BC europeu alerta: maioria dos bancos ainda não tem estratégias climáticas

Análise do regulador europeu aponta que ainda falta muito para que as instituições entendam os riscos e tenham planos de adaptação

BC europeu alerta: maioria dos bancos ainda não tem estratégias climáticas
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O Banco Central Europeu emitiu um alerta: ainda falta muito para que os bancos sob sua supervisão direta estejam prontos para lidar com os riscos da mudança climática.

Nenhuma das 112 instituições, cujos ativos somam 24 trilhões de euros, “está perto de alinhar completamente suas práticas com as expectativas de supervisão”, diz a análise publicada nesta segunda-feira.

O BCE publicou há um ano uma lista de 13 metas para a inclusão de riscos climáticos e ambientais em modelos de negócio, estratégias, governança e apetite por risco.

“Somente um terço dos bancos tem planos implementados que são pelo menos adequados de maneira geral, e metade não terá terminado a implementação de seus planos até o fim de 2022”, afirma o BCE.

No primeiro semestre do ano que vem, o regulador vai fazer um teste de estresse das instituições financeiras, levando em conta o impacto da mudança climática em suas carteiras de empréstimo e também em suas operações de ‘trading’.

A movimentação europeia é acompanhada de perto no mundo todo, pois o BCE é pioneiro nesse novo tipo de exigência regulatória. O Banco Central do Brasil pretende fazer um teste semelhante em 2022.

“As instituições começaram o trabalho, mas o avanço continua lento na maior parte dos casos”, diz a análise do BCE. Cerca de um quinto dos bancos não terão medidas implementadas no curto prazo e estarão especialmente vulneráveis aos riscos associados à mudança climática.

O BCE afirma que os riscos climáticos devem ser encarados como “qualquer outro risco material” e, portanto, precisam ser parte do DNA das instituições financeiras.

O regulador também diz apoiar uma legislação proposta pela Comissão Europeia (o órgão executivo da UE) que obrigaria os bancos a se adequar aos compromissos climáticos assumidos pelo bloco.

“Eles deveriam ser parte da estratégia dos bancos e estar intimamente ligados aos modelos e planos de negócios”, afirmou Frank Elderson, integrante do comitê executivo do BCE.

“Somente uma pequena porção [dos bancos] menciona planos de guiar seus portfólios numa direção compatível com [os objetivos do Acordo de] Paris.”

Isso pode significar, por exemplo, restrições para negócios que envolvam setores muito poluentes ou que não tenham um horizonte claro de transição para a neutralidade de emissões.

Embora ainda não haja nenhuma decisão regulatória a respeito, a expectativa é que o nível de risco climático seja refletido nas exigências de capital das instituições em algum momento.

Regra anti-greenwashing

Além das notícias de Frankfurt, a sede do BCE, outra notícia vinda de Bruxelas também aponta na direção da dificuldade do mercado financeiro em implantar o chip da sustentabilidade.

A Comissão Europeia deve adiar a publicação de seu pacote anti-greenwashing para a indústria dos fundos. As regras, que vão estabelecer o que pode ser chamado de sustentável pelos gestores, só devem ser publicadas no final de 2022, noticiou a Bloomberg, citando uma fonte a par to assunto. A previsão era que elas saíssem em meados do ano que vem.

A UE anunciou em março uma regulação inicial, mas ainda falta definir alguns padrões técnicos. Dificuldades práticas são inevitáveis em “novas áreas”, afirmou Verena Ross, responsável pelo órgão europeu que regula mercados.