A nova roupa da Cesp? Votorantim e CPP unem ativos de energia e querem levar gigante de renováveis à bolsa

Listagem do novo grupo, que somará R$ 5,8 bilhões em receita, acontecerá por meio da incorporação da antiga estatal paulista

A nova roupa da Cesp? Votorantim e CPP unem ativos de energia e querem levar gigante de renováveis à bolsa
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A Votorantim e o fundo de pensão canadense CPP estão consolidando seus ativos de energia no Brasil, numa operação que deve criar uma das maiores companhias de energia renovável do país. O plano é levá-la à bolsa, por meio da incorporação da Cesp, já listada. 

Os dois sócios investem juntos em energia no país há quatro anos e são donos da antiga estatal paulista, que foi vendida para uma joint venture controlada por ambas as companhias em 2018. Agora, estão unindo todas as suas operações no setor. 

A consolidação — que resultará numa empresa com capacidade de geração de 3,3 GW e receita de R$ 5,8 bilhões em 2020 — se dará em duas etapas. 

Na primeira, a joint venture VRTM, que já tem o controle da Cesp e parques eólicos, vai passar a incorporar também as participações acionárias da Votorantim Energia em ativos hidrelétricos, além da Votener, comercializadora de energia do grupo — a segunda maior do país —, e projetos em desenvolvimento. 

A CPP vai entrar com um aporte de R$ 1,5 bilhão no negócio, da qual a Votorantim terá 54% nesta etapa e o fundo canadense 46%.

A segunda etapa diz respeito à incorporação da Cesp.  A ideia é que, ao fim do processo de consolidação, a nova empresa seja controladora integral da Cesp e os atuais acionistas da ex-estatal paulista recebam ações da nova empresa.

Hoje, a Cesp é listada no nível I da B3, com ações ordinárias e preferenciais. A proposta é que, após a incorporação, a nova empresa seja listada no Novo Mercado, segmento de listagem com padrões mais rígidos de governança e que permite apenas a existência de ações com direito a voto. 

Nos moldes apresentados, a Votorantim passaria a ter 38% do capital da nova companhia, o CPP ficaria com 32,1% e os minoritários de Cesp, pulverizados no mercado, deteriam os 29,9% restantes, disse o presidente da Votorantim Energia, Fabio Zanfelice, ao Valor.

Hoje, a Cesp vale R$ 8 bi na bolsa.

Atualmente, a VTRM é dona de 40% do capital total da companhia, participação resultante dos 95,3% de ações de controle e dos 13,7% de papéis preferenciais.

Como se trata de incorporação de uma controlada pela controladora, a proposta será avaliada por um comitê independente para fazer uma avaliação imparcial dos ativos e determinar as relações de troca.

Os ativos da nova empresa  

A nova empresa terá receita líquida estimada em R$ 5,8 bilhões, com base nos resultados de 2020, e 3,3 GW em projetos de geração — praticamente o dobro da Cesp.  

Desses, 2,3 GW serão de fontes hidrelétricas e 1 GW de eólicas (compostos por 0,6 GW de ativos em operação e 0,4 GW de projetos com entrada em operação prevista entre maio e novembro de 2022). 

A empresa terá mais 1,9 GW em projetos em desenvolvimento, combinando fontes hídrica e solar, bem como soluções híbridas. 

“A empresa terá solidez financeira e o comprometimento dos acionistas para o longo prazo, criando múltiplas alternativas para o crescimento tanto de forma orgânica quanto por meio de ativos em operação ou projetos em construção”, disse a Votorantim em nota. 

O que fica de fora

A Votorantim e o CPP manterão um veículo privado com foco no processo de transição energética, cujo objetivo será investir em oportunidades em estágio inicial de maturação. 

Isso inclui, de acordo com as empresas, novas soluções e tecnologias voltadas para a descarbonização da matriz energética e de processos industriais e vai englobar tanto novos modelos de negócios e parcerias, como o desenvolvimento de projetos de geração eólica e solar em estágio inicial. 

Como parte do processo de reorganização, as outras empresas da Votorantim  — CBA, de alumínio, Votorantim Cimentos e a mineradora Nexa Resources — assumirão a gestão de seus ativos de autoprodução de energia que atualmente estão sob administração da Votorantim Energia. A transição ocorrerá até o final de 2021.