A conta do clima extremo do primeiro semestre: US$ 65 bi

A cifra, estimada pela resseguradora Munich Re, ainda não inclui a onda de calor histórica na Europa – nem o custo de adaptação para um planeta sujeito a eventos climáticos cada vez mais perigosos

A conta do clima extremo do primeiro semestre: US$ 65 bi
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Os eventos climáticos extremos deste ano já causaram perdas de US$ 65 bilhões, segundo a resseguradora alemã Munich Re, e a conta ainda não inclui os efeitos da onda de calor que atingiu a Europa e os Estados Unidos nas últimas semanas.

No ano passado, catástrofes naturais totalizaram prejuízos de US$ 280 bilhões, muitas delas com relação direta com o aumento da temperatura global.

Em 2022, as manifestações concretas da mudança do clima continuam sendo registradas no mundo todo – chuvas recordes na Austrália e no Paquistão, incêndios florestais em Portugal, na Espanha e na Itália.

“Podem ser eventos separados, com causas diferentes, mas, tomados como um todo, uma coisa está ficando muito clara: a influência da mudança climática é cada vez mais evidente”, afirmou o cientista-chefe de clima da Munich Re, Ernst Rauch.

O impacto do calor extremo que atingiu alguns países europeus só será incluído na conta quando forem divulgados os dados do segundo semestre.

Individualmente, o evento com o maior custo financeiro registrado no ano até aqui foram as enchentes na Austrália, ainda segundo a companhia alemã.

Nos quatro primeiros dias de julho, a chuva acumulada em Sydney  (700 mm) se equiparou à quantidade registrada em um mês e meio – e a toda chuva que cai sobre Londres num ano inteiro.

Só na primeira metade do ano os prejuízos causados pela chuva no país superaram totais registrados ao longo de anos inteiros no passado.

Adaptação climática

A conta da mudança do clima já chegou e vai muito além dos danos materiais imediatos.

No Reino Unido, os termômetros marcaram mais de 40 graus pela primeira vez na história. Partes críticas da infraestrutura, como ferrovias e estradas, não foram planejadas para lidar com temperaturas tão altas por períodos prolongados.

O serviço de alguns trens foi interrompido e o aeroporto de Luton, na região de Londres, teve de fechar uma das pistas porque o asfalto começou a ceder.

Alguns já começam a estimar o custo de atualizar estradas de ferro e rodovias para um planeta mais quente. “Décadas para substituir tudo”, afirmou o ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps, quando questionado sobre o prazo para fazer adaptações dessa magnitude.

“É um processo longo de substituição e melhorias para que os sistemas suportem temperaturas muito mais altas ou muito mais baixas do que estamos acostumados.”

Um estudo de 2019 mencionado pelo jornal The Guardian estima que a temperatura média de Manchester será 6,2 graus Celsius mais alta no verão em 2050.

Além de obras complexas e caríssimas em ferrovias e rodovias, intervenções mais prosaicas como pintar telhados de cores claras e plantar árvores nas ruas podem aumentar a sensação de conforto — e evitar mortes causadas pelo calor intenso.

Enchentes na China

As consequências da mudança do clima também preocupam as autoridades da China, o segundo maior emissor de gases de efeito-estufa do mundo, depois dos Estados Unidos.

Um estudo publicado na revista científica Natural Hazards and Earth System Sciences estimou os potenciais prejuízos econômicos e sociais causados por enchentes.

O paper calculou os riscos levando em conta dois cenários. No primeiro, caso o aumento da temperatura global seja limitado a 1,5°C acima do período pré-industrial, as chuvas mais intensas causariam prejuízos de cerca de US$ 70 bilhões ao ano.

Caso a temperatura suba 2°C — um aumento significativo e perigoso, segundo os cientistas, e para o qual o mundo caminha se não intensificar o ritmo de descarbonização — os danos econômicos dobrariam.

Há um ano, a cidade de Zhengzhou, com 12 milhões de habitantes, recebeu em três dias o equivalente a quase um ano de chuvas. Quase 400 pessoas morreram. 

Na província de Henan, mais de 50 mil residências foram destruídas, e 1,4 milhão de habitantes tiveram de ser evacuados de suas casas.