B3 ainda avalia exclusão da Americanas de Índice de Sustentabilidade

Companhia envolvida em escândalo contábil obteve a 12ª mais alta pontuação de um total de 70 empresas no ISE; governança era 'destaque'

Fachada de unidade das Lojas Americanas em shopping center
A A
A A

A B3 colocou as Lojas Americanas sob revisão em seu Índice de Sustentabilidade – e deve se pronunciar até 28 de janeiro sobre a exclusão ou não da ação da carteira que em teoria seleciona os campeões de “sustentabilidade empresarial”.

A Americanas, que anunciou um rombo de R$ 20 bilhões no balanço, era o 12º papel com melhor pontuação em aspectos ambientais, sociais e de governança entre os 70 que compõem a carteira do ISE em 2023. 

Ironicamente, a maior pontuação da Americanas era justamente em “governança corporativa e alta gestão”, com uma nota de 91,79 de um total de 100 pontos. 

A companhia já fazia parte do índice no ano passado, na 26ª posição de um total de 47 papéis.

“A B3 está levantando todas as informações disponíveis e avaliando os impactos no ISE”, disse a B3 em nota ao Reset

De acordo com um fluxo de “plano de resposta” presente na metodologia do índice, a bolsa tem até um dia útil para avaliar se grandes eventos adversos ferem seus princípios e pedir mais informações sobre o ocorrido. 

A partir de então tem outros 15 dias corridos para avaliar se a empresa será excluída ou não do índice. O grupo de trabalho que fará a avaliação é formado por executivos da bolsa. 

Segundo informações presentes na plataforma ESG Workspace, que concentra dados de todas as participantes do índice, o plano de resposta foi acionado em seguida ao fato relevante da Americanas divulgado na noite do dia 11. A bolsa informou que o prazo de 15 dias para avaliar o caso começou a correr no dia 13.

Resposta tempestiva?

Lançado em 2005, o Índice de Sustentabilidade da B3 passou por uma ampla reformulação, que se encerrou no fim de 2021 com o intuito de deixá-lo mais robusto. 

Uma das críticas era a falta de tempestividade da bolsa para reagir a grandes crises ESG deflagradas em empresas que faziam parte do índice – o que incluiu a falta de reação em escândalos de corrupção de companhias implicadas na Lava-Jato. 

O novo plano de resposta faz parte da nova metodologia. 

Na história recente, a única empresa a ser excluída do ISE por grandes desastres ESG foi a Vale, que saiu da carteira em 12 de fevereiro de 2019, 17 dias após o rompimento da barragem de Brumadinho. 

Passados cinco dias do anúncio do rombo na Americanas, a ação já perdeu mais de 80% de seu valor de mercado. 

Nota alta em governança

No primeiro grande teste de estresse depois da vigência da nova metodologia, as pontuações do ISE falharam em dar pistas sobre o escândalo que se avizinhava. 

O episódio escancara a limitação de questionários e scores para avaliação de questões de governança e socioambientais e coloca a B3 no rol de atores para os quais as falhas de controle na varejista ficaram fora do radar, como auditores, agências de rating e os próprios bancos credores. 

O índice é baseado num questionário respondido pelas próprias empresas e que engloba outras cinco dimensões, além da governança: capital humano, modelo de negócios e inovação, capital social, meio ambiente e mudança do clima.