo as máquinas estavam paradas, tinha muita ineficiência”, explica Laís Brado, diretora financeira da Solinftec. 

“Hoje temos uma solução que orquestra toda essa logística de caminhões, transbordos e colheitadeiras para que elas se encaixem dentro da fazenda, em tempos e movimentos, de forma a otimizar o tempo de trabalho das máquinas”. 

O resultado é menos máquinas por hectare e uma redução no consumo de combustível. 

Os olhos da IA 

Os recursos captados na última rodada vão dar fôlego à mais nova empreitada da Solinftec: o Solix, um robô autônomo que faz o monitoramento das lavouras, planta a planta, servindo quase como “os olhos da inteligência artificial”. 

Guiado pela IA e abastecido por energia solar, o dispositivo consegue caminhar pelas lavouras avaliando a saúde de cada planta – permitindo o descobrimento de pragas ainda em estágio inicial e, consequentemente, o controle mais rápido e com menor utilização de defensivos.

“Nós acreditamos que é um ‘game changer’ no setor porque ele permite trazer um dado agronômico que hoje você não tem em escala no campo”, afirma Braido. “Geralmente é um agrônomo que vai lá e olha se precisa de mais fertilizante, não é um dado estatisticamente relevante”. 

A previsão da empresa é que, com o novo ecossistema, a redução do uso de insumos químicos nas lavouras possa chegar a 30%, no caso de defensivos e fertilizantes, e de até 70% quanto aos inseticidas. 

Outra vantagem do robô é que ele evita a chamada ‘compactação’ do solo, que ocorre quando, grosso modo, máquinas pesadas acabam endurecendo a terra, que passa a precisar de preparo. Além de ser um processo caro, ao revolver o solo, libera-se o carbono que tinha sido sequestrado pelas plantas, jogando CO2 na atmosfera. 

“O Solix traça mapas com base nas condições de cada planta, o que viabiliza o uso de máquinas menores para pulverizar apenas as áreas necessárias”, conta Braido. 

Do Brasil para o mundo 

Outra estratégia da Solinftec é aumentar sua presença internacional. 

Com um modelo baseado em assinatura, com receita recorrente e contratos longos, de cinco anos em média, a Solinftec já tem um faturamento anual contratado de R$ 200 milhões. Desse total, hoje 10% vêm dos Estados Unidos, onde a companhia atua com grandes cooperativas, como a Growmark. 

“A gente sempre costuma pensar no mercado americano como mais avançado que o do Brasil, mas, no caso do agro, o Brasil tem muito a exportar”, afirma Penteado, gestora do BlaO. “As soluções da Solinftec são de classe mundial e por isso têm um potencial muito grande de escala.” 

O novo robô também deve ajudar nessa expansão. 

Ao contrário do Brasil, dominado por grandes grupos produtores das principais commodities, o mercado americano é mais pulverizado, baseado em propriedades menores e agricultura familiar. 

“Justamente por ser um mercado muito fragmentado, muitos fazendeiros têm pouco capital para comprar grandes máquinas e instalar recursos que, para eles, hoje são caros. O Solix é uma solução mais democrática”, aponta Braido. 

Segundo a empresa, o Solix custa o equivalente “a um carro popular” e tem uma mensalidade, que varia por hectares. O robô, capaz de monitorar 200 ha, foi lançado em esquema de pré-venda no Agrishow, principal evento do setor agrícola do Brasil, num esquema de pré-venda e chega aos campos em setembro. 

“Os compradores das unidades que vendemos na pré-venda variavam de fazendas de 100 a até 60 mil hectares”, diz a CFO.